
Ela, como Carmem, ao entrar na novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, começou devagarzinho. Uma bonita e simpática senhora de bem com a vida. Quer dizer, procurava estar de bem com a vida, pois havia passado por vicissitudes que a deixaram só no mundo. Refez-se, e seguia em frente. Dava as suas caminhadas pelo calçadão de Copacabana, tomava água de coco, conversava com a amiga Sueli (Louise Cardoso). E para aplacar a solitude, recorria a rapazes profissionais. Era mulher por assim dizer “desencanada” neste campo. Tudo virou ao conhecer Léo (Gabriel Braga Nunes). É aquela velha história. Temos um cotidiano traçado, e surge um alguém que modifica este cotidiano traçado. Para o bem, ou para o mal. Carmem, como Norma (Glória Pires), seres femininos com baixa autoestima, são alvos fáceis para seres masculinos como Léo. Ao contrário do que fez com Norma, o golpe a ser aplicado na personagem de Nívea demandaria mais tempo, e confiança dela. Mesmo porque aquele seria de proporções maiores. Então, foram várias noites de amor falsas, declarações de amor falsas, sorrisos falsos, e tudo o que de melhor se encaixar naquilo que entendemos por falsidade. A hora da falcatrua dá-se. O cúmplice Tonico/Marcondes a postos (Luca de Castro, experiente ator e diretor pai de Carol Castro). Só que quem também está a postos é Sueli. Sueli que entra em contato com o advogado do Grupo Drumond Nelson (Edson Fieschi, competente intérprete que estreou em “Vale Tudo”). O rapaz desvenda a armadilha. Sueli avisa à amiga. Esta entra em estado de choque. Polícia é acionada. Confusão. Léo e Carmem brigam pela bolsa com o dinheiro da discórdia. Ao ser aberta pela força da disputa, cédulas voam pelos ares, do mesmo modo que o plano de Leonardo. A querida Nívea sai de cena com dever cumprido. Dever que só uma ótima atriz como ela sabe cumprir. Nívea Maria (que fora Regina em “Aquele Beijo”) é artista nascida em São Paulo com carreira respeitável, com tantos papéis inesquecíveis, que podemos citar apenas alguns, sem que se desmereçam os demais. Vamos a eles: a Jerusa de “Gabriela” (1975), a Carolina de “A Moreninha” (1975), a Rosália de “Dona Xepa” (1977), as Maria Alves/Maria Dusá de “Maria, Maria” (1978), a Beatriz de “Anos Dourados” (1986), a Berenice de “Meu Bem Meu Mal” (1990), a Augusta de “A Justiceira” (1997), a Edna de “O Clone” (2001), a D. Maria Gonçalves de “A Casa das Sete Mulheres” (2003), a Mazé de “América” (2005), a Kochi de “Caminho das Índias” (2009), e a Margarida de “A Cura” (2010). Haveria bastante o que mencionar ainda. Concluo que, face a tudo isto, pensando em Nívea, poderia haver nos créditos de abertura de um folhetim o seguinte escrito: “Participação Especialíssima de…”