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Seu Jorge é o protagonista do filme de estreia de Wagner Moura na direção/Foto: Divulgação

Após ser recebido com sucesso há dois anos no Festival de Berlim, excelente filme de estreia de Wagner Moura como diretor finalmente é lançado no país

Dois anos se passaram até que o público brasileiro tivesse o privilégio de assistir à estreia espetacular de Wagner Moura como diretor de filmes. Seu auspicioso début não poderia ter sido mais apropriado aos tempos sombrios em que vivemos, com a democracia sendo ameaçada frequentemente pelas altas esferas do poder. “Marighella” (2019), inspirado no livro “Marighella: O Guerrilheiro Que Incendiou O Mundo” (2012), do jornalista Mário Magalhães, exibido e aclamado no Festival de Berlim, resgata com brilhantismo parte da trajetória marcante do poeta e deputado baiano que decidiu aderir à luta armada para enfrentar a truculência da ditadura militar no Brasil (1964-1985).

O pujante roteiro de Felipe Braga e Wagner Moura oferece ao público uma espiral crescente de tensão mostrando explicitamente muitos dos horrores praticados pelo regime militar brasileiro

Desde a doída separação de seu filho Carlinhos (Renato Assunção e Francisco Matheus Bacelar de Araújo em diferentes fases; os dois jovens intérpretes se saem bem), deixado em Salvador, e de sua mulher Clara (Adriana Esteves) em São Paulo, até as confabulações logísticas de Carlos Marighella, o “Preto” (Seu Jorge, magistral), com o seu grupo político, no período de 1964 a 1969, quando é brutalmente executado, o longa, sustentado pelo pujante roteiro de Felipe Braga e Wagner Moura (alguns de seus diálogos contêm fina ironia), fisga os espectadores com sua espiral crescente de tensão e cenas dos horrores reais perpetrados pelo regime autoritário, representados por um visceral e assustador Bruno Gagliasso (Delegado Lúcio).

Tendo Chico Science & Nação Zumbi em sua trilha, “Marighella” é a prova de que o seu diretor estreante não só é hábil e talentoso como também é um filho que não foge à luta

Com um plano-sequência inicial que já se tornou histórico, flashbacks e cenas de ação de se tirar o fôlego, “Marighella” possui parcela significativa de takes registrados por steadycam, o que lhe confere extremo dinamismo e realismo. Merecem destaque a montagem vertiginosa de Lucas Gonzaga, a impecável direção de arte de Frederico Pinto, a estudada, por vezes crua e seca, fotografia de Adrian Teijido e a valiosa música de Antonio Pinto (a impactante canção de Chico Science & Nação Zumbi “Monólogo ao Pé do Ouvido” está na trilha). O elenco formidável é composto por um time engajado: Herson Capri (o jornalista Jorge Salles), Luiz Carlos Vasconcelos (Almir), Humberto Carrão (Humberto), Ana Paula Bouzas (Maria), Bella Camero (Bella), Adanilo (Danilo), Jorge Paz (Jorge), Charles Paraventi (Bob), Rafael Lozano (Rafael), Brian Townes (Wilson Chandler), Henrique Vieira (Frei Henrique) e Guilherme Ferraz (Guilherme). A irrepreensível preparação de elenco ficou a cargo de Fátima Toledo, responsável por produções como “Cidade de Deus” e “Cidade Baixa”. “Marighella”, em cartaz nos cinemas e lançado no último dia 4 no Globoplay, é uma obra devastadoramente urgente e patriota que nos prova que Wagner Moura não só é um hábil e talentoso cineasta como também é um filho que não foge à luta.

Assista ao trailer oficial do filme:

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