Clarice, personagem de Ana Beatriz Nogueira em “Insensato Coração”, de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, com sua habitual fleuma, está no jardim. A governanta Lídia (Andréa Dantas) chega com encomenda. Uma encomenda indesejada. Trata-se de DVD. Não um DVD qualquer. O DVD da traição. Clarice ao vê-lo, desespera-se. Quebra o que está à frente. Aquela fleuma que lhes falei não existe mais. Clarice é outra mulher. Uma mulher despedaçada que quer se vingar. Uma mulher que ouviu que sua companhia “é boa para os negócios”. Uma mulher que ouviu o seu marido dizer que ama outra mulher como nunca amou outra. Desorientada, ruma para o lindo jardim de uma linda casa de um casamento feio. Mergulha em uma linda piscina. Molhada, cabelos molhados, sai em busca frenética dos documentos que possam incriminar o marido que a fez mergulhar na linda piscina. Tudo está em trancada gaveta. Falta a chave. A esta altura, não será simples chave que irá deter a fúria de mulher que perdera a fleuma que a fazia cuidar do lindo jardim. Clarice sai de sua pacata vida, com alguns eventos sociais, e se percebe em jornada ensandecida de purificação da própria dignidade. Em tempo curto, cópias daquilo que Cortez (Herson Capri) esconde são tiradas. E entregues ao homem da lei. Ela sabe que está se vingando. Não entende muito bem como, mas sabe. Há momento de beleza que só poderia vir de boa mãe que foge aos fatos sombrios que se sucedem: Clarice pega o porta-retrato com Rafa (Jonatas Faro) e o coloca na bolsa. Só uma boa mãe, em meio ao caos do desespero, seria capaz de ato assim. Busca refúgio na casa de Vitória (Nathália Timberg). Desabafa, brada, afirma que se vingou. Cortez aparece na mansão. O capítulo terminou. Os textos decorados foram ditos. Os refletores se apagaram. Os diretores ficaram satisfeitos, e foram embora para casa, ou dirigir outra cena. Mas uma coisa ficou. O brilho de uma atriz. O brilho de Ana Beatriz Nogueira.