
Conhecido por sua subversão temática, vista em sua obra anterior, “Boi Neon”, Gabriel Mascaro antevê em seu mais novo longa um Brasil distópico dominado por uma fanática corrente religiosa que prega conceituações distorcidas dos elementos sagrados e profanos, que afetam diretamente o comportamento humano e sua relação com o casamento, o amor, a fé e o sexo
Foi lançado no dia 27 de junho do ano passado o impactante novo filme do diretor pernambucano Gabriel Mascaro, conhecido pelo público a partir do sensível e original “Boi Neon” (2015), “Divino Amor”. Neste longa estrelado por Juliano Cazarré, o cineasta subvertia o universo machista dos vaqueiros ao desenhar um de seus membros como um homem que sonhava em criar vestidos. Esta mesma subversão, que passa a ser uma marca do cineasta, é agravada em “Divino Amor”, no sentido em que se profetiza um Brasil distópico em 2027, oficialmente laico, mas dominado (e oprimido) por uma vertente religiosa intolerante de caráter evangélico que leva às últimas consequências os seus conceitos radicais e distorcidos a respeito da fé, do amor, do casamento e do sexo, misturando indiscriminadamente no mesmo cadinho o profano/”pecado” (swing de casais, valorização dos corpos nus em alguns de seus rituais) e o sagrado (tudo se faz em nome de um Deus misericordioso).
Dira Paes, em performance corajosa, representa uma funcionária de cartório que tenta convencer os casais a não se divorciarem, atendendo aos seus dogmas questionáveis, ao mesmo tempo em que frequenta raves evangélicas nas quais seu Deus popstar é idolatrado
O roteiro inteligente, apropriado e espertíssimo de Gabriel Mascaro, Rachel Daisy Ellis, Esdras Bezerra e Lucas Paraizo nos traz uma brilhante e corajosa Dira Paes como uma funcionária pública de cartório, Joana, que com seu jeito polido e manipulador tenta convencer os casais a não efetivarem o divórcio pretendido em nome da manutenção do amor máximo traduzido no núcleo familiar convencional. Joana, adoradora da burocracia estatal, frequentadora de raves evangélicas grandiosas em que o seu Deus é popstar, é casada com o florista de funerais Danilo (o ótimo Julio Machado), que, assim como ela, frequenta o fechado grupo religioso “Divino Amor”. Uma incompatibilidade do casal desequilibrará a sua fé até então inexpugnável.
O filme de Gabriel Mascaro conta com eficientes suportes técnicos, como a fotografia onírica de Diego Garcia e a trilha de DJ Dolores, sendo sustentado ainda por outros artistas afinados em suas participações
Com fotografia desbotada, onírica e com néons de Diego Garcia, trilha sonora instigante do DJ Dolores (dentre outros), o perturbador filme tem o seu elenco completo por Emílio de Mello (fantástico como o pastor de drive thru), Thalita Carauta (perfeita na indignação de uma cliente do cartório), Teca Pereira (convincente como a Mestra Divino Amor) e Mariana Nunes (simboliza com fidedignidade a esposa angustiada por suas dúvidas afetivas/emocionais).
Assista ao trailer do filme:
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