Blog do Paulo Ruch

Cinema, Moda, Teatro, TV e… algo mais.

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Foto: Amor à Vida/TV Globo

No círculo cinematográfico norte-americano, nos idos das décadas de 30, 40 e 50 (principalmente nestas duas últimas), atribuía-se às atrizes uma condição “sine qua non” para que despontassem no “establishment” industrial fílmico hollywoodiano: o “star quality”. “Star quality” significa tão somente possuir a qualidade de estrela, como o nome sugere. O talento nem era tão obrigatório, porém o binômio carisma/beleza era primordial, a ponto de levar multidões aos cinemas. Podemos citar algumas estrelas que obtinham não apenas o tal binômio, esbanjando também talento: as suecas Greta Garbo e Ingrid Bergman, a alemã Marlene Dietrich e as estadunidenses Lana Turner, Kim Novak e “a queridinha da América” Doris Day. É fácil perceber que não se exigia a nacionalidade ianque. Latinas eram exceções, como Carmen Miranda e Sarita Montiel. Em terras brasileiras, há intérpretes femininas que não fogem ao trinômio carisma/beleza/talento, como Paolla Oliveira, Patricia Pillar e Isis Valverde. A paulista Paolla, com lábios delgadamente desenhados e melenas castanhas em tons dourados, que ainda adolescente mostrou bonito rosto em campanhas publicitárias, e que se formou na Oficina Mazzaropi e na Escola de Atores Wolf Maya, conquistando o Brasil logo em sua estreia na Rede Globo, como a romântica Giovana de “Belíssima” (recebeu o Prêmio Qualidade Brasil como Atriz Revelação; fora indicada para outras láureas), de Silvio de Abreu, emociona e impressiona o público telespectador com sua destemida Paloma no folhetim de Walcyr Carrasco das 21h, “Amor à Vida”. A disciplinada pediatra e presidente do Hospital San Magno tem sofrido desde o início da trama reveses sequenciais. Conheceu o homem errado em país andino, Ninho (Juliano Cazarré), engravidou deste, descobrira de súbito ser adotada, sofrera com constância reprimendas da mãe adotiva Pilar (Susana Vieira), vira-se forçada a camuflar a gravidez, fora rechaçada pelo pai César (Antonio Fagundes) e expulsa da mansão dos Khoury, defrontara-se com o real caráter do amante Ninho, o “hippie chic” sombrio, e em fatídica noite dera à luz em podre banheiro de bar insalubre perdido no Centro da “selva das cidades”. Uma ex-chacrete parteira salva a sua criança, Márcia (Elizabeth Savalla). Entra em cena seu meio-irmão Félix (Mateus Solano), “o destruidor de skates que odeia ratinhas”, que se aproveitando do desfalecimento da moça em decorrência de hemorragias rouba a recém-nascida ainda suja de sangue e placenta, enrola-a em écharpe e a joga em caçamba de lixo nada “extraordinário”. Poucos dias depois, num emaranhado de acontecimentos arquitetados por outrem, Paloma pega no colo bebê de nome Paulinha, e sente intrigante sentimento maternal. Paulinha é a “filha” de Bruno (Malvino Salvador), o por agora bem-sucedido corretor de imóveis que faz as mulheres por ele se apaixonarem ao som de Bruno Mars. Um promissor cruzamento de olhares de homem para mulher ocorre. Um namoro se consuma. No entanto, um exame de DNA (muitos não gostam nem um pouco deste exame) muda toda a história anos após, e a irmã de Jonathan (Thalles Cabral) descobre ser a mãe biológica de Paula (Klara Castanho). Uma briga feroz de “progenitores” se desencadeia, com consequências jurídicas, até pacífico acordo. O pacifismo é curto. Alejandra (Maria Maya), que nunca foi santa, e Ninho, o “latin lover” inconformado sequestram a menina para quem não adianta dizer que a “conversa é de adulto”. Seguidas tantas intempéries, o casal se reúne e cuida da adolescente, até o instante em que o rapaz que produz obras de arte de gosto duvidoso decide lutar pela sua paternidade. O sombrio Ninho engendra série de artifícios para conquistar a neta de César, que coloca “dreads”, passa a “matar” aulas para patinar, ganha um tablet para combinação de encontros clandestinos e aprende a ser rebelde e desrespeitosa com o pai, chamado pelo oponente de “coxinha”, “burguês” e “careta”. No momento, a empreitada da Paloma de Paolla Oliveira, que foi a protagonista de dois “remakes” veiculados às 18h, “O Profeta” e “Ciranda de Pedra”, além de incorporar a vilania em “Cama de Gato”, como Verônica, é desmascarar a farsa de Aline (Vanessa Giácomo), a defensora da tese de que “a vingança é um cupcake que se come frio”, contra o seu severo pai. Ademais, terá que ouvir do algoz redimido Félix “coisas de que ela não vai gostar” (vale lembrar que numa das cenas mais impactantes da novela em questão – a revelação de que Paulinha fora deixada em uma caçamba de lixo, não só Mateus Solano brilhou, mas Paolla Oliveira também, com seus olhos esbugalhados em fúria, seus dentes trincados e grunhidos de mãe enganada, privada do crescimento da filha por largo tempo; o próprio Mateus disse em entrevista que sua interpretação elogiada só foi possível por causa da contrapartida dos colegas de elenco). Há um outro viés importante na personagem de Paolla, ou seja, o fato de ser uma médica exemplar, que se preocupa inclusive com questões sociais e pesquisas, algo com o qual não estamos muito acostumados. Num país onde o juramento a Hipócrates só tem validade e admiração nas portentosas formaturas, cujos futuros doutores esgarçam sorrisos brancos dignos de classes abastadas e lançam seus canudos rumo ao céu, e logo em seguida os dependuram emoldurados em sofisticados, confortáveis e bem refrigerados consultórios, cujas prepotentes secretárias só permitem a nossa entrada mediante pagamento adiantado. A Medicina virou um “mercado livre”. A agência de notícias Bloomberg analisou em 2013 o sistema de saúde de 48 países e chegou à triste conclusão de que o Brasil, “o país do futuro”, está em último lugar, ficando atrás de Romênia, Peru e República Dominicana. Os planos de saúde são caríssimos e não correspondem aos atendimentos. Os hospitais públicos estão sempre sucateados, com corredores lotados de pacientes tratados na base do improviso. Já os privados “cinco estrelas” servem aos ricos e poderosos. O desvio de verbas públicas para a saúde são rotineiros. Médicos faltam a plantões, e só vão aos hospitais assinar o ponto. Erros médicos. Médicos em páginas policiais. Consultas amparadas no “achômetro”. Exercício ilegal da Medicina. “Doutores” que se recusam a ir para o interior cuidar de populações carentes, a ponto do Governo lançar programa para “importar” médicos da ilha de Fidel, que ainda por cima são discriminados pelos “profissionais” elitistas e protecionistas com seus jalecos limpos com o melhor alvejante. Paloma é, sem quaisquer suspeitas, uma das personagens mais bem construídas da novela de Walcyr Carrasco, e para Paolla, uma de suas atuações mais consistentes. Na TV, a artista ainda participou de especiais, seriados e humorísticos. Emprestou sua face de pintura à série de Luiz Fernando Carvalho, “Afinal, O Que Querem as Mulheres”. Freud deve ter ficado satisfeito. Misturou-se à garotada de “Malhação”. Mesmo paulistana, foi uma das “As Cariocas”, no episódio “A Atormentada da Tijuca”. E daí? Ser carioca é ter alma de carioca. Honrou a heroína romântica Marina da produção de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, “Insensato Coração”. Diante daqueles que vão aos cinemas, pôde ser vista em curtas-metragens, e nos longas “Rinha”, de Marcelo Galvão; o sensual “Entre Lençóis”, de Gustavo Nieto Roa, com Reynaldo Gianecchini; “Budapeste”, de Walter Carvalho (embrenha-se no universo literário de Chico Buarque); “Eu e Meu Guarda-Chuva”, de Toni Vanzolini; “Uma Professora Muito Maluquinha”, de André Alves Pinto (vai fundo na ambiência lúdica do escritor e cartunista Ziraldo) e “Trinta”, de Paulo Machline (uma cinebiografia de Joãosinho Trinta). E já que iniciamos este texto abordando o significado de “star quality”, terminemos da mesma forma. Paolla Oliveira, ao protagonizar “Amor à Vida”, consolidou irreversivelmente a sua posição de estrela talentosa. Um trabalho que abre novos caminhos para Paolla. Paolla Oliveira, uma “atriz sem fronteiras”.

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