Juntam-se dois atores bonitos, carismáticos e talentosos em uma peça cujo tema principal é a existência da possibilidade de se existir ou não o grande amor das nossas vidas. Um tema, sem dúvida, que nos é muito caro. E que em pelo menos um momento nós nos flagramos pensando nele. O texto escrito por João Falcão, Guel Arraes e Karina Falcão toca em vários aspectos que remetem a uma reflexão sobre o assunto. Uma das frases que são ditas por mais de uma vez é “se já nos deparamos com o tal grande amor…”. É claro que isto nos faz refletir. Tanto João, Guel e Karina escreveram de forma que o que nos é dito é palatável, com humor, leve, mas sem que este relevante viés narrativo não nos reporte a um grau de discussão também relevante. Enfim, o citado texto é bem recebido pelo público, que se manifesta com alegria e a concentração necessários correspondentes à exigência da encenação. Agora, é importante frisar que a escolha dos intérpretes foi de suma significância para o sucesso do projeto. A atriz Paloma Bernardi é, além de linda moça, dotada de uma potencialidade artística nos palcos que desconhecia (e que bom, passei a conhecer), que só fez corroborar as minhas admiração e convicção de que esta jovem artista se sai bem em todas as áreas de atuação para a qual é convidada. E ela cumpre a missão de dar vida à sua personagem, Maria Helena, com demasiada galhardia. Já Thiago Martins, um ator que vimos ainda criança fazendo filme de sucesso, e depois outros trabalhos, usa de sua extroversão, simpatia e o já propalado talento para fazer de Luiz Eduardo um rapaz convincente. Ambos obedecem aos instantes de comicidade que a plateia assimila, e se aproxima ainda mais da história deste casal que não nos é distante. O diretor é Michel Bercovitch. Michel adota uma postura, como executor da “mise-en-scène”, que pretende dar agilidade, fluidez, as pausas que se fazem congruentes, em soluções criativas que não descambam para a mesmice, e tudo isto resulta em produto que nos agrada. Michel Bercovitch, que desde bastante jovem se dedica às artes cênicas, cumpre o objetivo que ele mesmo deve ter se imposto, ou seja, o de satisfazer a todos. Quanto aos aspectos técnicos, comecemos pela cenografia. Se a classificarmos com um substantivo, este é a praticidade, que funciona amiúde. Não haveria razões para mais elementos, pois o espetáculo se foca no tema e na interpretação de Paloma e Thiago. Por que o cenário é prático? Usam-se dois parlatórios que a princípio se posicionam à frente do palco, e atrás dos mesmos Maria Helena e Luiz Eduardo discorrem, digressionam, especulam sobre como se daria o encontro do grande amor. As dúvidas, vicissitudes, empecilhos de um relacionamento após este mesmo encontro não são deixados de lado. E os citados parlatórios acabam tendo outro uso. Vislumbramos criatividade em pufes e sofás transparentes infláveis. Há painéis gigantescos com as imagens de Thiago e Paloma. Painéis que podem não parecer, contudo terão papel precípuo definitivo. Há ainda telão com design gráfico inventivo de Mauro Ventura (Mauro também assiste a direção) que contribui para desenhar as situações vividas pelo par. Já a iluminação de Daniela Sanchez é o que se pode definir como coerente para uma comédia romântica com tintas juvenis: alegre, viva, colorida, contudo sem abrir mão de luzes menos intensas quando as ocasiões pediam. Os figurinos de Paloma Bernardi criados por Isabella Cardos são graciosos, bonitos, sensuais em algumas cenas, e os de Thiago, despojados, casuais, contemporâneos e até cômicos em certo acontecimento. Ao sair do teatro, tive uma certeza: a rosa vermelha de Paloma Bernadi e a gravata negra de Thiago Martins fortaleceram a minha fé de que existe sim o grande amor de nossas vidas.