Júlio. Júlio era o nome de seu personagem na novela de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, “Insensato Coração”. Júlio aproximava-se do que podemos chamar de um “cara normal”. O que seria um “cara normal”? Um homem casado, fiel à mulher, pai de duas moças, e trabalhador. Era correto. Cometera apenas um deslize que culminou na sua demissão da empresa de Raul (Antonio Fagundes). Deslize este cometido por influência do mestre dos deslizes: Léo (Gabriel Braga Nunes). Ele era de certo modo submisso à esposa Eunice (Deborah Evelyn). Todavia, já houve instantes em que sua voz soou mais alta. Em determinado momento, viu-se em uma situação complicadíssima para um pai, em que questões de cunho moral estavam implicadas. Júlio indignava-se ao ouvir as conversas regadas ao mais desprezível machismo havidas entre o designer André (Lázaro Ramos), William (Leonardo Carvalho) e Beto (Petrônio Gontijo). De fato era de se ficar indignado. E toda esta fase da trama possibilitou a Marcelo Valle a chance de realizar boas cenas no folhetim. Destaco a que Júlio flagrou a filha Leila (Bruna Linzmeyer) saindo do carro do designer. Naquela precisa ocasião, todas as fúria e revolta motivadas pelo sentimento de defesa da honra de quem cuidara por toda uma vida foram percebidas na interpretação de Marcelo. E não parou por aí. Houve um sério diálogo entre ele e a jovem de lindos olhos azuis que não terminou nada bem. Terminou em tapa na cara do pai, e expulsão da filha de casa. Difícil foi a resolução deste problema familiar. Um pai de uma filha que não correspondia aos seus anseios. E uma filha de um pai que julgava não entender as razões dos seus atos. Para mim, é delicado demais falar deste assunto, pois pode se correr o risco de se cair em julgamentos morais. O tempo se encarregou de clarificar as posições e pensamentos de cada um até que se chegasse a um consenso. Podemos agora comentar um pouco sobre a carreira do produtor, ator e diretor Marcelo Valle. Marcelo é do Rio de Janeiro e se formou como ator na Faculdade da Cidade, que à época estava sob a direção de Bia Lessa. Dedicou-se aos públicos adolescente e infantil por determinado período, chegando a ganhar o Prêmio Coca-Cola de Melhor Produção por “Os Três Mosqueteiros”, adaptação da obra de Alexandre Dumas. Lecionara em diversos lugares, inclusive na Casa de Cultura Laura Alvim e no O Tablado. Prosseguindo no campo teatral, é indispensável ressaltar que Marcelo Valle é integrante de uma conceituada companhia teatral, a Cia dos Atores. Além de atuar, produzira vários espetáculos na mesma. Ademais, o intérprete também trabalhou com outros diretores, inclusive Ernesto Piccolo, que o dirigiu nos mega sucessos “Divã” (com Lilia Cabral e Alexandra Richter) e “A História de Nós 2” (novamente com Alexandra, e que continua em cartaz com grande êxito comercial; há pouco tive o prazer de assistir, e lhes garanto que a encenação é ótima). Estivera ainda em “Um Certo Van Gogh”. No cinema, o artista é bastante lembrado pelo Capitão Oliveira de “Tropa de Elite”, de José Padilha. Já na televisão, participara de vasta gama de seriados, da minissérie “Incidente em Antares”, e das telenovelas “Celebridade”, “Paraíso Tropical” e “Viver a Vida”, sendo que a primeira e a segunda são de autoria de Gilberto Braga e colaboradores. A terceira, como sabem, foi escrita por Manoel Carlos. Millôr Fernandes intitulou uma de suas montagens como “A História é uma História”. Pois esta é a história de um certo Marcelo Valle.