A atriz Totia Meireles, a Wanda de “Salve Jorge”, de Gloria Perez, ganhou desta a oportunidade que muitas intérpretes desejam: ser uma vilã da trama. Porém, só isto não basta. É necessário que a responsável pelas vilanias seja bem delineada na história pelo autor a ponto de causar repúdio no público. Gloria Perez fez a sua parte. A outra caberia a uma atriz que entendesse o perfil do papel, e fosse talentosa o suficiente para torná-lo crível. O fato de se escalar Totia para personificar Wanda configurou-se como uma novidade para os telespectadores. Afinal de contas, estávamos acostumados a ver Totia Meireles vivendo personagens boas, justas, sensatas e honestas. As suas beleza, simpatia e carisma contribuíram para que estas mesmas personagens fossem garantia de credibilidade. Quanto a Wanda, soube usar estas qualidades nos momentos de fingimento, cinismo e sedução da vilã. E deu certo. O que se vê é uma alternância de comportamentos ora desprezíveis ora amáveis, situações que exigem da intérprete habilidade, técnica e talento. E estes atributos Totia tem de sobra. A sua Wanda é uma mulher misteriosa, que não se sabe bem por que entrou para o mundo do crime. E o que a fez ser tão fria. O pouco que sabemos é que veio de Botucatu, lá namorou o Coronel Nunes (Oscar Magrini; comedido na medida certa), e que possui um primo. Há um sinal de que já existiu algo que se aproximasse da normalidade em sua vida. Tanto que ao reencontrar Nunes, ficou até balançada. Entretanto, em nome dos negócios escusos que pratica, sofreu repreensão de sua chefe Lívia (Claudia Raia). Insensível e vingativa, Wanda já foi presa, deu golpe no antigo namorado, chantageou Berna (Zezé Polessa), e deu fim a Santiago (Junno Andrade). Guarda sentimento de ódio por Morena (Nanda Costa). Wanda ainda exibirá o muito que sabe de maldade. Quanto a Totia, era uma atriz essencialmente de teatro, e por saber cantar bem, os musicais foram um ponto alto em sua carreira. Um de seus maiores sucessos foi “Noviças Rebeldes”, de Dan Goggin, dirigida por Wolf Maya. Em seu elenco estiveram Sylvia Massari, Rosa Marya Colin, Fafy Siqueira e Dhu Moraes. Totia Meireles, que também é bailarina, participou ao lado de Claudia Raia na mega produção “Chorus Line” Além desta, esteve em “Gipsy”, versão brasileira do grande êxito da Broadway (foi indicada ao Prêmio Shell). Incluem-se demais espetáculos em seu currículo. Na televisão fez inúmeras novelas, seriados, especiais e minissérie. Forma profícua parceria com Gloria Perez, que já contou com a sua presença em “O Clone”, “América”, “Amazônia – De Galvez a Chico Mendes”, “Caminho das Índias”, e agora “Salve Jorge”. Participou de três temporadas de “Malhação”. Experimentou os estúdios de gravação da extinta Rede Manchete e Rede Bandeirantes. Na seara do humor, deu seus préstimos a “Escolinha do Professor Raimundo” e “Chico e Amigos”. Com Aguinaldo Silva, trabalhou em “Suave Veneno”, “Duas Caras” e “Fina Estampa”. Impressionante, vale lembrar, que na última novela Totia interpretou Zambeze, uma hippie do século XXI, casada com um também hippie, dona de uma pensão habitada pelos mais diversos hóspedes, e um quiosque, e que aplaudia com um grupo o pôr-do-sol na praia. E do “Recanto da Zambeze” partiu direto para os recantos obscuros de Lívia. Que mudança. No tocante aos seriados, atuações em “Carga Pesada”, “Casos e Acasos” e “Divã”. Folhetins como o “remake” de “Mulheres de Areia”, “Fim do Mundo” e “Cobras & Lagartos” compõem sua trajetória na TV. Sinto sua falta no cinema. Daria enorme contribuição. Quanto a Wanda de “Salve Jorge”, considero um de seus melhores papéis até hoje. E, quando virem Wanda em cena, lembrem-se do título acima: “Onde tem Wanda, tem encrenca”.