Um homem de bonita estampa que estava acostumado ao conforto promovido por sua família que em tempos idos era pertencente à alta sociedade carioca. O núcleo familiar é um tanto quanto desestruturado. O pai Arturo (Stênio Garcia) levou o clã à bancarrota ocasionada por investimentos mal feitos e inoportunos. A mãe Isaurinha (Nívea Maria) esconde um segredo do passado (provavelmente um caso de adultério com o falecido marido de Leonor, defendida por Nicette Bruno), e para complicar ainda mais a falta de um emprego que lhe apetecesse e um desgaste contínuo com sua até então mulher Antonia (Letícia Spiller). Com o suposto crescimento profissional da esposa, a deterioração matrimonial ganhou esboços cada vez mais perceptíveis. Brigas, brigas, brigas… Tudo aos olhos de uma criança, Larissa (Kíria Malheiros), fruto do enlace. A aproximação de Carlos (Dalton Vigh), antigo amigo de Celso, junto à bela loira só fez recrudescer o desmoronamento do casal com prazo estabelecido. O beijo existente entre ela e o falso enteado de Leonor foi a gota d’água para o epílogo drástico do casamento. Porém, uma questão desta triste história conjugal não deve ser descartada: Celso ainda ama perdidamente Antonia. E todas as suas atitudes (que acabam voltando-se contra ele mesmo) são motivadas por este pujante sentimento. O ciúme cega-lhe. E o faz infringir até a legalidade. Disputou com veemência a guarda da filha. Usou trunfos para tê-la só para si. A guarda compartilhada não se mostrou eficiente para a educação da menina. Um elemento que assombra muitos casais pelo mundo afora é abordado pela autora de “Salve Jorge”, Gloria Perez: a alienação parental (ocorre quando um dos responsáveis pela guarda do filho, seja o pai, seja a mãe, insufla a cabeça da criança com permanente campanha que leva à desmoralização do outro possuidor da benesse concedida pela lei). O tema fora até abordado no programa “Fantástico”. Celso tentou estabilizar a sua vida, apostando num namoro com Érica (Flávia Alessandra), entretanto como só falava de sua ex-mulher, o romance teve breve duração. Celso não é um mau homem. É apenas um indivíduo atormentado pela perda do amor, que antes poderia até não conseguir identificar o grau de sua amplitude. Quanto à carreira artística de Caco Ciocler, começou cedo no teatro amador, e cursou a EAD (Escola de Arte Dramática). Ao encenar a peça “Píramo e Tisbe” (premiado como melhor ator coadjuvante), assistido pelo diretor Luiz Fernando Carvalho, recebeu o convite para participar da primeira fase de o “Rei do Gado”, como Jeremias Berdinazzi (prêmio APCA de Revelação Masculina). Um outro personagem na TV que lhe trouxe projeção fora o Bento Coutinho da minissérie épica “A Muralha”, da Rede Globo. Personificou um judeu na novela “Um Anjo Caiu do Céu”. Em outra minissérie de teor histórico escrita por Carlos Lombardi, todavia com bastante tom cômico, emprestou seu talento ao viver o irmão de D.Pedro I e filho de Carlota Joaquina. Mais um momento relevante da História do Brasil lhe apareceu à frente: A Revolução de 32 (no documentário para a TV Cultura “A Guerra dos Paulistas”). Fez par romântico com Deborah Secco em “América”, de Gloria Perez. Logrou solidez na sua popularidade. Foi dançarino de tango em “JK” e fotógrafo em “Páginas da Vida”, folhetim de Manoel Carlos. Contracenou com Marjorie Estiano por duas vezes: uma em “Duas Caras” e a outra em “Caminho das Índias”. Sob a batuta de João Emanuel Carneiro, esteve na intrigante série “A Cura”. Ainda na televisão, bastante participações especiais, além das já mencionadas. No teatro, merece destaque a estreia em “Ecos”. Percorreu as veredas elizabetanas do bardo inglês William Shakespeare em “Rei Lear” (Prêmio Qualidade Brasil de Melhor Ator). Vivenciou uma experiência inusitada nos palcos ao apresentar o monólogo “45 Minutos”, cuja duração era a mesma do título. Consistia na interatividade constante com a plateia. Um enorme desafio. Conheceu bem de perto a dramaturgia de Bernard-Marie Koltés, ao dirigir “Na Solidão dos Campos de Algodão” (Prêmio Quem de Melhor Diretor). Continuou nas coxias, só que desta vez como intérprete, em “Casting”. Fora visto em “Mary Stuart”, “Salomé”, “Os Sete Afluentes do Rio Ota”, “Antonio e Cleópatra”, “A Construção” e “O Desaparecimento do Elefante”. Na tela grande, já esteve ao lado de Elliot Gould. Vários filmes marcaram sua presença nos cinemas: “Bicho de Sete Cabeças”, “Minha Vida em Suas Mãos”, ” O Xangô de Baker Street”, “A Paixão de Jacobina” (com Letícia Spiller), “Avassaladoras”, Desmundo”, “Sexo, Amor e Traição”, “Vinícius” e “Meu Pé de Laranja Lima”. O curta “Limbo” também lhe enriquece o currículo (houve premiações para este gênero cinematográfico). As versões históricas parecem fazer parte de sua trajetória profissional, visto que deu vida a Luiz Carlos Prestes, ao lado da Olga de Camila Morgado, em filme cuja direção coube a Jayme Monjardim. As diferenças sociais entre dois amigos foram retratadas em “Quase Dois Irmãos”, de Lúcia Murat. Integrou também “Quanto Vale ou é por Quilo?, de Sergio Bianchi, um longa-metragem de contexto fortemente crítico. Caco Ciocler já fez as vezes de roteirista, ator, diretor e editor no curta “Trópico de Câncer”, exibido no Festival do Minuto (Tema Livre). Prêmio de Melhor Filme. No Cine Pernambuco, melhor ator em “Família Vende Tudo”. “Dois Coelhos”, obra inovadora de Afonso Poyart, focada na mistura do eficiente roteiro aos admiráveis efeitos visuais lhe conferiu frescor em vivência nova. Está no elenco de “Disparos”, com Dedina Bernardelli. Encarnou um rabino em “O Caminho dos Sonhos”. E para concluir, voltemos ao Celso de “Salve Jorge”. O que lhe resta, e há esperanças, constitui-se no ato de recolher os fragmentos espalhados pelas ruas vazias de suas relações amorosas, juntá-los, e aí sim vir a ter um amor completo e emoldurado. Desde que não falte um único fragmento qualquer.