No começo do programa, ao anunciar Selton Mello, Jô brinca que se trata de um ator "que está começando agora a sua carreira brilhantemente", e finge se esquecer do nome dele, indagando ao garçom Alex como se chama. Alex, com o sotaque espanhol que lhe é característico, diz: "Selton Mello". Jô Soares brinca dizendo que Selton é conhecido até no Chile. Foi a "deixa" para uma entrevista promissora. Selton, vestido de forma casual e clássica (blazer, camisa de botão azul anil, calça com bainha dobrada e tênis preto com detalhe em branco), com suas simpatia e simplicidade habituais, é perguntado sobre o longa "O Palhaço", no qual, além de ter dirigido, e escrito o roteiro junto com Marcelo Vindicatto, atua. Foi-nos dito que a estreia acontecerá no dia 28 de outubro, que a produção já fora apresentada nos Festivais de Paulínia, Gramado, do Rio, e após na Mostra de São Paulo. Foram aproximadamente dois anos entre o momento de Selton e Marcelo iniciarem o roteiro até a exibição. A produtora é Vânia Catani. O entrevistado passa a nos contar sobre a história do filme: um palhaço chamado Benjamim (Selton Mello) que julga estar perdendo a graça, e que no decorrer da trama redescobre o deleite da sua profissão. Cita Paulo José, e discorre sobre o prazer que fora trabalhar com ele. Há ainda no elenco, Álamo Facó, que interpreta João Lorota. O artista afirma que é de Passos, Minas Gerais, mas que fora criado no Rio de Janeiro, e que frequentava sim circos quando era criança. Afirmara que a ideia de se contar este enredo de modo cinematográfico surgiu como uma maneira de se discutir acerca da vocação, da escolha de cada um para as suas vidas, só que sob os olhos de um palhaço. Explica o porquê do nome Benjamim para o personagem que interpreta. Surgiu de um livro intitulado "Circo-Teatro – Benjamim de Oliveira", de Erminia Silva. Benjamim, segundo Selton, foi um escravo negro, menino, que fugiu com um circo, por volta de 1860, nele crescido, e que depois veio a fundar o próprio. E há detalhe curioso: o nome completo do papel é Benjamim Savalla Gomes. Savalla Gomes foi dado em homenagem ao palhaço Carequinha, que tinha este sobrenome. E Valdemar (Paulo José) serviu para homenagear outro grande artista circence, o Arrelia. Jô pergunta se há circo-teatro no filme. Selton assevera que há "uma espécie de auto". São mostradas então cenas do longa-metragem, que por sinal tem bela fotografia de Adrian Teijido e caprichados figurinos de Kika Lopes. Aliás, o circo retratado é o circo de pau fincado (o mais antigo). O entrevistador compara a estética circense a "felliniana". O enredo é atemporal. Há personagens como Meio Quilo, interpretado por Tony Tonelada (artista de circo de fato), e Dona Zaira, defendida por Teuda Bara, do Grupo Galpão. O ator comentou sobre a troca de experiências que houve entre ele, Selton, diretor, e Paulo José, diretor. Pergunta interessante é feita: se fora a primeira vez que Selton Mello e Paulo José interpretaram palhaços em suas carreiras. O intérprete responde que no caso dele seria a microssérie "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes, Adriana Falcão e João Falcão, baseada na peça homônima de Ariano Suassuna, e com relação a Paulo, teria sido "Shazam, Xerife & Cia", seriado de Walther Negrão. Para Selton, "eram palhaços, mas não oficialmente, não com nariz vermelho". Fala-se sobre os diversos tipos de palhaço, como o augusto, o esperto e o estúpido. Benjamim ora é esperto ora é ingênuo. Quanto ao gênero, é uma comédia que comove, e que aborda a identidade. Chega-se ao fim. Então, alô criançada, o circo chegou. E o circo chegou com "O Palhaço".
Obs: A entrevista do ator e diretor Selton Mello fora concedida a Jô Soares em seu programa, exibido pela Rede Globo, no ano de 2011.