Natalie Lamour (Deborah Secco) é exuberante, possui corpo escultural e chama a atenção de homens e mulheres por onde passa. Isto é bom ou ruim? Não sei se é de fato bom, pois Natalie busca essa atenção a qualquer custo. E por agir assim, paga alto preço. Que preço? O preço de não ser respeitada, por mais que queira provar aos outros de que é merecedora de respeito. Um exemplo disso se dera quando fora convidada para fazer “presença” na feijoada de um endinheirado (José D’Artagnan Júnior). Ao final do evento, na hora de receber o cachê, ouvira de quem iria lhe pagar uma proposta como se fosse uma “garota de programa”. Diante da negativa, o homem fala de suas fotos de nudez. Natalie retruca, e assevera que são “fotos artísticas”. Ela realmente acredita nisso. Há convicção nas palavras. Dá meia-volta, e não se “vende”. Não se “vende”, porém deseja um marido rico. Isto não é “se vender” de alguma forma? A personagem criada por Gilberto Braga e Ricardo Linhares para “Insensato Coração” é contraditória na própria natureza. Ela não está só, pois todos somos em maior ou menor grau contraditórios. A questão é como lidamos com nossas contradições, das quais não podemos escapar. Voltando a Natalie, houve em certo capítulo uma bonita cena entre ela e a mãe Haidê (a sempre ótima Rosi Campos): a moça perguntou a quem a concebera se com o dinheiro que ganhava não comprava nada para ela; Haidê na sua inocência comovente responde que gostaria de comprar uma cobertura para bolo. O fato demonstrou que Natalie Lamour gosta da mãe, e se preocupa com ela. Levou-a também a um restaurante japonês, e de modo carinhoso, ensinou-lhe os nomes dos pratos. Há saída para Natalie. Haidê almeja que tenha estabilidade. Eu completo: estabilidade