Foto: Divulgação TV Globo/Alex Carvalho
Uma das personagens que desde o início da trama das 21h da Rede Globo, escrita por Walcyr Carrasco, “Amor à Vida”, tem despertado uma atenção especial do público pelas importantes questões nas quais está inserida (virgindade, ditadura da beleza, obesidade, dietas radicais sem orientação médica e “bullying”) é Perséfone, interpretada com doçura ímpar, emoção, talento e dosagens calculadas de humor e drama que os tornam equânimes, pela recifense que se iniciou na profissão artística na adolescência, Fabiana Karla. Um time seleto de atrizes é como Fabiana, que detém plena dominação sobre aqueles dois gêneros teledramatúrgicos, o que inevitavelmente a faz imprimir à enfermeira do Hospital San Magno credibilidade, provocando-nos comoção. Perséfone, cujo nome se origina na mitologia grega, e significa deusa das ervas, flores, frutos e perfumes, passou por “poucas e boas” até perder a virgindade com “dignidade”, como ela insistia que o fosse. Sua busca ensandecida de não mais ser virgem em uma noite de amor, causou-lhe série de infortúnios envolvendo um colega de trabalho sadomasoquista, o auxiliar de enfermagem Ivan (Adriano Toloza), um entregador de pizza afoito e explorador, assaltantes (dentre eles, o ator Paulo Lessa) que fizeram a “limpa” em seu “apê”, e um garoto de programa contratado pelos “amigos de plantão” Michel e Patrícia (Caio Castro e Maria Casadevall, respectivamente). Todavia, a “ajuda” acaba sendo um “tiro n’água”. Muitos não escaparam de seu aflito assédio: o psicólogo Dr. Renan (Álamo Facó), o funcionário da lanchonete do hospital Valentin (Marcelo Schmidt), o fisioterapeuta Daniel (Rodrigo Andrade) e o Dr. Vanderlei (Marcelo Argenta), especialista em reprodução assistida. E no meio de todo esse processo, sofreu e ainda sofre um dos mais cruéis “bullying” da atualidade, ou seja, o que se baseia na dubitável e perigosa ditadura da beleza. O seu sobrepeso (fato que não diminui de modo algum a graça, o charme e o poder de sedução de um ser feminino com face bonita) serviu de motivação para piadas e chistes desprovidos de quaisquer resquícios de graça. Inclusive um de seus costumeiros “algozes” foi um endocrinologista, o já citado Dr. Michel. Absurdo. Os apelidos e chacotas que lhe foram lançados só reafirmam o que já sabíamos de antemão: o homem se apraz em exibir sem vergonha sua porção má, que vem num “pacote de preconceitos”. Daniel, cansado das “peguetes”, começa a enxergar Perséfone com outros olhos. Ignora sua forma física, dando o real valor aos caráter e capacidade de amar. Decide então “engatar” um romance que acaba em casamento com a mulher que gosta de se referir aos rapazes formosos de “boy magia”. Entretanto, com a reprovação injustificada da família e companheiros de serviço, o irmão solidário de Linda (Bruna Linzmeyer) não se mostra solidário consigo mesmo nem tampouco com Perséfone. A tibieza de Daniel é evidenciada nas sucessivas cobranças de que sua cônjuge emagreça não por razões de saúde e sim para agradar à sociedade “perfeita”, e se adaptar aos seus padrões “carrascos” (sem trocadilhos). A meiga morena que emprestou seu apartamento para noitadas “calientes” da amiga confidente Patrícia, e que definiu sua lua de mel como “lua de pimenta”, devido ao prazer sexual nunca sentido, percebe-se triste e frustrada, e se entrega sem lógica a dietas estrambóticas. Seu belo sorriso está se fechando aos poucos, com os lábios ainda lambuzados das melancias que degustara. Uma Magali de Maurício de Sousa vestida de rosa claro. A autoestima “despenca”. A saúde cambaleia. Precisa ouvir urgente de outrem: – Perséfone, você é bonita. Com o gradativo afastamento e indiferença do marido que reabilita pacientes, mas não “reabilita” seus princípios, parece-nos que amor legítimo “surgiu no jaleco alvo” do Dr. Vanderlei, que também diz ser vítima de “bullying”, graças à sua avantajada estatura. Um exemplo é que o alcunham de “coqueirão”. Vanderlei oferece afeto, compreensão e clareza dos acontecimentos à mente aturdida e confusa da jovem. A Perséfone de Fabiana Karla, que estreou na TV como Célia, no folhetim de Manoel Carlos, “Mulheres Apaixonadas”, finalmente nos indica ter encontrado o seu verdadeiro “boy magia”. No que alude à trajetória da artista, possui bem-sucedida carreira tanto na televisão quanto no teatro e cinema. Além das participações nos seriados “A Grande Família” e “Linha Direta”, na emissora carioca, pertence ao elenco fixo do humorístico “Zorra Total” desde 2004, no qual destacamos Dilmaquinista e Luzicreide. O retorno aos folhetins veio de quem justo lhe deu Perséfone, Walcyr Carrasco. O autor a presenteou com a divertida Olga Bastos do “remake” de “Gabriela”. O cinema não lhe deu as costas, e Karla frequentou estúdios e locações de filmagem nos longas “Trair E Coçar É Só Começar”, de Moacyr Góes, “A Máquina”, de João Falcão, “Xuxa Gêmeas”, de Jorge Fernando, “O Palhaço”, de Selton Mello e “Casa da Mãe Joana 2”, de Hugo Carvana. Nos palcos, depois de infantis, conquistou a crítica com o espetáculo de Neil Labute, “Gorda”. Não deixou a música de lado, e colocou a voz numa das faixas de um álbum da dupla Kleiton e Kledir, e parodiou a cantora americana Katy Perry, como Adiposa Perry, no vídeo criado pelo grupo de humor Galo Frito, cuja canção foi o êxito comercial “California Gurls”. Com o final de “Amor à Vida” chegando, levantamos convictos bandeiras de torcida para que as magias se encontrem. A magia do “boy” e a magia da “girl”, e se forme um “casal magia”. E só para terminar, eu gostaria de lhe dizer algo, Perséfone: – Você é bonita.
Mais um texto primoroso e de sensibilidade ímpar!
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Olá, minha querida Adriana. Que felicidade enorme receber um comentário tão educado seu. Muito obrigado. Um beijo!
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Texto lindo, Paulo, escrito com tanto capricho, cuidado e conhecimento! Parabéns
por mais um, entre tantos textos maravilhosos!!!
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Olá, minha querida Ana Catarina. Fico extremamente feliz com os seus reconhecimento e generosas palavras, que me são muito importantes. Agradeço não somente o que dissera, mas à menção aos outros textos. Um beijo!
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