Bíceps, tríceps, abdômen sequinho. Uma poltrona na sala para pensar na vida. Quase sempre descamisado. Trabalho? Nem pensar. Só se for para “puxar um ferro”. Dificuldade constante para compreender o que lhe era dito e explicado. Um “Pô!” em cada frase. Se se importava com isso? Claro que não. Douglas Batista (Ricardo Tozzi) queria era “estar bem na fita” para poder seduzir as gatinhas das ruas do Horto, e as patricinhas da Barão da Gamboa. O rapaz cujo poder de atração se resumia, além do peitoral à mostra, ao olhar semicerrado, e ao sorriso algo ingênuo algo malicioso, vivia “na aba” da irmã espertalhona Natalie (Deborah Secco), seja a acompanhando nas festas badaladas seja recebendo um agrado aqui outro acolá, para desgosto da mãe de ambos, a ética Haidê (a ótima Rosi Campos). Ela queria que tivessem empregos estáveis, mas o máximo que conseguiam era a instabilidade das presepadas nas quais se metiam. Até que um dia, Douglas conhece a ricaça devoradora de homens apolíneos, Abigail Castelani (Maria Clara Gueiros), a famosa Bibi, que podia se dar ao direito de não ter que bater o ponto ao final de mais um dia de labuta. Bibi, com sua lábia e irrefutável capacidade de conquistar para si os rapazes que desejava, mexe de modo irremediável com os sentimentos do marombeiro. E o “puxador de ferro” se dá conta de que é sensível. E percebe que não é apenas “um pedaço de carne”. Começa então uma busca por ele deflagrada para valorizar o seu “eu interior”, o seu “conteúdo interior”. Junto a isso, demonstrar que não é inculto, ignorante. O livro de cabeceira passa a ser o dicionário. Por mais árduo que seja o uso das palavras aprendidas, nota-se e se admira a vontade desmedida do personagem de Ricardo em querer evoluir como ser humano, e não somente ser “um rostinho e corpo bonitos”. Entre idas e vindas, beijos ardentes, empurrões de lado a lado, noites de amor sem fim, e recusas unilaterais, o romance de Douglas e Abigail seguia seu curso. Até que uma agente de modelos, Dulce (Bianca Byington), surge, e oferece ao filho de Haidê proposta irrecusável. Antes, o moço se torna público pelo anúncio de uma cueca, ou para os mais antenados, “underwear”, fato que despertou o ciúme da neta de Vitória (Nathália Timberg). O irmão de Natalie Lamour resolve largar tudo a fim de ficar com quem lhe fora responsável pela radical mudança. A despeito da resistência da prima de Marina (Paola Oliveira), casam-se. Ele de branco. Ela de vermelho. Nem mais um golpe da garota da capa da revista “Fogo Alto” foi suficiente para desunir os dois. Falemos agora um pouco da carreira deste ator que tanto brilhou na novela das 21h de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, “Insensato Coração”, na Rede Globo, e que provou ao público saber fazer comédia. O leonino Ricardo se formou em Administração de Empresas, e ocupava um alto cargo executivo. Dava palestras cujo mote era a vocação que devemos seguir para nos sentirmos realizados. Até que se viu vítima dos próprios ensinamentos, e observou que a história dele estaria na verdade nas Artes Cênicas. Executivo à tarde, estudante de teatro à noite. Os pais só vieram a saber de sua decisão quando veio a passar no teste para a Oficina de Atores da Rede Globo. Não mais parou, tendo participado de seriados, folhetins e peças. Interpretou Harold, em “Bang Bang”, de Mário Prata e Carlos Lombardi; Cândido, em “Pé na Jaca”, de Carlos Lombardi; Fábio, em “Malhação”; o mulherengo Komal, de “Caminho das Índias”, obra de Gloria Perez; o Vito Tadei da minissérie “Dercy de Verdade”; o motorista Inácio Paixão e o cantor Fabian Brunini em “Cheias de Charme”, de Izabel de Oliveira e Filipe Miguez e o Thales de “Amor à Vida”, de Walcyr Carrasco. No teatro, espetáculos de Hamilton Vaz Pereira, “Colapso”, e uma adaptação do “best-seller” de Lolita Pille, “Hell”, ao lado de Bárbara Paz, sob a direção de Hector Babenco. Enfim, os escritórios, mesas de reunião, ternos e gravatas perderam Ricardo Tozzi. Quem ganharam foram ele e os telespectadores. Sendo assim, só há uma maneira de terminar este texto: ” ‘Formou’, Ricardo Tozzi!”
Atualmente, o ator Ricardo Tozzi interpreta na novela das 19h da Rede Globo, escrita por Izabel de Oliveira e Filipe Miguez, “Geração Brasil”, o fundador da ONG Plugar, Herval Domingues, um jovem idealista da área de Informática, que mostrará no entanto possuir falhas de caráter.