Foto: Globo Filmes
Tendo como premissa o desfile campeão da Mangueira em 2016, que homenageou a grande intérprete Maria Bethânia, “Fevereiros”, ao retratar também a diversidade religiosa da cantora, encaixa-se com pertinência nesses tempos de obscurantismo e intolerâncias que estamos vivendo
Sábado passado, dia 2 de fevereiro, Festa da Purificação de Nossa Senhora (santa de devoção de Maria Bethânia), coincidentemente ou não, vi, no Cine Arte UFF, em Niterói, no Rio de Janeiro, o lindo, comovente, elucidativo e pertinente (levando-se em conta as névoas de obscurantismo e intolerância, inclusive religiosa, que pairam sobre as nossas cabeças) documentário “Fevereiros” (2017), de Marcio Debellian, Melhor Filme no 10º In Edit Brasil. O doc, lançado em 31 de janeiro, parte da premissa do desfile campeão da Mangueira, “Maria Bethânia: As Meninas dos Olhos de Oyá”, em homenagem à grande intérprete da música brasileira, em 2016.
Com depoimentos espontâneos, e até divertidos de Caetano Veloso e Chico Buarque, o documentário de Marcio Debellian nos revela uma Maria Bethânia iluminada e bela, contando-nos com um sorriso sempre aberto as suas vivências religiosas em Santo Amaro da Purificação, município onde nasceu, no Recôncavo Baiano
A obra, plena em materiais preciosos de arquivo (como o encontro de Jorge Amado e Mãe Menininha do Gantois), com depoimentos espontâneos, esclarecedores, e até divertidos de Caetano Veloso (sua história sobre Julio Cortázar é ótima), Chico Buarque, a irmã e poeta Mabel Velloso, o historiador Luiz Antonio Simas, o carnavalesco Leandro Vieira e a porta-bandeira Squel Jorgea, com roteiro sensivelmente estruturado pelo próprio Debellian (também produtor) e Diana Vasconcellos, traz uma Maria Bethânia iluminada, fascinante, bela, sorridente confessando ao público suas saborosas vivências em Santo Amaro da Purificação, no Recôncavo Baiano (e as festas sagradas da qual participa), sua inabalável religiosidade sincrética (a cantora é filha de Oxum), e seu incontido amor à verde e rosa desde 1965, quando veio para o Rio de Janeiro. Vibrantemente musical, com direito a shows solo e com Chico e Caetano, fotografado com apuro por Miguel Vassy e Pedro Von Kruger, “Fevereiros” nos mostra uma artista brilhante e humilde, admirada nos quatro cantos do Brasil, em constante processo de evolução pessoal e espiritual , sendo uma prova vívida de que há espaço para todas as diferenças, não só no mês de fevereiro, mas nos onze meses restantes do ano.
Assista ao trailer: