Jorginho (Cauã Reymond, bem no papel), em “Avenida Brasil”, de João Emanuel Carneiro, nunca se esqueceu de seu passado no lixão. Lá, fora abandonado por seus pais legítimos Carmen e Max (Adriana Esteves e Marcello Novaes, respectivamente), e passou a ser criado por Lucinda (Vera Holtz), a quem todas as crianças por ela amparadas chamam de mãe. Até conhecer o amor de infância, Rita (Mel Maia). Amor que rompeu as barreiras do tempo. Rita e Batata (Bernardo Simões), como era chamado, foram obrigados a se separar pelas contingências. Cada um tomou o seu rumo. A menina fora adotada por pais argentinos. E Batata/Jorginho foi para a casa da sua verdadeira mãe, já casada com outro homem, porém tendo perto de si aquele com quem tivera o filho. Por intuição ou algo parecido, Jorginho nunca gostou dos pais biológicos. Entretanto, nutre enormes carinho e amor pelo pai adotivo Tufão (Murilo Benício). Com a chegada de Nina (Débora Falabella) à mansão para trabalhar como chef de cozinha, o antigo namorado sem saber de nada sente por ela súbita simpatia. Jorginho, excetuando o fato de possuir vida desregrada como jogador de futebol, mantinha relacionamento sólido, sincero e estável com Débora (Nathalia Dill), uma rica moça que se dedica à acrobacia com panos, e que não se importava nem um pouco com as diferenças culturais entre ambos. O rapaz gostava tanto dela que chegou ao ponto de lhe pedir em casamento. Só que a real identidade de Nina lhe é revelada, e tudo muda de figura. As boas lembranças do passado voltam com força descomunal, e o atleta inicia uma pressão para que seu antigo amor abandone tudo, e fique com ele. Lucinda aprova. Nina reluta até onde pode. Decidem ficar juntos. Por influência dele, pede demissão do emprego, e resolvem fazer viagem. Todavia, Nina ao descobrir que Max colaborou para que Tufão fosse roubado em R$20.000,00, viu que não haveria chance de abandonar o plano de vingança original, até mesmo para preservar a outra parte da família de Jorginho. No aeroporto, termina com ele. Este, tomado por grande decepção, afoga-se na bebida. E perambula sem destino pelas ruas. Cai, desfalece, e pertences lhe são subtraídos. Levanta-se tonto, sonâmbulo, e ao passar em frente a uma casa com balanço de brinquedo velho, surge-lhe visão. Algo embaçado, longínquo. Em cena dirigida com competência e certo lirismo, Jorginho balbucia: “Mãe…”. Tempo depois: “Pai…”. As imagens desbotadas mostravam Carminha e Max empurrando aquela criança que se divertia no balanço com o seu par de sandálias “felizes”. Ao saber de toda a verdade, as sandálias “felizes” serão chuteiras “tristes”.