A história se inicia com uma forte discussão de casal (Vladimir Brichta e Camila Morgado). Tudo leva a crer que é um casamento falido. E realmente era. No local de trabalho, Ary, papel de Brichta, aconselha-se com um amigo (Bruce Gomlevski). Este o chama para sair para “afogar as mágoas”. E assim o homem desiludido decide fazer. Na rua, figuras de fato urbanas nele se esbarram. Uma delas é interpretada por Osmar Prado. Algo como um “flâneur”, um “bon vivant”, um “de bem com a vida”, possuidor de teorias. Ocorre então que Ary vislumbra uma linda mulher, Vera (Alinne Moraes). Pareceu-nos que surgiria ali uma bonita “love story”. A gargantilha que o rapaz havia comprado para a esposa fora dada para a outra. A outra da rua. Porém, antes disso, o desalentado moço peregrina pela noite paulistana. E encontra tipos a ela comuns. Por vezes, lembrei-me de um filme, só que noutro contexto, de Martin Scorsese, “Depois de Horas”, no qual o personagem de Griffin Dunne perambula madrugada adentro vivendo várias experiências. Ademais, percebi no desenho do “character” de Vladimir algo “godardiano”, por causa dos conflitos internos, existenciais que o perturbavam. Pode ter havido sim uma influência da “Nouvelle Vague”. Notou-se também um olhar cinematográfico de Bruno Barreto, o diretor, na composição das cenas. Houve duas bem bonitas: um guarda-chuva é levado pelo vento; e Vera escapa do esguicho de uma mangueira de água na calçada. Se gostei? Sim, gostei.