
Nanni Moretti realiza um documentário sobre um dos períodos mais sangrentos da história chilena, quando em 1973 o governo legítimo de Salvador Allende é deposto com o apoio dos Estados Unidos, representados pela figura do Secretário de Estado, Henry Kissinger, levando o país a uma ditadura comandada pelo General Augusto Pinochet
Esteve em cartaz nos cinemas brasileiros em 2019 uma obra do aclamado cineasta italiano Nanni Moretti, o oportuno documentário “Santiago, Itália” (“Santiago”, 2018), vencedor do David di Donatello 2019 de Melhor Documentário (sua mais recente produção, um drama, chama-se “Tre Piani”, 2020). O doc relata os episódios que marcaram uma das ditaduras militares mais implacáveis e cruéis da América Latina, a chilena, que tomou o poder em setembro de 1973, depondo o presidente eleito democraticamente Salvador Allende. Porém, o grande mote do filme do também ator e roteirista, autor dos elogiados longas “Caro Diário” (1994), “O Quarto do Filho” (2000) e “Habemus Papam” (2011) foi a primordial ajuda da embaixada italiana, oferecendo asilo e vistos para a Itália, aos perseguidos políticos do governo de Augusto Pinochet. Nanni, mesmo afirmando não ser imparcial, procurou ouvir os dois lados da história numa série numerosa de depoimentos, utilizando-se outrossim de preciosas imagens de arquivo, como as que mostram o Estádio Nacional do Chile, que serviu de enorme centro de detenção para os opositores do regime totalitário. No filme fica evidente o financiamento norte-americano ao golpe, com o apoio da imprensa chilena, justificado por Henry Kissinger, Secretário de Estado à época, como uma forma de não estimular os governos italiano e francês, com seus partidos socialistas, suscetíveis às políticas sociais de Allende. Moretti oferece a cineastas, como Patricio Guzmán, empresários, professora, artesão e muralista a oportunidade de dar o seu testemunho (seja em espanhol ou italiano), assim como a militares condenados por seus crimes. O único senão do documentário de Nanni Moretti foi seguir os padrões mais convencionais deste gênero cinematográfico, com depoimentos de personagens da História entremeados por imagens de arquivo, como foi dito antes. No entanto, a força deste período histórico que jamais deve ser esquecido não tira o interesse do espectador. Nanni Moretti merece o nosso respeito por revolver as lembranças desta triste passagem de nosso país vizinho. “Santiago, Itália” se torna ainda mais relevante quando vemos no Brasil a defesa aberta da volta de um regime tão desumano quanto ilegal, como o é a ditadura.
Assista ao trailer do filme: