Foto: Christiane Tricerri em um dos muitos espetáculos de Shakespeare dos quais participou.
Poderíamos dizer que Christiane Tricerri são muitas em uma, assim como Patrícia Galvão, a Pagu, jornalista, escritora, feminista, e militante política, retratada em espetáculo teatral de autoria e direção de Christiane, e no qual também atuara. Espetáculo este que mostrava duas Pagus em diálogo, e deste surgiam momentos marcantes da vida da modernista. A outra Pagu coubera a Majeca Angelucci. Uma das razões da produção era o de homenagear o centenário de nascimento de mulher tão importante para a afirmação dos valores femininos na sociedade. Detalhe: a paulistana Christiane já havia feito antes uma encenação sobre ela. A temporada comemorativa fora excelente. Merecido, pois a intérprete debruçou-se em incansáveis pesquisas, estudos, entrevistas, e tudo o mais que pudesse enriquecer a sua montagem. Mas, por que lhes disse que Christiane são muitas em uma? Acho que já lhes dei algumas dicas: atriz, diretora e autora. Autora de livro de poesias, “Figos-da-Índia”. Christiane Tricerri, assim como Rosi Campos sobre quem falara em texto escrito anteontem, estudara na ECA (Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo), e ambas integraram o Grupo do Ornitorrinco, fundado por Cacá Rosset. É bom frisar que Christiane logo nos primeiros passos da trajetória artística “enfrentou” um Peter Shaffer (“Equus”). Promissor começo. Um salto enorme que dera ocorreu em 1982, quando da estreia de “Bella Ciao”, de Luis Alberto de Abreu. A crítica rendeu-se à peça. Prêmios. Inclusive o honroso APCA (Associação Paulista dos Críticos de Arte) para Christiane Tricerri, como melhor atriz. A artista possui em seu currículo rica galeria de dramaturgos, como o próprio Shaffer, William Shakespeare (simplesmente personificara a filha Regan do Rei Lear de Raul Cortez; estivera na polêmica apresentação de “Sonho de Uma Noite de Verão”, como Titânia, no Central Park, que arrancou acalorada ovação da crítica especializada, como o “Village Voice” e a “Variety”, e do público presente; “A Comédia dos Erros” – indicada ao Prêmio Shell de Melhor Atriz, e a “A Megera Domada”). Afora, Molière, Alfred Jarry, e adaptação da obra de Pedro Almodóvar, “Pathy Difusa”. Tivera como parceiros de ofício dois representantes de inegável relevância do teatro transgressor brasileiro: José Celso Martinez Corrêa (“Mistérios Gozosos”) e Maria Alice Vergueiro (por esta fora dirigida, e a dirigiu). No cinema, participara de diversos filmes, dentre os quais, podemos destacar “O País dos Tenentes”, de João Batista de Andrade. Na televisão, minisséries como “Anarquistas, Graças a Deus”, “Cometa” e “A Casa das Sete Mulheres”. Christiane Tricerri são muitas em uma. Motivo de felicidade para esta funcionária da Arte. Deve ser bem tedioso ser apenas um em um. Deve ser.