Foto: Álvaro Villarubia para Schön #12 magazine
Estava eu em plena madrugada de domingo numa das festas mais badaladas do Rio de Janeiro, na qual se vislumbravam novas tendências, tanto no que concerne à moda, quanto à música eletrônica (com destaque para a “house music”) e comportamento de modo geral. Era lugar comum esbarrar em celebridades. Márcio Garcia, Camila Pitanga, Daniela Mercury, Maria Maya e Rafaela Fischer puderam ser vistos na prestigiada “party” em diferentes ocasiões. A minha presença era confirmada sempre que havia uma de suas edições, pois era um evento esporádico. E foi naquela madrugada que me deparei com a figura feminina de traços faciais cubistas que remetem às obras de seu conterrâneo, o espanhol Pablo Picasso, Rossy de Palma. Rossy, que é tida como uma das atrizes fetiche do cineasta também espanhol Pedro Almodóvar, assim como Carmem Maura, Marisa Paredes, Penélope Cruz, Victoria Abril e Veronica Forqué, participou de muitos de seus filmes, alguns sucesso de público e crítica. São eles: “A Lei do Desejo”, “Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos”, “Tie Me Up! Tie Me Down!”, “Kika” e “A Flor do Meu Segredo”. Mas vocês devem estar se perguntando como Rossy foi parar no mesmo lugar para o qual fui. Alguém deve tê-la levado. Sim, levaram-na. Simplesmente Caetano Veloso e Paula Lavigne. Todos sabem que Caetano é amigo de Almodóvar. Claro que não perdi a chance de conversar com um dos ícones do Tropicalismo. Caetano Veloso, com sua voz melodiosa, foi bastante amável. Voltemos a Rossy de Palma. Pensei algo próximo: “Tenho que falar com Rossy, pois nunca fiz algo parecido com uma artista internacional”. Fui em sua direção. Ela estava de costas. Cutuquei-a, e quase sussurrando, chamei-a: “Rossy, Rossy, Rossy querida”. Ao se virar arregalou seus olhos com o semblante admirado devido ao assédio que não se esperava de um brasileiro para lá de extrovertido. Prefiro este adjetivo, abandonando os demais. Teria então naquele momento que pronunciar no mínimo algumas palavras (em espanhol!) a fim de que se justificasse a abordagem. Soltei: “Bienvenida, bienvenida querida!”. E apontando para a minha bochecha, disse-lhe com ares de pedido: “Beso, Beso”. Ganhei dois beijos como os cariocas e seus vizinhos costumam fazer. Despedi-me da atriz que ganhou prêmio especial no Festival Internacional de Cinema de Locarno, na Suíça. Saí satisfeito com o objetivo atingido. Havia falado e ganhado dois beijos de uma atriz internacionalmente famosa. Já tinha assunto para contar em casa e para os amigos. Cultivo a esperança de que a intérprete originária de Palma de Mallorca, e que já desfilou para Jean-Paul Gaultier e Thierry Mugler, possa ter pensado: “Como o povo brasileiro é simpático…”. Procuro não pensar o contrário. Perguntada certa vez se os contornos de seu rosto pouco comuns a incomodavam, Rossy afirmou que não. Que se achava bonita como era. E posso lhes garantir que de fato é bonita. Uma beleza diferente que pode até se sobressair mais que uma beleza padrão. Este é o fim de um peculiar episódio da minha vida. Lembrando-me do aclamado longa-metragem “A Rosa Púrpura do Cairo”, de Woody Allen, senti-me como se tivesse adentrado na tela grande de um cinema, e num filme qualquer de Almodóvar contracenado com Rossy de Palma. E com direito a dois “besos”!