Blog do Paulo Ruch

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Foto: Inácio Moraes/Gshow

Não fiquemos tão tristes com o rio. Não nos sintamos atraiçoados pelas águas correntes do Velho. Vilipendiado, humilhado, desviado de seu curso pela mão do homem vil. O mesmo homem vil omisso no alerta do perigo. O mesmo homem vil construtor de gigantes de pedra. O Velho e seus mistérios, os seus índios e rituais, não há quem os possa ignorar. O misticismo de aparentes águas plácidas há que se reverenciar. Ajoelhemo-nos diante da sacralidade do Chico. O Chico, o Velho, o Velho Chico homenageado e defendido em novela de TV. A história do Benedito, da Edmara e do Luperi, que esperou largo tempo para nos ser contada. Abençoada. Noite após noite, a partir do mês março das águas, o Brasil atual preocupado começa a olhar educado para a imensidão do rio grande que desenha em muitas linhas a sua rota infinita. A saga familiar dos dos Anjos e dos Sá Ribeiro passa a ser a nossa saga. Um personagem se chama Santo. Santo dos Anjos. O homem artista Renato Góes, o “Santo Forte de ‘Velho Chico’”, vindo lá de seu Recife, foi parar em Alagoas, Rio Grande do Norte e Bahia, e espalhou por essas plagas a sua luz e o seu brilho fulgurantes, dando início à jornada épica das batalhas gloriosas e inglórias dos clãs opostos. O ciclo de ouro de Renato se findou no conto, e o cetro santo foi entregue ao artista homem de circo, criança de picadeiro, com nome de dia da semana no plural e sobrenome que remete às montanhas: Domingos Montagner. Domingos, bufão adorável, que num programa de domingo, com dança pura e ingênua de balé, histriônica como deve ser, mas bela em seu querer, apareceu com graças. O homem de traços fortes e delicados, dessa vez na nação do encantado agreste misturada com a nobreza do cordel, oferece a sua verdade na pele do Capitão. O cidadão das Artes, de quem se ouvia a voz grave, vestiu a faixa de quem comanda o país, retumbando com o seu brado o talento que lhe foi enviado pelo desconhecido. Com seus olhos fixos, pintados com emoção, despertou-nos incondicional paixão. Domingos, viril e firme na postura, agora em trama de Gloria, mora em cavernas, e enlouquece as belas no longínquo torrão sob o céu dos balões. Salve Domingos. Em outra história, escrita com as tintas de Lícia, singrou mares em veleiro branco solitário. Tantas vidas, tantas sete vidas renascidas pelo amor maior do homem Montagner. Viveu um romance policial como um famoso personagem da literatura nacional. Segundo o próprio, “…um cara que observava as mulheres.” Um ator, cujos cabelos revoltos vimos encanecer em oito fugazes anos nas pequenas telas do nosso lar. O mesmo ator que em nenhum momento deixou para trás a sua raiz de brincalhão que fazia rir embaixo de lona. Rosto pintado, nariz de palhaço, honrou o circo, o riso e o respeitável público. La Mínima, La Mínima. Domingos, “O Mistero Buffo”. Montagner colocou o santo lenço de Renato, e no folhetim que está chegando ao fim, prosseguiu com a luta brava do jovem antecessor contra o poder inclemente do coronel opressor. Seu suor escorrido era o nosso suor escorrido. Sua peleja, também. Na vida real, uma família linda e amada. Na família da ficção, uma segunda família linda e amada. Ele era o “mano velho”, o “painho”, o “chefe”. A novela está no ar. Domingos continua lá. Parece que não se foi. E talvez não tenha ido. Sua alma e luz permanecem não só no rio que agora protege, mas no coração de todos nós. Domingos hoje é estrela, lua, sol, água, mata. Domingos são todos em um só elemento. Uno e vital. Reproduzo aqui o que seu parceiro de vida e personagem Renato Góes disse, em desabafo: “Agora eu sou eu e eu sou tu. Agora eu sou eu e tu. Eu vou com você pra sempre! Esse, de mim, nunca vai sair! Te amo!”. Que assim seja, Renato. Domingos é eterno. Amém.

Categorias: TV

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