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Alinne Moraes e Ana Beatriz Nogueira estrelam o espetáculo escrito por Gustavo Pinheiro/Foto: Guga Melgar

O dramaturgo Gustavo Pinheiro, conhecido pelos sucessos “A Tropa” e “Alair”, debruça-se na análise das complexas narrativas discursivas e todos os seus desdobramentos surgidas a partir do encontro (e “desencontros”) de duas médicas

Gustavo Pinheiro, prestigiado dramaturgo especialista em abordar temáticas diversas, vindo de sucessos como “A Tropa” e “Alair”, resolveu se debruçar no espetáculo “Relâmpago Cifrado” (título de um trecho do poema de Drummond “Amor e seu Tempo”, do livro “As Impurezas do Branco”), com a argúcia e a solidez narrativa que lhe são características, na infinda riqueza dos encontros (e “desencontros discursivos”) entre pessoas devotadas a um mesmo ofício, no caso a Medicina, com todas as contradições individuais, complexidades comportamentais e oscilações emocionais de cada uma das médicas envolvidas em sua história.

Ana Beatriz Nogueira se encarrega de dar vida a uma médica conceituada, com personalidade dura e irônica, a quem a também médica interpretada por Alinne Moraes, de perfil obstinado e autoconfiante, recorre com o intento de obter uma carta de recomendação para estudar na Universidade de Harvard

Para dar vida a essas doutoras combativas em suas opiniões, uma de nossas mais brilhantes atrizes, Ana Beatriz Nogueira, e Alinne Moraes, uma intérprete que foi além de sua beleza, convencendo-nos de seu irrefutável talento no decorrer de sua carreira. Ana defende uma médica respeitada, formada em Harvard, dura, irônica, sinuosa, contendo, no entanto, uma fragilidade latente. Alinne personifica a profissional prática, obstinada, autoconfiante, com conceitos duvidosos acerca da ética, cujo intento é obter da primeira uma carta de recomendação para pesquisar na mesma Harvard.

Dirigida com sintonia cênica por Clarisse Derziê Luz e Leonardo Netto, que privilegiam o texto e as atrizes, “Relâmpago Cifrado” nos oferece atuações brilhantes de Ana Beatriz Nogueira e Alinne Moraes, cujo efeito imediato é magnetizar o público do início ao fim

A inteligente peça, calcada num embate contínuo e fascinante de inquirições, réplicas e tréplicas entre as médicas, é dirigida com admirável sintonia cênica (privilegiando o texto e as atrizes) por Clarisse Derziê Luz e Leonardo Netto. Ambos se valeram das frequências dramáticas de intensidades múltiplas de Ana e Alinne, realçando suas pausas estratégicas, contando com a luxuosa colaboração de Leila Pinheiro em sua trilha sonora original elegante e melancólica, para arrematar com estudada precisão esta montagem que reserva ao público um desfecho surpreendente, tocante e digno. Ana Beatriz Nogueira, utilizando-se de sua inestimável grandeza como artista, magnetiza a plateia do início ao fim. Alinne Moraes nivela-se ao brilho de sua colega com uma atuação encantadoramente madura. Alicerçada no dourado refinado da luz de Aurélio de Simoni, “Relâmpago Cifrado” se configura como obra meritória em seu caráter decifrador das almas tempestuosas e não codificáveis do ente humano. 

Obs: Crítica escrita em dezembro de 2019.

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