A nova série da Rede Globo, que estreou na última terça-feira, “A Teia”, de Bráulio Mantovani e Carolina Kotscho, com a colaboração de Lucas Paraízo, André Sirangelo, Stephanie Degreas e Fernando Garrido, tendo como diretores gerais Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos (a direção de núcleo é de Rogério Gomes), mostrou logo em seu primeiro episódio todos os elementos típicos de uma narrativa que se enquadra nos gêneros ação/policial, não deixando nada a dever aos similares americanos que “monopolizam” este segmento que atrai tantos espectadores. Em terras ianques, o que não faltam são bons exemplos deste modelo de filme. Na passagem dos anos 60 para os 70, tivemos grandes êxitos comerciais, como “Bullit” (1968), com Steve McQueen e “Dirty Harry” (1971), com Clint Eastwood (que prosseguiu com uma bem-sucedida franquia). No tocante especificamente ao roubo de cargas, dois ótimos longas-metragens merecem menção: “O Primeiro Assalto de Trem”, dirigido por Michael Crichton em 1979, em cujo elenco estão Sean Connery e Donald Sutherland e um dos maiores clássicos nacionais “Assalto ao Trem Pagador” (1962), inspirado em fatos reais, com a direção de Roberto Farias. No “cast”, Reginaldo Faria, Grande Otelo, Eliezer Gomes, Jorge Dória e Ruth de Souza. Ao sintonizarmos nossas TVs em “A Teia”, fomos “de uma levada só” a testemunhar ferozes e alucinadas perseguições de veículos, desvairados tiroteios, romance em meio a bandidagem, confrontos psicológicos e os bastidores de uma investigação de um crime de porte elevado. A história de Bráulio Mantovani e Carolina Kotscho (inspirada em acontecimentos verídicos) começa com uma caçada implacável por policiais à caminhonete na qual se encontram o casal protagonista Baroni (Paulo Vilhena, que dispensou muitas cenas de dublê em que a presença deste era necessária), Celeste (Andreia Horta), sua amante e ex-prostituta, e a filha desta, Tereza (Nathalia Costa), fruto de uma relação com um detento, Ney (Gustavo Machado), que Baroni conhecera na prisão, e dele se tornara inimigo. No decorrer do cerco inescapável, Baroni perde o controle do carro, e uma profunda e assustadora ribanceira o aguarda. O rapaz e a menina, com seu ursinho Bola, sobrevivem. Paira uma dúvida se o mesmo ocorreu com Celeste. Há um “flashback” de três meses, com a apresentação da execução de um audacioso, elaborado, complexo e arriscado roubo de uma carga de 60kg de ouro que seriam transportados por um avião no Aeroporto de Brasília. A quadrilha possui, em média, de 8 a 9 membros, e estavam fortemente armados. O delito penal, comandado por Baroni, obtém sucesso, o que causa incômodo e enorme rebuliço nos corredores e salas da Polícia Federal. O Superintendente Regional da Polícia Federal de Brasília Eudes Andrade (Luciano Chirolli) designa o delegado Jorge Macedo (João Miguel) para ser o responsável pelas investigações do roubo que estremeceu os alicerces e o brio da respeitada instituição policial. A princípio, Macedo recusa a missão. Decide, então, aceitá-la, sob a seguinte condição: que seja reconduzido ao posto que ocupara em Fortaleza, de onde fora, a pedido dos próprios companheiros de trabalho, transferido para a Capital Federal. Há um mistério que envolve a sua forçosa transferência. Na verdade, a razão pela qual o personagem de João Miguel pretende retornar à cidade nordestina é o fato de ficar mais próximo de sua família, a esposa Isabel (Ana Cecilia) e a filha Paula (Aline Peixoto). Macedo contará, para desbaratar a quadrilha de delinquentes, com a colaboração dos agentes Libânio (Fernando Alves Pinto) e Taborda (Michel Melamed). No entanto, o pujante esquema policial se deparará com o inesperado. O grupo criminoso não se resume a alguns poucos ladrões que não chegam a uma dezena. Políticos influentes e poderosos, mafiosos de diferentes países, policiais ligados à corrupção e prisioneiros de alta periculosidade estão envolvidos neste amplo “emaranhado”, nesta “teia” que deverá ser desmanchada. Uma situação pontual nos despertou curiosidade. A mãe de Jorge, Áurea (Denise Weinberg) inicia um romance com um ex-senador, Gama (Miele), antigo desafeto do filho que tentou denunciá-lo e prendê-lo por atos incompatíveis com o seu mandato. Mas a época política se caracterizava mais pela impunidade. Jorge deixa bem claro que quer o ex-senador longe de sua mãe. Mesmo com tantas cenas de se tirar o fôlego e que prenderam a nossa atenção, houve um momento de contemplação, com as belas paisagens dos desfiladeiros da Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso. O elenco, sem exceções, está em harmoniosa cumplicidade com a intenção do projeto da série. É quase inevitável não nos lembrarmos de Faye Dunaway e Warren Beatty, como Bonnie e Clyde, no memorável longa-metragem de Arthur Penn, “Bonnie e Clyde – Uma Rajada de Balas” (1967) ao vermos a dupla formada por Andreia Horta e Paulo Vilhena. A trilha sonora é eclética, “atravessando” estilos como o rock, o folk e o blues. A montagem é esperta, acelerada, dinâmica, trepidante, nervosa, quase não nos dando tempo para pensar, enfim, um acerto sem contestações. Rogério Gomes e Pedro Vasconcelos merecem loas por aceitarem sem receios “embarcar” nesta aventura, na acepção literal do vocábulo, e realizarem com capricho, dedicação e “know-how” um episódio que nos dá abrangente visão do que teremos a seguir. Convém ressaltar que a quase totalidade das cenas fora gravada em externas, e que os diretores foram obrigados a lidar com um aparato tecnológico que exige experiência e noção precisa de seu manuseio. “Takes” com helicóptero, avião, veículos, armas e consequentes tiros não são nada fáceis de dirigir, é razoável que se ressalte. Bráulio Mantovani e Carolina Kotscho, incensados roteiristas de cinema, em sua estreia como parceiros profissionais, exibiram notória conjugação de ideias e objetivos dramatúrgicos, o que resultou em produto coeso, envolvente e instigante, sem, em nenhuma ocasião, terem se deixado levar pelos sorrateiros clichês. “A Teia”, com seus ótimos texto, elenco e direção nos “prendeu”. Difícil será nos desgarrarmos dela.