
Monique Gardenberg participou de debate, em maio do ano passado, em cinema universitário de Niterói, no Rio de Janeiro, após a exibição especial de seu filme “Paraíso Perdido”, uma joia cinematográfica que exalta dentro de uma família o irresistível repertório musical “brega” do país
Em 16 de maio do ano passado, o Cine Arte UFF, que integra o Centro de Artes UFF, em Niterói, no Rio de Janeiro, contou com a presença da cineasta, diretora teatral, produtora e roteirista Monique Gardenberg no debate após a sessão especial de seu último filme, o encantador, sensível e poético “Paraíso Perdido” (2018). Monique, celebrada no cinema com obras como “Jenipapo” (1995), “Benjamim” (2004) e “Ó, Paí Ó” (2007), mergulha fundo, com nítida paixão pessoal, no fascinante universo do cancioneiro romântico do país, com pérolas musicais tachadas por muitos, de forma pejorativa, como bregas.
Trilha sonora fascinante de Zeca Baleiro, elenco impecável encabeçado por Erasmo Carlos, roteiro bem estruturado da própria diretora centrado em múltiplos e peculiares personagens, além da fotografia do experiente Pedro Farkas valorizam sobremaneira o longa
Gardenberg, que também assina o roteiro (rico em costuras e desdobramentos narrativos) se vale desta abundante musicalidade (trilha fantástica de Zeca Baleiro, que inclui Márcio Greick , Reginaldo Rossi e Roberto Carlos) para alinhavar as intrincadas e surpreendentes ligações entre os seus adoráveis e diversificados personagens, os quais possuem, em sua maioria, como refúgio seguro das hostilidades urbanas, o clube noturno “Paraíso Perdido”. O clube, que apresenta shows tão pitorescos quanto memoráveis (um dos pontos altos do filme), pertence ao patriarca José (Erasmo Carlos em atuação iluminada), pai de Ângelo (Julio Andrade, irresistível) e avô de Ímã, uma talentosa drag queen (Jaloo, vibrante) e Celeste (Julia Konrad, precisa na fragilidade). Ímã é filho da detenta Eva (Hermila Guedes, uma atriz de personalidade forte), que se apaixona pela colega Milene (Marjorie Estiano explorando a sua versatilidade). O gatilho da história ocorre a partir do encontro, numa blitz, entre o policial Odair (Lee Taylor, seu domínio em cena impressiona) e o cantor Teylor (Seu Jorge, inspiradíssimo), que o convida para ir ao clube. Odair é filho de Nádia (Malu Galli, soberba), uma cantora que sofreu uma agressão que a deixou surda. Humberto Carrão como Pedro, o amante de Ímã, defende com nobreza o seu trabalho mais desafiador, e Felipe Abib, como Joca, o pai do filho que Celeste está esperando, realiza uma elogiável composição. Louvado pela fotografia inebriante de Pedro Farkas, “Paraíso Perdido” é um tesouro cinematográfico atual que revela o seu despudor em afirmar que o amor pode ser diverso e honesto, ao som de todas as canções, inclusive as mais “bregas”.
Assista ao trailer do filme: