Blog do Paulo Ruch

Cinema, Moda, Teatro, TV e… algo mais.

,,
Foto: Divulgação/TV Globo

Copa do Mundo da França de 1998. Noite. Vitória do Brasil. Comemoração nas ruas. Encontro em meio ao mar de gente um amigo. Acreditem. Ele havia acabado de conhecer o neto de Zilka Salaberry, uma de nossas grandes intérpretes que faz parte do imaginário de toda uma geração que a acompanhou por anos como a adorável Dona Benta, personagem de Monteiro Lobato, em “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”. A princípio, duvidei da veracidade da situação. No meu juízo, poderia ser somente uma brincadeira de festa. Foi aí que o neto para me provar o legítimo parentesco, mostrou-me a sua carteira de identidade. E lá estava bem visível o sobrenome Salaberry. Fiquei alegre em apenas dialogar com alguém tão próximo de uma senhora que um dia todos nós desejamos ter como avó. Uma avó que se sentava em sua indefectível cadeira de balanço, e tendo ao redor seus netos, a cozinheira, o boneco feito de espiga de milho, e uma boneca de pano narrava as mais incríveis histórias. Tudo isso com direito às pipocas preparadas pela querida Tia Nastácia, interpretada brilhantemente por Jacyra Sampaio. Porém, o que lhes conto não parou na amostra da carteira de identidade. O neto, bastante gentil e orgulhoso de quem era a sua avó, perguntou-me se queria falar com ela ao telefone. Em segundos, exclamei esfuziante algo como: – Claro!. Ele ligou, e me deu o aparelho. No turbilhão de vozes dissonantes próprias de um aglomerado de pessoas eufóricas, consegui ouvir o “alô” doce e inesquecível de Dona Benta, quer dizer, Zilka Salaberry. Foi amável por aqueles poucos minutos em que pude expressar todas as minhas sinceridade e admiração. Evidente que lhe falei que estava com o seu neto ao meu lado. E aproveitei para lhe dizer que era uma de nossas maiores atrizes, e não uma artista de um papel só. Tomado por emoção e certa dose de nervosismo, citei outras admiráveis atuações de sua notável e prolífica carreira, como na minissérie “Memórias de Um Gigolô”, e como a cigana de “O Outro”. Com a humildade que só existe nos grandes, disse-me: – Muito obrigada. Ao chegar em casa, a primeira coisa que disse à minha mãe foi: – Eu falei com a Dona Benta!. E Dona Benta foi assunto para toda uma madrugada. A avó do seriado infantil foi sim a personagem que tornou Zilka popular e amada em todo o país, todavia como não se lembrar da Sinhana , a mãe dos “irmãos coragem”, na novela homônima de Janete Clair? E a Donana Medrado, a delegada severa de “O Bem Amado”, de Dias Gomes? Quanto ao início de sua trajetória artística, deu-se ao se casar com o também ator Mario Salaberry. A estreia da irmã da também atriz Lourdes Mayer ocorreu no Teatro Municipal de Niterói. Ingressou em tempos distintos em duas das mais conceituadas companhias de teatro brasileiras. A pertencente a Procópio Ferreira e a outra a Dulcina de Moraes. Na televisão, a primeira emissora na qual trabalhou foi a TV Tupi. Esteve no famoso programa dedicado às crianças “Teatrinho Trol”, e antes disso estreou no folhetim “A Canção de Bernardete”. Passou também pela TV Rio. Na Rede Globo, começou em “A Rainha Louca”. E a partir daí, não parou mais. Foram inúmeras novelas, tais como “A Ponte dos Suspiros”, “Véu de Noiva”, “O Bofe”, “Supermanoela”, “Corrida do Ouro” (Gilberto Braga estreando como autor deste gênero da teledramaturgia), “O Casarão”, “Araponga” (produção em que personificava Dona Marocas, a mãe que mimava o filho adulto a ponto de niná-lo em seu colo; o filho foi defendido por um divertidíssimo Tarcísio Meira). Já nas minisséries, marcou presença em “O Primo Basílio”, Tereza Batista” e “Engraçadinha… Seus Amores e Seus Pecados”. Fez alguns seriados além do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. A Pandora de “Pluft, o Fantasminha”, de Maria Clara Machado, foi memorável. Ainda mais por ter contracenado com Dirce Migliaccio, que era o Pluft. Não dá para se esquecer. No teatro, dramaturgos reconhecidos foram por ela encenados, como William Somerset Maughan (“Adorável Júlia”), Arthur Azevedo (“O Mambembe”), George Feydeau (“Com a Pulga Atrás da Orelha”) e Nelson Rodrigues (“Beijo no Asfalto), dentre outros espetáculos. No cinema, trabalhou com o pioneiro desta arte no Brasil, Humberto Mauro, em “Cidade-Mulher”. Chegou a participar de filmes com a apresentadora Xuxa, tais como “Xuxa e os Duendes” e “Xuxa e os Duendes 2 – No Caminho das Fadas”. Como podem ver, não foi pouca coisa conversar com esta maravilhosa atriz. Claro que fiquei triste porque a seleção brasileira não venceu aquela longínqua Copa, mas em compensação eu levantei a taça da vitória por falar ao telefone com a minha, a nossa Dona Benta.

2 comentários sobre ““A Noite em que Falei com Dona Benta ao Telefone.”

  1. Ana Cláudia disse:

    Aaaaaaaaammmmmoooooooo a Dona Benta. Fico feliz por vc ter falado com ela. Ela nos remete a inocência da infância! Q delícia!!!
    Bjos Paulo.
    Ps. Estive com suas primas Graziella e Patricia em Madri!

    Curtir

    1. pauloruch disse:

      Oi, Ana! Que surpresa. Só ontem vi o seu comentário. Que bom que gostou de saber da história que contei. Bacana ter encontrado Patrícia e Graziella em Madri. Um beijo enorme!

      Curtir

Deixe um comentário