Na sexta-feira passada, o “Programa do Jô” foi todo dedicado à atriz Regina Duarte. Três motivos foram precípuos para que se desse esta celebração: a comemoração pelos 50 anos de carreira da intérprete; a exposição sobre as suas vida e trajetória artística, “Espelho da Arte – A Atriz e Seu Tempo”, em cartaz no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro; e a estreia na direção, além de atuar, do espetáculo “Raimunda, Raimunda”, adaptação de “Ramanda e Rudá” e “Raimunda Pinto”, de Francisco Pereira da Silva. Regina, que trajava um vestido preto com transparências e brocados coloridos sob um mantô “bordeaux”, é lembrada por Jô sobre o quanto ficara encantado com ela nas suas participações nas peças “A Megera Domada”, de William Shakespeare, e “Blackout”, de Frederick Knott, ambas dirigidas por Antunes Filho. Regina rememora que fora dirigida pelo apresentador em “Romeu e Julieta”, de Shakespeare, no final dos anos 60. O assunto agora é a sua primeira direção com “Raimunda, Raimunda”. Regina disse que foi acumulando o aprendizado que teve ao ser dirigida por nomes como Flávio Rangel, Paulo José, Antunes Filho, Gabriel Villela e o próprio Jô Soares. E se viu obrigada a ela mesma dirigir o texto porque nenhum diretor que solicitava demonstrava a empolgação que tinha em montá-lo. A peça possui 8 atores que se revezam em 24 personagens. Um cenário assinado por José Dias que se transforma em 22 outros. Os figurinos são de Regina Carvalho, com a colaboração de Beth Filipecki e Renaldo Machado. A trilha sonora é de Charles Kahn. A iluminação é de Djalma Amaral e Wilson Reiz. A direção de movimento é de Suely Guerra. A sua assistente de direção, Amanda Mendes, Regina conheceu nas leituras do filme de Rafael Primot, “Gata Velha Ainda Mia”. A atriz interpreta uma escritora que é entrevistada por uma jornalista (Bárbara Paz). Falemos da exposição “Espelho da Arte: A Atriz e Seu Tempo”, com a curadoria de Ivan Rizzo. Fotos da exposição são exibidas. Uma reprodução do figurino de “A Vida é Sonho”, de Calderón de la Barca; a seção “Anos 80”; a mesa de Malu e monitores com cenas do seriado “Malu Mulher”; “Anos 60”, no qual foi reproduzido um cenário todo em papelão por J. C. Serroni; e a seção “Anos 2000”, representados por Clô Hayalla e Chiquinha Gonzaga. Regina Duarte é surpresa em seguida por um link de Londres, no qual o jornalista Renato Machado (que já fora ator, e interpretou o Romeu que fazia par com a Julieta de Regina) pergunta-lhe sobre o que acha da possibilidade de se montar clássicos atualmente. Regina assevera que temos tudo para isso. Há um momento comovente em que a artista lê um trecho de “Romeu e Julieta”, em que o bardo inglês, nas palavras de Julieta, faz uma ode à noite, em detrimento do dia, pois na noite o casal apaixonado poderia se encontrar. Um outro link é colocado no ar. Dessa vez, com o ator e diretor Daniel Filho. Daniel então pergunta como é possível se manter como uma estrela tendo feito tantas personagens diferentes durante largo tempo. A resposta de Regina é a de que deve-se concentrar na personagem que se está fazendo naquele instante, com paixão e entusiasmo. Seu discurso denota enorme lição de humildade. Revela que um dos argumentos de Daniel Filho que a convenceram a fazer a Viúva Porcina foi de que ela era “operística”. Tapes de passagens de Regina na TV são veiculados: na novela “Irmãos Coragem”, de Janete Clair; um “Caso Especial” com Paulo Gracindo; “Selva de Pedra”, de Janete Clair; e “Carinhoso”, de Lauro César Muniz, com Cláudio Marzo. Segundo a intérprete, Cláudio foi o ator com quem mais contracenou. Ao ser indagada como e quando se descobriu atriz, afirmou que seus pais perceberam antes. Participava de todos os festejos da escola. Estudou balé clássico, declamação e violão. Mas o que de fato desencadeou nela o desejo de ser atriz foi a leitura da peça baseada em “O Diário de Anne Frank”. Fez o teste. Seria a irmã de Anne, Margot. A peça não chegou a estrear. Porém, o diretor Ademar Guerra a viu no teste, e avisou a Antunes Filho (Ademar era o seu assistente de direção) que uma moça de Campinas que estava começando a fazer televisão em São Paulo seria adequada para integrar o elenco de “A Megera Domada”, que seria montada por Antunes. Regina passou no teste, e ganhou o papel da irmã da megera, Bianca. Já quanto a uma personagem teatral que gostaria de personificar, cita a Martha de “Quem Tem Medo de Virginia Woof?”, de Edward Albee. Dos filhos, apenas Gabriela Duarte se interessou pela profissão da mãe (tomava o texto de Regina em “Malu Mulher”, e assistiu várias vezes a “O Santo Inquérito”, de Dias Gomes). Novos tapes são mostrados: um especial chamado “Chanel Nº5”, com Marco Nanini; “Série Aplauso: O Santo Inquérito”; “Malu Mulher”, com Dennis Carvalho; “Sétimo Sentido”, com Francisco Cuoco; “Joana”, “Roque Santeiro”, com Lima Duarte; e “Vale Tudo”, com Daniel Filho. Chegou a fazer cinema, teatro e televisão ao mesmo tempo: o filme “Parada 88 – O Limite de Alerta”, de José de Anchieta, a peça “O Santo Inquérito”, e a novela “Nina”, de Walter George Durst. Falou sobre o sucesso de “Malu Mulher” na Inglaterra e na Suécia, por exemplo. Sofreu represália masculina devido à postura feminista de Malu. E os últimos tapes: “Retrato de Mulher”, com Gabriela Duarte; “Por Amor”, com Marcelo Serrado; e “Chiquinha Gonzaga”, com Fábio Junqueira. Será lançada ainda neste ano uma biografia sobre a atriz. E para fechar com chave de ouro, Regina Duarte lê um trecho de “Cartas a Um Jovem Poeta”, de Rilke. O escritor enaltece a humildade e a paciência na vida de um artista. Sem dúvida, as ideias de Rainer Maria Rilke ficaram mais belas na leitura de Regina Duarte. A nossa Regina da Arte.

4 respostas para ““Regina da Arte.””
Realmente uma grande atriz. Acabei de ver a reapresentação da minissérie Chiquinha Gonzaga, que ela e sua filha protagonizaram. Mais um grande espetáculo da sua carreira!
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Olá, Adriana. Realmente, “Chiquinha Gonzaga” foi um grande trabalho de Regina Duarte na televisão, dentre tantos outros. Muito obrigado pelo seu comentário. Abraços!
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Eu q não tive a oportunidade de ver a entrevista, adorei ler o seu texto! Um beijo. Ana Claudia
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Oi, Ana Cláudia. Quando puder assistir à entrevista, assista. Vale a pena. Fico muito feliz que tenha adorado ter lido o meu texto. Beijos!
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