Blog do Paulo Ruch

Cinema, Moda, Teatro, TV e… algo mais.

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Foto/Divulgação

As filmagens coordenadas pelo diretor irlandês Steve Barron (que tem no currículo longas-metragens como “The Adventures of Pinocchio”, em que estão Martin Landau e Geneviève Bujold; “Coneheads”, com Dan Aykroyd, Adam Sandler e Ellen Degeneres; “Teenage Mutant Ninja Turtles”, com Elias Koteas (“As Tartarugas Ninja”); e clipes de Michael Jackson (“Billie Jean”), A-ha (“Take On Me”), e Dire Straits (“Money for Nothing”) foram realizadas em um dos mais míticos e representativos hotéis cinco estrelas do Rio de Janeiro, local onde já se hospedaram celebridades, reis e chefes de Estado. Hotel que ostenta suntuosa arquitetura neoclássica. Uma já não mais amiga me indicou para uma agência de elenco, pois precisavam de um ator com o meu “physique du rôle”. Ora, nunca havia pensado em trabalhar num filme inglês. O Reino Unido, do qual a Inglaterra é integrante nos deu exímios cineastas como Alfred Hitchcock, David Lean, Danny Boyle, John Boorman, Ken Loach e Jim Sheridan. Então, estar em produção britânica me era honra não discutível. No raiar do dia, fui um dos primeiros a lá chegar. Hotel vazio, ermo. Circulei estupefato por aqueles cômodos regados à luxo que tanta História guardavam. Hoje, o Hotel Glória será mais sofisticado, atinente aos tempos modernos, sem no entanto que se descaracterize sua imponente fachada. Após farto “breakfast” (sem chá, pois ainda não eram 17h), deram-me elegante figurino de garçom. Todo em “bordeaux”. Se me decepcionei com o papel? De modo algum. Considero servir a alguém um dos mais nobres ofícios a que tive notícia. E o curioso é que nos meus inocentes dezesseis anos fui balconista de lanchonete. Sem uniforme “bordeaux”. No estabelecimento, não só vendia salgadinhos, refrigerantes e chopes, mas “pegava no pesado”. Empunhava uma vassoura, lavava pilhas de pratos, e demovia a sujeira dos mal-educados e não adeptos da higiene. Devem-se se perguntar? – Momento infeliz de sua vida? Respondo: – Claro que não! Uma das melhores fases da minha existência, em que pude crescer e me divertir. Ganhei dinheiro? Qual nada! O que recebi fora tão pouco que o banco encerrou a minha conta pela falta do vil metal. Desculpem-me por ter fugido do assunto vigente. Um desabafo apenas. Voltemos ao filme. Chama-se “Mike Basset: England Manager”. No seu “cast”, um dos mais aclamados comediantes da nação da Família Real: Ricky Tomlinson. Os demais atores exalavam empáfia. Quanto ao figurino que me foi dado, poderia servir até de traje para o meu aniversário de trinta anos. Cabiam-me duas cenas. Detalhe: o ano era 2001, portanto anterior à Copa do Mundo de 2002, organizada pelo Japão e Coreia do Sul (que estranho assistir a jogos de madrugada). E o longa abordava justamente a guerra futebolística (não a das Malvinas ou Falklands) travada entre nossos “hermanos” e os conterrâneos de David Beckham. O intento destes era uma “vingança” contra os filhos do tango pelo “gol de mão” feito por Diego Maradona (apelidado de “A Mão de Deus”) na Copa do México, em 1986, contra os súditos da Rainha, em Campeonato Mundial sediado no Brasil (nesta época não se cogitava a hipótese do país tropical ser sede de uma Copa). Especulei que como havia participações especiais de mitos do futebol como Pelé e Ronaldo Fenômeno, o filme fosse lançado no Brasil por meio de inteligente estratégia de marketing. Enganei-me. Assim tive que vê-lo depois. E é ótimo! Muito engraçado, e com belas imagens da cidade do Rio. Falemos então de minhas únicas duas cenas: em uma delas deveria demonstrar naturalidade ao tomar conta do “american bar” enquanto assistia a uma das partidas; a outra era mais complexa. Faria as vezes de garçom sustentando uma pesada bandeja (seria de prata?) com drinks a servir aos protagonistas da trama em instante crucial. Acreditem, foram para mais de dez “takes”. Não tinha mais forças. Meus braço, antebraço, mão e cinco dedos pediam clemência. Agora, vejam a desconsideração que para comigo tiveram: em dado momento, já exangue, deixei a Lei da Gravidade vencer, e a bandeja (seria de prata mesmo?) cair. Veio-me afoita equipe a amparar-me. Estava molhado. O “bordeaux” já era. Todavia, a preocupação não me tinha como destino. E sim, o tapete. Por onde andará o tapete socorrido? E ainda tem mais: ao aproximar-me dos artistas lançaram mão do recurso cinematográfico nomeado “fade out” (a imagem vai aos poucos desaparecendo, então quando até eles cheguei era um “garçom fantasma”) A vida não é tão bela como tenta nos convencer o título do filme de Roberto Benigni, que em cujo Oscar no qual concorreu e ganhou, a nossa dama Fernanda Montenegro foi inacreditavelmente preterida por Gwyneth Paltrow. E Ronaldo? Não o vi. Mas Narcisa, vi. E não ouvi nenhum “Ai, que loucura!”. Pareceu-me tímida até. Steve Barron, o diretor do longa-metragem em pauta, era um indivídio acessível, calmo, tranquilo e com habilidades precisas para a orientação das tomadas. Agora, vejam que pretensão a minha. Fui pego de surpresa por um suposto jornalista que me pediu para ser o intérprete de uma entrevista com Steve Barron. Jornalista que não sabe Inglês? Fiz a minha parte. A equipe de produção nos perguntou se toparíamos filmar no dia seguinte porquanto haveria a presença luxuosa de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé. Em uníssono, aceitamos. Veríamos Pelé, e ganharíamos R$50,00. Na manhã seguinte, já estava a postos. De repente, burburinho. Pelé chegou. Um bando de repórteres pulou em cima dele como se quisessem evitar que finalizasse uma jogada que desse a vitória ao Brasil. Se alguém tiver alguma impressão equivocada do atleta, desconsidere-a. Pelé é educado, gentil, paciente, cumprimentou a todos, enfim, como deve proceder um ídolo. Terminadas as filmagens. Já havia para colocar no meu cofrinho R$100,00. E tinham destinação certa: R$50,00 para comprar um relógio despertador e os outros R$50,00 para um outro relógio, só que este para me despertar para a vida que de fácil não tem nada.

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