Blog do Paulo Ruch

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Eliane Giardini e Marcos Caruso interpretam respectivamente Roberta e Mariano, um casal que após quatro décadas de convivência decide se separar/Foto: Eduardo Chamon

Leilah Assumpção, autora do clássico teatral “Fala Baixo Senão Eu Grito”, usa a sua narrativa como palco para discussões sobre etarismo, sexo na maturidade e machismo

Falar dramaturgicamente sobre o processo de envelhecimento do indivíduo sem resvalar para a depreciação gratuita requer profunda delicadeza e olhar sensível de quem o faz. Sendo assim, não é de se espantar que a autora do texto da comovente, humanista e engraçada peça “Intimidade Indecente”, com dois gigantes intérpretes queridíssimos no país, Eliane Giardini e Marcos Caruso, tenha a valiosa assinatura de Leilah Assumpção, dona do clássico teatral “Fala Baixo Senão Eu Grito”. Leilah nos conta de forma bastante espontânea e próxima a trajetória de um casal, Roberta e Mariano, que decide se separar após 40 anos de vida em comum quando ambos já passaram dos 60 anos. A questão chave é que embora um e outro tomem rumos diferentes, o forte laço que os une nunca se rompe. A dramaturga usa com inteligência e espirituosidade a sua narrativa como palco para discussões sobre etarismo, sexo na maturidade, machismo, outras possibilidades de afeto, abandono familiar e perdas.

A direção de Guilherme Leme Garcia, confiando nos talentos de Eliane Giardini e Marcos Caruso, permite-lhes uma bem-vinda liberdade

Guilherme Leme Garcia, o diretor, ciente da potência em cena que são os seus atores, assumindo total confiança em seus talentos, permite-lhes uma bem-vinda liberdade, usando com equilíbrio o centro da ribalta e seu proscênio com belos momentos. Eliane Giardini e Marcos Caruso são artistas superlativos em sua essência, grandiosos em tudo o que fazem. Nos embates entre seus personagens, “bate-bolas” memoráveis, alcançam os mesmos níveis de graça e dramaticidade em frações de segundo para o delírio da plateia, que acompanha com sincera empatia os caminhos e descaminhos desse casal. Toni Rodrigues, diretor de movimento, realiza com notável credibilidade a transformação postural de Eliane e Marcos, que dispensam quaisquer outros recursos facilitadores. Aurora dos Campos, consagrada cenógrafa, sabedora da natureza do espetáculo (um espetáculo de e para atores), aposta na unicidade de um sofá claro. A luz de Tomás Ribas é precisa, cuidadosa, bonita e elegante, dando espaço a focos intimistas e a um inebriante azul. Aline Meyer, diretora musical, cumpre com êxito o seu papel de embelezar a montagem com arranjos ao piano. “Intimidade Indecente” é uma irresistível e tocante comédia que reafirma a importância de Leilah Assumpção como autora teatral e Eliane Giardini e Marcos Caruso como atores. Esta é uma verdade pública e decente.

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