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Sophie Charlotte e Patricia Pillar como mãe e filha no remake de “O Rebu”/Foto: Divulgação TV Globo

Chove torrencialmente sobre nababesca mansão, na qual acontece uma grande festa. Convidados elegantes dançam, bebem, riem, seduzem e são seduzidos, sob múltiplas luzes a espocar de lado a outro, num ritual insano de luxúria e hedonismo. Lá fora, repousa de bruços na superfície de uma piscina de águas cristalinas um ponto negro. Um corpo. Morto, assassinado. Bruno Ferraz (Daniel de Oliveira), diretor de tecnologia da empreiteira Mahler Engenharia, cuja dona é a bela, poderosa e ambígua Angela (Patricia Pillar), herdeira do marido, que falecera junto com os seus dois filhos em um acidente. Bruno entrara na corporação a convite da própria Angela e da diretora jurídica Gilda (Cassia Kis Magro), uma mulher amarga, irascível, impulsiva, maliciosa e adúltera (manteve um caso com o ambicioso rapaz vítima do crime; seu marido, o inescrupuloso e antiético advogado Bernardo, interpretado por José de Abreu, executivo da Braga Engenharia, que pertence a Carlos Braga, defendido por Tony Ramos, que também não prima pela probidade, da mesma forma trai a esposa com Mirna, papel da atriz Bianca Müller). Elas lhe fizeram uma indecente proposta: espionar a concorrência. Cobiçoso, Bruno aceita com a condição de ter o seu salário supervalorizado. Por sinal, Bernardo e Carlos estão na iminência de serem desmascarados caso um dossiê que revela uma licitação fraudulenta venha à tona. Bruno, ao se tornar membro do alto escalão da empresa, provoca uma cadeia de relações que envolvem tanto a filha adotiva de Angela, a emotiva e depressiva Duda (Sophie Charlotte, com bonitos cabelos curtos), que se apraz em cantar de modo embargado “Sua Estupidez” em pleno palco do rega-bofe (torna-se de imediato alvo de numerosos comentários do circo das redes sociais) e Gilda, como já fora dito. Isto é tão somente parte do que vimos na interessantíssima estreia de “O Rebu”, nova novela das 23h da Rede Globo, escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, inspirada na obra homônima de Bráulio Pedroso que fora ao ar em 1974 na mesma emissora, com direção geral e de núcleo de José Luiz Villamarim. Uma história regada a muito suspense, traição, sensualidade, conflitos familiares, rivalidades figadais, onde parece não existir espaço para heróis. Com a sempre deslumbrante fotografia de Walter Carvalho, que agora aposta em matizes azulados e acinzentados, que imprimem uma apropriada sobriedade visual à trama, “O Rebu” nos promete expectativas e emoção numa sinopse que se passa em 24 horas (na verdade, são três fases: a festa em si, o dia seguinte com as investigações e flashbacks). Não faltarão ganchos, clímax e bastante mistério. Tendo em mãos um rico elenco, Villamarim, que desde “Avenida Brasil”, passando pelas minisséries “O Canto da Sereia” e “Amores Roubados”, tem se firmado em definitivo como um dos expoentes da recente geração de talentosos e inventivos diretores da teledramaturgia, utilizou-se no primeiro capítulo de tomadas de cena, ângulos, passeios de câmera, “close-ups”, todos nitidamente diferenciados, o que de pronto conquista o público ávido por qualidade e inovação de linguagem. Assistimos a atores experientes e aqueles que a cada trabalho se estabilizam como bons intérpretes. Houve um desfile de excelentes atuações de Patricia Pillar (na versão anterior o seu posto era masculino, e coube a Ziembinski, ator polonês, ocupá-lo, como Conrad Mahler), Tony Ramos, Vera Holtz (Vic Garcez, endinheirada e ciumenta viúva, que se apaixona por Kiko, Pablo Sanábio, que por sua vez passa a viver um romance com a psicóloga Camila, personificada por Maria Flor, casada com o enigmático Oswaldo, personagem de Julio Andrade), Cassia Kis Magro, José de Abreu, Camila Morgado (Maria Angélica, a lasciva filha de Vic), Sophie Charlotte, Daniel de Oliveira, Mariana Lima (Roberta Camargo, a promoter da festa) e uma das apostas jovens tanto da TV quanto do cinema, Jesuíta Barbosa, que faz o errante, delinquente e arrivista Alain. Tivemos as presenças bem-vindas de Jean Pierre Noher (como um prestigiado chef) e Cyria Coentro (mãe de Alain). Aguardemos as credibilidades dramáticas dos ótimos Marcos Palmeira, como o delegado Nuno Pedroso e Dira Paes, como a policial Rosa. Além de Michel Noher, que dará vida a um piloto campeão mundial de Fórmula 1, Antonio Gonzalez. Amparada numa larga rede de intrigas, conspirações, conluios, ajustes espúrios, ciúme, ressentimentos de diversos gêneros, romances e adultérios, com cada integrante do enredo sendo um potencial suspeito da morte de Bruno Ferraz, “O Rebu” não deixará de causar um certo rebuliço ao cair da noite. E se à primeira vista tivemos um corpo que caiu sobre a cristalina piscina dos Mahler, ao final o algoz deste mesmo corpo que boia cairá sobre o frio piso de uma cela. Ou quem sabe, em qualquer outro lugar sequer imaginado.

Categorias: TV

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