Alana Cabral, Sophie Charlotte e Dira Paes são as três Graças do folhetim das 21h da Rede Globo/Estevam Avellar/TV Globo
“Três Graças” recebeu a incumbência de despertar o interesse do público que ficou ligado na adaptaçãode “Vale Tudo”
Após a enorme repercussão da adaptação de “Vale Tudo” (2025), coube ao experiente autor Aguinaldo Silva, dono de sucessos absolutos como a própria “Vale Tudo” original de 1988 (escrita ao lado de Gilberto Braga e Leonor Bassères), “Tieta” (1989) e “Senhora do Destino” (2004), todas obras exibidas na Rede Globo, e aos roteiristas Virgílio Silva e Zé Dassilva, manter em frente à TV o público que se delicia com um bom melodrama, aquele com direito a heroínas aguerridas (Gerluce, Sophie Charlotte), vilãs arquetípicas (Arminda, Grazi Massafera) e suas vítimas e o mocinho/galã (Paulinho Reitz, Romulo Estrela) que surge inesperadamente no meio do caminho das primeiras.
O tema das mães solo, problema de saúde pública e social do país, ocupa um espaço relevante na trama
Aguinaldo é um dos poucos novelistas atuais que sabe exatamente do que os espectadores gostam, e ciente disso, colocou todos os ingredientes mencionados e mais alguns temperos no primeiro capítulo da nova novela das 21h da Rede Globo. Neste entroito narrativo, apreciamos o legítimo debate sobre o problema de saúde pública e social das mães solo no Brasil, representado na figura das Maria das Graças (Sophie Charlotte, Dira Paes como Lígia e Alana Cabral como Joélly). O empresário inescrupuloso e dissimulado Feretti (Murilo Benício) que ganha fortunas ajudado pela amante Arminda com a adulteração de remédios nos lembra um fato bárbaro recente no noticiário. A doença neurológica com lapsos de memória de Josefa (Arlete Salles), mãe de Arminda e avó de Raul (Paulo Mendes) é negligenciada pelos próprios, não se tratando de uma surpresa no contexto real.
Direção caprichada e elenco que promete manter a sua força com talento
A direção caprichada com zooms acelerados e impactantes e tomadas aéreas espertas de drones do diretor artístico Luiz Henrique Rios, que conta com a direção geral de Luis Felipe Sá, indica que o profissional e seus colaboradores vieram para deixar suas marcas. O elenco lançou sua força e promete segurá-la com todo o talento (tivemos ainda as presenças de Gabriela Loran como a farmacêutica Viviane, Gabriela Medvedovsky como a estagiária policial Juquinha, Augusto Madeira como o porteiro Rivaldo e Rodrigo García como o assistente pessoal de Feretti Macedo). Enfim, a função do primeiro capítulo de uma novela que é a de nos mostrar um apanhado geral e interessante do que iremos assistir foi cumprida, valendo muito a pena sintonizar “Três Graças” depois do telejornal nacional.
A atriz, modelo e empresária Marina Ruy Barbosa na edição comemorativa dos 20 anos da São Paulo Fashion Week em sua temporada Verão 2016.
Carioca, Marina iniciou a sua bem-sucedida carreira na televisão em 2003 com uma participação na novela de Ana Maria Moretzsohn “Sabor da Paixão”, exibida às 18h pela Rede Globo.
Sua primeira personagem fixa em folhetins pôde ser vista em uma trama de Antônio Calmon e Elizabeth Jhin para a faixa das sete horas, “Começar de Novo” (na história interpretava Ana, uma menina misteriosa com poderes sobrenaturais, sendo uma espécie de “anjo da guarda” de Miguel, Marcos Paulo).
A sua escalação para uma produção do horário nobre, “Belíssima”, em 2005, foi um divisor em sua trajetória, fazendo com que se tornasse conhecida em todo o país (Sabina, o seu papel, tinha uma função importante na história; filha de Vitória, Cláudia Abreu, e Pedro, Henri Castelli, atraía as atenções de sua avó Bia Falcão, a grande vilã interpretada por Fernanda Montenegro).
No ano de 2006 a artista foi vista em três produções, a série educacional “Tecendo o Saber” e os especiais de fim de ano “Xuxa 20 anos” e “Natal Todo Dia”.
No ano seguinte foi uma das concorrentes do quadro do extinto “Domingão do Faustão” “Dança das Crianças” (também foi escalada para a telenovela de Walcyr Carrasco das sete horas da noite “Sete Pecados”, em que defendeu Isabel, filha dos personagens de Reynaldo Gianecchini e Giovanna Antonelli).
Em 2009 Marina atua em três funções diferentes, como apresentadora do “TV Globinho”, como uma das participantes do quadro “Super Chefinhos” do programa “Mais Você” e como Bia, uma adolescente no seriado “Tudo Novo de Novo”.
Seu folhetim seguinte, assinado pela autora Elizabeth Jhin, chamou-se “Escrito nas Estrelas”, produção levada ao ar às 18h em 2010, em que encarnava uma estudante de balé rebelde, Vanessa.
Posteriormente, em 2011, Marina ganha mais notoriedade ao personificar Alice, uma vilã que ao final se regenera, em “Morde & Assopra”, telenovela escrita por Walcyr Carrasco para a faixa das sete da noite.
No ano seguinte a jovem artista é escalada para compor uma estagiária de jornalismo, Juliana, em uma trama pensada pela autora Elizabeth Jhin para as 18h, “Amor Eterno Amor”.
O ano de 2013 marca o seu reencontro na teledramaturgia com o autor Walcyr Carrasco em sua novela das 21h “Amor à Vida”, em que compôs Nicole, uma órfã milionária prestes a sofrer um golpe urdido por Leila, Fernanda Machado, e Thales, Ricardo Tozzi, que acaba se apaixonando pela sua vítima (a personagem de Marina morre devido a uma grave doença que a acometia, no entanto faz aparições fantasmagóricas esporádicas para o seu pretendente).
Seu próximo trabalho em novelas seria determinante em sua carreira já que o seu papel, Maria Ísis, em “Império”, trama do horário nobre escrita por Aguinaldo Silva, seria o primeiro em que a atriz representava em uma idade adulta, o que lhe permitiu formar um casal com o ator Alexandre Nero, José Alfredo, obtendo grande aceitação e torcida do público.
Em seguida, ao lado de Johnny Massaro, embrenha-se em um mundo fabular com diversas influências estéticas, inclusive o filme do cineasta americano Tim Burton “A Noiva-Cadáver”, de 2005, que serviu como inspiração, na série de Cláudio Paiva, Guel Arraes e Newton Moreno “Amorteamo”, como Malvina, uma morta-viva com traços de vilania.
Um outro ponto de virada em sua carreira pôde ser acompanhado em “Totalmente Demais”, folhetim das 19h criado e escrito por Rosane Svartman e Paulo Halm, em que, como a protagonista Eliza, incorporou uma jovem do interior, quase vítima de abuso de seu padrasto, moradora de rua na cidade grande, que acaba se tornando uma modelo internacional.
Um de seus papéis mais impactantes viria logo depois na minissérie de Manuela Dias “Justiça”, na qual representou Isabela, uma moça rica e fútil que é assassinada pelo seu noivo (Jesuíta Barbosa) ao ser flagrada o traindo. Sua mãe, a professora Elisa, Débora Bloch, decide buscar justiça pela morte brutal de sua filha.
Após a impactante participação na minissérie Marina tem de enfrentar um novo desafio em sua carreira, protagonizar, ao lado de Romulo Estrela e Bruna Marquezine, a novela passada na época medieval escrita por Daniel Adjafre “Deus Salve o Rei”, trama das sete da noite em que representou Amália (sua personagem disputava o amor do príncipe Afonso, Romulo, com sua antagonista, a princesa Catarina, Bruna).
Em pouco tempo a artista já estava escalada para ser a protagonista da próxima telenovela das 21h, “O Sétimo Guardião”, escrita por Aguinaldo Silva, em que vivia Luz, uma moça que se distinguia pelos seus poderes especiais (na trama, seu par romântico coube a Bruno Gagliasso; Luz enfrentava as maldades perpetradas por Valentina, Lília Cabral).
Marina está no elenco internacional da minissérie de Mauro Lima “Rio Connection”, que após estrear no exterior no ano passado figura como um dos produtos disponíveis no Globoplay (neste projeto dos Estúdios Globo, Sony Pictures Television e produtora Floresta, a atriz criou a personagem Ana).
Nas salas escuras dos cinemas a intérprete pôde ser vista em três produções, “Xuxa e o Tesouro da Cidade Perdida” (direção de Moacyr Góes), “Sequestro Relâmpago” (direção de Tata Amaral) e “Todas As Canções de Amor” (direção de Joana Mariani).
Nos palcos, esteve em espetáculos como “Chapeuzinho Vermelho – O Musical”, como a própria, e “7 – O Musical”, da dupla Charles Möeller e Cláudio Botelho.
Atualmente, Marina Ruy Barbosa está no ar como a grande vilã de “Fuzuê”, novela criada e escrita por Gustavo Reiz para a faixa das 19h da Rede Globo, com supervisão de Ricardo Linhares e direção artística de Fabrício Mamberti (como Preciosa Montebelo, um papel totalmente diferente de tudo o que já havia feito na TV, Marina expõe toda a faceta maquiavélica, gananciosa e preconceituosa da empresária que não mede esforços para atingir os seus objetivos).
Alanis Guillen vive a arredia Juma Marruá no remake de “Pantanal”/Foto: TV Globo/João Miguel Júnior
“Pantanal” conta a saga de uma família em uma região que nos é tão distante mas ao mesmo tempo tão íntima
As dúvidas quanto ao sucesso de uma novela fazem parte de sua realização. As dúvidas quanto ao sucesso de um remake são ainda maiores. Bruno Luperi, indômito como um peão, recebeu o aval de seu avô, o grande contador de causos Benedito Ruy Barbosa, para adaptá-la para a Rede Globo em seu horário nobre (Bruno foi um dos colaboradores de Benedito em “Velho Chico”, novela exibida em 2016 pela mesma emissora). Desde a sua estreia no final de março o país tem parado em frente à TV para acompanhar a saga de uma família em uma região que nos é tão distante mas ao mesmo tempo tão íntima. A trama, que conta com a magistral e inebriante direção artística de Rogério Gomes e Gustavo Fernández, resgata profundamente o Brasil que estava silenciado dentro de nós. Além de nos entreter e emocionar, os capítulos de “Pantanal” despertam a nossa consciência sobre o inacreditável patrimônio ambiental que possuímos, recrudescendo nossas ânsias de luta em preservá-lo (e a nós mesmos).
O elenco da trama das 21hassume com brilho a alma dos personagens
Ademais, não são vezeiras as ocasiões em que se reúne em uma obra, dentre revelações e veteranos, tantos atores que assumiram com brilho a alma de seus personagens. Alanis Guillen, como Juma, transforma o selvagem em belo, encantando-nos com seu enorme talento. Par perfeito de Alanis, Jesuita Barbosa nos causa distintas emoções com a complexa construção de seu Jove. E o que se pode dizer da firmeza de Guito (Tibério), do magnetismo de Gabriel Sater (Trindade), da sensibilidade de José Loreto (Tadeu), do desejo ensandecido de Leandro Lima (Levi) e da crueza desconcertante de Juliano Cazarré (Alcides)? E a jovem atriz Bella Campos que transita tão bem pela ambiguidade de Muda? Quanta luz e força há em cena quando vemos Osmar Prado (Velho do Rio), Marcos Palmeira (José Leôncio), Dira Paes (Filó), Almir Sater (Eugênio), Irandhir Santos (José Lucas), Camila Morgado (Irma), Murilo Benício (Tenório), Isabel Teixeira (Maria Bruaca) e Selma Egrei (Mariana). Julia Dalavia, como Guta, mistura doçura e maturidade em seus momentos. Todos são potências naturais do Pantanal.
História, música e imagens provocam a contemplação do público
“Pantanal”, com sua história envolvente, lindas trilha sonora (produção musical de Rodolpho Rebuzzi e Rafael Luperi) e imagens (direção de fotografia de Sergio Tortori e Henrique Sales) e realismo mágico fascinante, torna-nos mais contemplativos, serenos, em meio a um panorama atual do mundo tão desolador e triste. “Pantanal” nos faz juntar os pedaços de palavras de Juma e escrever “ESPERANÇA”.
O ator Paulo Lessa é um dos protagonistas de “Cara e Coragem”, como o segurança Ítalo/Foto: TV Globo/Sergio Zalis
“Cara e Coragem”, novela de Claudia Souto, estreia com Taís Araujo, Paulo Lessa e Ícaro Silva como alguns de seus protagonistas, respeitando um nobreanseioartísticodo saudoso Milton Gonçalves
Não terá sido apenas uma coincidência que no dia da estreia de “Cara e Coragem”, novela das 19h da Rede Globo criada e escrita por Claudia Souto, com direção artística de Natalia Grimberg, na segunda-feira passada, um de nossos maiores nomes da teledramaturgia, Milton Gonçalves, tenha deixado o país mais triste com a sua partida. A conexão se dá pelo fato da eletrizante e divertida trama de Claudia conter em seu elenco três atores negros defendendo papéis protagonistas, Taís Araujo, Paulo Lessa e Ícaro Silva. Seu Milton defendia e lutou abertamente pela supressão dos estereótipos atribuídos aos artistas negros na seleção dos personagens. “Cara e Coragem” é o resultado positivo da batalha pessoal do “negro em movimento” Milton Gonçalves.
Paulo Lessa, que também é modelo, já possui uma bem-sucedida carreira publicitária, além de ter feito inúmeras participações na TV em novelas e seriados
Este introito nos serve para falar um pouco mais desse jovem, bonito e talentoso intérprete, neto da grande dama Cléa Simões, Paulo Lessa, um carioca também modelo que quase foi para a Europa jogar futebol profissional, mas que se rendeu à sua verdadeira vocação, atuar. Claro que a sua popularidade aumentará com Ítalo, seu personagem no folhetim, um segurança inteligente, charmoso e bem-sucedido apaixonado pela empresária Clarice Gusmão, Taís Araujo (o casal conquistou o público). No entanto, Paulo já traz consigo uma consistente carreira na televisão, desde que estreou com uma participação em “A Favorita”, novela de João Emanuel Carneiro reprisada no momento na Rede Globo. Em seguida, na mesma emissora, provou que podia muito mais, dessa vez com um papel fixo, o arquiteto Mário, em “Viver a Vida” (2009), de Manoel Carlos. O ator foi visto em múltiplas campanhas publicitárias, em sua maioria solares e destinadas ao público jovem, que poderia se identificar com o seu perfil. Nos últimos anos ocupou lugar de destaque nos folhetins da RecordTV “Belaventura” (o caçador de recompensas Accalon), “Jesus” (o nômade Goy) e “Gênesis” (o general egípcio Bakari). No primeiro capítulo de “Cara e Coragem” vimos que Paulo está bem à vontade e seguro como Ítalo, o que lhe permitirá mostrar todo o seu potencial. Paulo Lessa, que foi o compositor Sinhô em filme sobre Pixinguinha, com cara, coragem e brilho saberá fazer valer o glorioso legado de Seu Milton Gonçalves.
Valentina Herszage (Flávia), Wladimir Brichta (Neném), Mateus Solano (Guilherme) e Giovanna Antonelli (Paula) são os quatro protagonistas de “Quanto Mais Vida, Melhor!”/Foto: João Miguel Júnior/Globo
“Quanto Mais Vida, Melhor!” se encaixa com perfeição na faixa das 19h pois consegue com grande êxito abraçar o espírito e os gêneros que a caracterizam
Tramas das 19h costumam invariavelmente inserir em suas narrativas doses de leveza, comédia, ação, fantasia e aventura. Núcleos dramáticos são mais raros. O público cativo deste horário já imagina o que irá encontrar. Com a primeira novela inédita da Rede Globo nesta faixa após a pandemia (incluída com propriedade no texto), “Quanto Mais Vida, Melhor!”, criada e escrita por Mauro Wilson (“A Mulher Invisível” e “Doce de Mãe”, obras vencedoras do Emmy Internacional) os telespectadores encontraram tudo isso e muito mais. Vale dizer com camadas extras de qualidade. A aguardada produção escrita com Marcelo Gonçalves, Mariana Torres e Rodrigo Salomão reuniu quatro protagonistas bastante carismáticos e talentosos: Mateus Solano, Wladimir Brichta, Giovanna Antonelli e Valentina Herszage (a atriz despontou como a apresentadora Hebe Camargo nos filme e série homônimos). Os três primeiros possuem forte vocação para o humor, cabendo todavia a Mateus a responsabilidade pelo drama, exercendo-a com linda dignidade.
Os quatro protagonistas terão um encontro ao acaso em uma viagem de avião que marcará de vez as suas vidas
Na inventiva e bem urdida história de Mauro Wilson, com direção geral de Pedro Brenelli e artística de Allan Fiterman, Mateus Solano interpreta o arrogante e vaidoso cirurgião Guilherme, que vai mal no casamento com a ex-modelo internacional Rose (Bárbara Colen estreando com brilho em novelas depois de sua bem-sucedida passagem pelos cinemas em longas-metragens como “Aquarius” e “Bacurau”). Carol Macedo representa Rose na mocidade quando desfilava nas passarelas de Roma. A ex-modelo enfrenta a resistência ao seu casamento de sua sogra, a pernóstica Celina (Ana Lúcia Torre), cujo marido Daniel Monteiro, Tato Gabus Mendes, adota uma postura neutra. Os dois intérpretes, com suas experiências, conferem enorme credibilidade ao casal. Matheus Abreu recebeu a missão de personificar Antônio, filho de Guilherme, a quem confronta, e Rose. Mariana Sousa Nunes integra o núcleo do médico como Dra. Joana, que já em sua primeira aparição demonstrou ter ciúme de Guilherme. Wladimir Brichta compõe com charme e ironia Neném, um decadente jogador de futebol que já foi o camisa 10 da seleção brasileira além de fazer parte do escrete do Flamengo. Quando jogou no exterior, conheceu Rose, por quem se apaixonou. O jovem ator a quem coube defender Neném nesta fase se chama Leonardo Zanchin. O simpático jogador tem duas filhas, Martina (Agnes Brichta, filha de Wladimir) e Bianca (Sara Vidal), uma de cada casamento. Martina é filha de Jandira (Micheli Machado) e Bianca é filha de Betina (Carol Garcia). Todas moram na mesma casa com o ex-marido, que voltou a viver com a mãe Nedda devido ao seu complicado momento financeiro. Nedda, dona de um salão de beleza que sofreu os reveses da pandemia, é desempenhada pela ótima Elizabeth Savala, que imprime à sua personagem um ar de mãe acolhedora e compreensiva. Marcos Caruso encarna com a categoria de sempre o técnico de Neném, Osvaldo. A única chance que resta ao atleta é fazer um teste para a Ponte Preta em São Paulo. Giovanna Antonelli defende com saborosa desenvoltura a empoderada, agora falida, empresária dos cosméticos Paula Terrare. Sua empresa, a Terrare Cosméticos, também sofreu com a pandemia. Bruno Cabrerizo, esbelto e convincente, interpreta o vice-presidente da empresa Marcelo. Ambos mantém um ardente caso. Paula é ameaçada por sua maior rival, a também empresária do ramo de cosméticos Carmem (Julia Lemmertz muito bem com um visual “femme fatale”). Valentina Herszage assume com sua inata graça Pink/Flávia, uma dançarina de pole dance com problemas familiares e econômicos. Flávia se envolve com o roubo de uma mala com dólares incentivada pela colega de boate Cora (Valentina Bandeira). Jaffar Bambirra é Murilo, músico que trabalha na mesma boate, a “Pulp Fiction”. Jaffar em sua cena mostrou ter uma bonita voz ao entoar uma canção. O rapaz musicista se encanta por Flávia. Luciana Paes encarna com personalidade a sua madrasta Odete. Os quatro se encontrarão por acaso em uma viagem de avião a São Paulo que os levará a um final trágico e surpreendente. É justo que se ressalte que o piloto do avião tem como ator um hilário Gillray Coutinho (participação especial).
Direção espertíssima e moderna, impecáveis figurinos e fotografia, e maravilhosos efeitos especiais são alguns dos trunfos que marcaram a estreia de Mauro Wilson como autor titular de novelas
A direção de Allan Fiterman e Pedro Brenelli é espertíssima, moderna, ágil e engenhosa, com cortes e aproximações de câmera velozes. A equipe, que também é composta por Ana Paula Guimarães, Natalia Warth, Dayse Amaral Dias e Bernardo Sá, privilegiou os closes nos detalhes, nas tomadas de cena por cima, no acompanhamento bem próximo da movimentação dos personagens e na divisão de telas. Os excelentes figurinos são da tarimbada Natália Duran Stepanenko. A direção de fotografia de Henrique Sales realçou com beleza e elegância as cores e luzes de cada cena. Os efeitos especiais de Luiz Fernando e Marcelo Goulart são maravilhosos. “Quanto Mais Vida, Melhor!”, que marca a estreia de Mauro Wilson como autor titular de novelas, trouxe de volta à TV a boa sensação de que a vida ressurgiu. E não há nada melhor que isso!
No capítulo de quarta-feira, 10/11, os gêmeos Christian e Renato se encontram/Foto: Globo
Cauã Reymond se junta pela segunda vez ao seleto time de atores que enfrentaram o enorme desafio de encarar gêmeos em produções da emissora, como Tony Ramos e Glória Pires
Tramas cujos protagonistas são irmãos gêmeos tendem invariavelmente a atrair a atenção e cair no gosto do público. Novelas como “Baila Comigo”, de Manoel Carlos (1981, com Tony Ramos como João Victor e Quinzinho) e “Mulheres de Areia”, de Ivani Ribeiro (1993, com Glória Pires como Ruth e Raquel) não nos deixam mentir. Para que isso aconteça os gêmeos têm que apresentar personalidades muito distintas entre si, não sendo obrigatório que um seja mau e outro seja bom (“Baila Comigo” é um apropriado exemplo). Outro fator importante é que o ator ou atriz escalada entenda o desafio que está em suas mãos e o enfrente bem. Pelo primeiro capítulo da nova novela das 21h da Rede Globo, “Um Lugar Ao Sol”, criada e escrita por Lícia Manzo (“A Vida da Gente”, “Sete Vidas”), uma especialista em retratar o cotidiano do ser humano e seus conflitos mais comuns com grande domínio, vimos que Cauã Reymond cumpriu com larga competência sua árdua missão, defender os gêmeos separados na infância em Goiânia Christian e Christopher/Renato (Cauã já havia incorporado gêmeos na minissérie de Maria Camargo “Dois Irmãos”, baseada no livro homônimo de Milton Hatoum).
As vidasdos irmãos gêmeos Christian e Christopher/Renato são transformadas a partir do momento em que descobrem a verdadeira história de seus passados
Órfãos de mãe, falecida no parto, passam a ser criados pelo pai que, por não ter condições financeiras, entrega apenas um deles a um abonado casal (boas participações de Rafael Primot e Lorena Comparato) em férias que o leva para o Rio de Janeiro. Ao completarem 18 anos, percebemos a crítica da autora ao abismo social do país ao mostrar a oposição das festas e o perfil gerado nos aniversariantes pelo seu status. Christian é simples, trabalhador e determinado (criado num abrigo por Avany, Inez Viana, ótima numa participação especial). Ele possui um irmão de criação com algumas necessidades, Ravi, Lauan do Amaral Magalhães (a jovem promessa Juan Paiva o representa mais crescido). Tanto Ravi quanto Christian foram devolvidos ao abrigo pela mesma família que os adotou. Já Renato é um playboy mimado e irresponsável, educado pela superprotetora e leviana Elenice e pelo austero José Renato (os respeitados Ana Beatriz Nogueira e Genezio de Barros). Ambos os rapazes perdem no vestibular. Christian por não conseguir conciliar o trabalho com os estudos e Renato simplesmente por não querer estudar. Desiludido e ao saber da existência de seu irmão gêmeo por meio de seu pai legítimo Ernani, Marcio Vito, Christian ruma para o Rio de Janeiro em busca de uma vida melhor (na verdade, pretende achar o seu irmão). Renato, chocado ao descobrir não ser filho biológico após a morte de seu pai, viaja para a Europa e se envolve num acidente, que o faz repensar seus atos (o maniqueísmo começa a se desfazer). Lá, conhece a bela Bárbara (Alinne Moraes; sempre prazeroso vê-la em cena). No Rio, morando numa comunidade e trabalhando como manobrista no aeroporto, o destino de Christian é cruzado com o da atraente e espontânea Lara (Andréia Horta excelente num papel diverso em sua carreira), fazendo-o com que reveja os seus sonhos.
Maurício Farias, diretor artístico, e André Câmara, diretor geral, fizeram um primeiro capítulo redondo, bem alinhavado, no qual a clareza e a fluidez da narrativa se sobressaíram
Os diretores artístico Maurício Farias e geral André Câmara expõem com clareza e fluidez a narrativa da obra. O capítulo ficou redondo, bem alinhavado, revelando aos espectadores com enorme mérito de que se trata a história, quais são os principais conflitos que desencadearão os demais. Houve também tomadas aéreas de admirável impacto visual, captadas nas capitais de Goiás e Rio de Janeiro. A equipe de direção é composta ainda por Vicente Barcellos, Clara Kutner, João Gomez, Pedro Freire e Maria Clara Abreu. A direção de fotografia ficou sob o comando de Inti Briones, Chico Rufino e Alexandre Fructuoso. O trio se utilizou de uma paleta ampla de possibilidades neste episódio de estreia, como matizes mais desbotados em algumas cenas (com direito à luz estourada), adoção de cores mais fortes e realçadas (como no momento em que Lara está dançando numa roda de samba e conhece Christian) e o aproveitamento das luzes artificiais das ruas cenográficas, resultando num bonito efeito. A produção musical ocupou um lugar de destaque na trama. Os produtores Branco Mello, Márcio Lomiranda e Mú Carvalho abraçaram com afeto a brasilidade de nossas canções, a começar pelo empolgante tema de abertura, “Sulamericano”, uma parceria de BaianaSystem e Manu Chao, além de “Explode Coração” na versão de Zizi Possi e “Ser Feliz”, de Caraivana. Escrita com Leonardo Moreira e Rodrigo Castilho, e tendo uma participação especial adorável de Tonico Pereira como o professor Romero, “Um Lugar Ao Sol” parece ter conquistado o seu lugar. Parece não, conquistou.
Da esquerda para a direita, os atores Gabriela Medvedovski (Pilar), Michel Gomes (Jorge), Mariana Ximenes (Luí sa, a Condessa de Barral), Selton Mello (D. Pedro II) e Letícia Sabatella (Imperatriz Teresa Cristina)/Foto: João Miguel Júnior/Gshow
Sendo parte de uma trilogia iniciada pela novela “Novo Mundo”, a atual trama das 18h da Rede Globo se concentra desta vez no reinado de D. Pedro II com todas as conjunturas políticas que o cercam somadas às relações familiares com sua esposa e filhas e seu romance com a Condessa de Barral
Os autores Thereza Falcão e Alessandro Marson trouxeram de volta a alegria aos telespectadores de novelas com a primeira trama completamente inédita após a pandemia, “Nos Tempos do Imperador”, estreia da última segunda-feira às 18h na Rede Globo. Parte de uma trilogia iniciada com “Novo Mundo” (2017), a ótima produção atual é centrada no período de reinado de D. Pedro II a partir do ano de 1856, revelando seus posicionamentos face a Guerra do Paraguai e suas relações com a esposa Teresa Cristina, as filhas Isabel e Leopoldina, e sua amante Luísa, a Condessa de Barral. Com direção artística de Vinícius Coimbra (experiente em produções históricas) e geral de João Paulo Jabur, a história se inicia com uma viagem de férias de D. Pedro II (Selton Mello em belo retorno à TV) e a Imperatriz Teresa Cristina (a sempre cativante Letícia Sabatella) em um cenário que descortina a beleza do Brasil. Num momento de tensão, o Imperador é surpreso pelo general paraguaio Solano López (Roberto Birindelli, inspirado) que tenta convencê-lo a formar uma aliança com propósitos econômicos que desagradariam aos países vizinhos, Argentina e Uruguai, podendo culminar em uma guerra. Em outro quadro, no Recôncavo da Bahia, vemos a Condessa de Barral (Mariana Ximenes, inebriante) no funeral de seu pai sendo aborrecida pelos Coronéis Ambrósio (Roberto Bomfim) e Eudoro (José Dumont) que desejam comprar suas terras de cana-de-açúcar herdadas. Roberto e José assumem nobremente seus papéis. Alexandre Nero representa o ambicioso e fanfarrão Tonico Rocha (excelente trabalho de composição), prometido por seu pai Ambrósio em casamento à jovem Pilar (a doce Gabriela Medvedovski), filha de Eudoro, que decide fugir de casa para se tornar médica. João Pedro Zappa, como Nélio, acompanhante de Tonico, mostra desenvoltura em cena. Paralelo a isso, o escravo Jorge (Michel Gomes em elogiável performance) planeja com escravos malês uma invasão à fazenda de seu pai Ambrósio com o intuito de libertar sua irmã e outros aprisionados. Ferido por ser suspeito da morte de seu progenitor, Jorge acaba sendo socorrido por Pilar (o casal promete entrosamento) enquanto é procurado por Tonico, sedento por vingar seu pai.
Com uma narrativa forte e ágil que nos desperta enorme interesse, juntamente com belos elenco, figurinos, fotografia e produção musical, a trama de Thereza Falcão e Alessandro Marson nos traz de volta os bons tempos do telespectador
A novela, que tem como autores colaboradores Júlio Fischer, Duba Elia, Wendell Bendelack e Lalo Homrich, possui uma narrativa forte, ágil e interessante, sendo obedecida com primor pelos seus diretores, que souberam alternar com equilíbrio takes de ação com outros mais dialogados. Além dos intérpretes mencionados, sobrou talento aos demais artistas que estiveram no primeiro capítulo do novo folhetim das seis da tarde. Os impagáveis Dani Barros (Clemência), Augusto Madeira (Quinzinho; Theo de Almeida defendeu o personagem na infância em “Novo Mundo”), Vivianne Pasmanter (Germana) e Guilherme Piva (Licurgo) lideraram a parte cômica da estreia (Vivianne e Guilherme fizeram tanto sucesso na novela anterior de Thereza e Alessandro que retornaram nesta versão da trilogia incrivelmente caracterizados). Lu Grimaldi é outra respeitada atriz que volta à trama revivendo a criada, agora governanta, Lurdes. A personagem Celestina, dama de companhia da Imperatriz Teresa Cristina, está em boas mãos ao ser entregue a Bel Kutner. Já Thierry Tremouroux encarna com dignidade o Conde Eugênio, casado com Luísa. Deve-se prestar atenção a Júlia Freitas, atriz adolescente que personifica Dolores, irmã de Pilar. As filhas de D. Pedro II, Isabel e Dina/Leopoldina, são desempenhadas respectivamente por Any Maia e Melissa Nóbrega, papéis que serão vividos mais tarde por Giulia Gayoso e Bruna Griphao. A atração cresce com a fotografia sensível de Ricardo Gaglianone (vale destacar o duelo entre escravos e capatazes), os figurinos esplêndidos de Beth Filipeck e Renaldo Machado, e a rica e irresistível produção musical de Sacha Ambach e Rafael Langoni Smith, que nos traz Milton Nascimento (“Cais”, tema de abertura), Elis Regina, Clara Nunes e Clementina de Jesus e Ney Matogrosso e Nação Zumbi interpretando Secos & Molhados (as composições originais da trilha incidental são notadamente marcantes). “Nos Tempos do Imperador” merece todo o nosso respeito por ser antes de tudo uma novela fruto de atos de coragem e amor à dramaturgia, por ser realizada, enfrentando todos os obstáculos, em um período dificílimo para o mundo. A obra criada e escrita por Thereza Falcão e Alessandro Marson nos trouxe de volta os bons tempos do telespectador.
Leticia Colin como a estilista Manu em “Sessão de Terapia”, série dirigida por Selton Mello disponível no Globoplay/Foto: Helena Barreto/Globoplay
Leticia Colin vive Manu, uma estilista bem-sucedida mãe de uma filha pequena que recorre ao terapeuta Caio, Selton Mello, objetivando entender suas angústias e perturbações emocionais decorrentes da maternidade
Na sexta-feira passada, o Globoplay disponibilizou a 5ª temporada da bem-sucedida e longeva (estreou em outubro de 2012) série “Sessão de Terapia”, tendo à frente de seu elenco mais uma vez Selton Mello como o terapeuta Caio Barone (Selton passou a interpretá-lo a partir da 4ª temporada; nas três primeiras quem defendeu o papel foi Zécarlos Machado). No primeiro episódio desta nova leva, já inserida no contexto da pandemia de Covid-19, Caio, aturdido com o término de seu relacionamento com sua ex-supervisora Sofia (Morena Baccarin em participação especial) e a perda de sua mãe, recebe a visita em seu consultório de sua potencial paciente, a estilista Manu (Leticia Colin). Realizada em sua profissão, Manu, visivelmente abalada, aflige-se com sua atual condição materna, após inúmeras tentativas de gerar um filho. Percebendo o conflito fantasia/realidade do qual Manu é vítima, Caio se empenha em fazê-la enxergar o desejo idealizado que a frustrou.
Selton Mello conduz com elegância e sofisticação a série, impressionando também com a sua atuaçãodistanciada, além de extrair de Leticia Colin toda a sua inteligência interpretativa evidenciada em uma paleta múltipla de emoções
Produzida por Roberto D’Ávila, a série é dirigida pela quinta vez por Selton, que esbanja elegância e sofisticação na composição das cenas (o diretor, vindo do cinema com obras elogiadas como “Feliz Natal” e “O Palhaço”, não se furta a explorar imagens distorcidas através dos vidros, por vezes caleidoscópicas, num equilíbrio bem estudado dos planos e contraplanos, closes e planos abertos). Como ator, Selton logra um impressionante distanciamento, no entanto vislumbramos nos detalhes suas reações emocionais. Leticia Colin trilha com inteligência uma gradação dificultosa de sentimentos e posturas, como autoconfiança, dúvidas, dilemas morais, ansiedade e fraqueza. Os dois duelam com brilho.
A série marca o encontro dos irmãos Selton e Danton Mello e coloca frente a frente o ator/diretor com o amigo de longa data Rodrigo Santoro
Escrita com riqueza narrativa e coesão dramática por Jaqueline Vargas (além de escrever a série, também é responsável pelo roteiro final) e Ana Reber, a série é embalada a todo o tempo pela instigante trilha sonora original de Plínio Profeta. A bonita fotografia de Rodrigo Monte e Fabio Burtin se vale das luzes de abajures e luminárias, alcançando um harmonioso painel de cores. Também uma realização do canal GNT e da Moonshot Pictures, “Sessão de Terapia” possui 10 episódios disponíveis no Globoplay (serão no total 35, sendo que 5 serão lançados semanalmente às sextas-feiras). A série contará com outros intérpretes que darão vida aos pacientes, além de Rodrigo Santoro, a quem caberá representar o supervisor de Caio Davi Greco (Christian Malheiros como o motoboy Tony; Luana Xavier como Giovana, que sofre de compulsão alimentar; e Miwa Yanagizawa, como a enfermeira Lidia, portadora de estresse pós-traumático após atuar na linha de frente no combate à pandemia do coronavírus). Danton Mello, irmão de Selton na vida real, fará uma participação especial como Miguel, irmão até então desconhecido do terapeuta. Neste momento de tantas angústias, medos e incertezas pandêmicas o espectador só tem a ganhar em “marcar uma consulta” com Caio em “Sessão de Terapia”. Devido à procura, melhor marcar com antecedência.
Assista ao teaser oficial de “Sessão de Terapia”:
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Tiago Leifert, apresentador do “Big Brother Brasil” desde 2017/Foto: TV Globo
Vindo do esporte, já com experiências na área do entretenimento, Tiago Leifert é convidado para assumir o comando do “BBB” após Pedro Bial apresentá-lo por 16 anos
Após 16 anos, em substituição ao respeitado apresentador Pedro Bial, com seus poéticos discursos de eliminação, um rapaz com curtos cabelos loiros e espertos olhos azuis, que havia se consagrado na área do esporte, já com algumas experiências no entretenimento, fora convidado pelo diretor Boninho a assumir o comando do reality show mais assistido do país, o “Big Brother Brasil”, na Rede Globo. Como se sairia este paulistano amante dos games no comando da atração que paralisa o Brasil nos primeiros meses do ano? A incógnita sobre a sua atuação se transmutaria em certeza ao percebermos que Tiago Leifert abraçou com gigante profissionalismo e tocante sensibilidade o programa que atiça torcidas na nação quase como as de futebol.
Em março de 2020, o apresentador, assim como a população mundial, foi pego de surpresa com a eclosão da Covid-19, tendo que se submeter aos riscos de uma doença muito pouco conhecida, e se adaptar aos mais rígidos protocolos de segurança impostos pela emissora onde trabalha, a partir da decisão pela continuação do reality
O moço que traja jaquetas bonitas desejadas a cada noite começou a encarar desafios assustadoramente reais, mais imaginativos do que qualquer ficção, a partir de março de 2020, quando eclodiu a pandemia de Covid-19 no planeta. Numa experiência jamais vivida pela televisão mundial, o apresentador se submeteu a todos os riscos imagináveis decorrentes de uma doença muito pouco conhecida, obedecendo aos rígidos protocolos de segurança impostos pela emissora, assim que se decidiu pela continuação do programa. Transgredindo uma das normas pétreas do reality, Tiago teve que informar com bastante delicadeza e cuidado aos confinados o que um vírus gripal estava fazendo com a população mundial. Na final da edição, sem festa tampouco plateia, depois de anunciar a vencedora Thelma Assis, o jornalista com formação em Psicologia deixou que a sua emoção represada por semanas seguidas aflorasse ao vivo. Difícil não dividir este choro com ele.
Na edição deste ano, o “Big dos Bigs”, Tiago teve que enfrentar, além da pandemia que havia se agravado, acontecimentos importantes na Casa, como a incompreensão de alguns participantes com relação ao ator Lucas Penteado e questões raciais envolvendo outros dois, o que o levou a ter uma conversa histórica com os confinados sobre a simbologia do “black power”
Em 2021, já com vacinas sendo aplicadas em um sem número de países, mas com a pandemia sem controle em nosso território, o também apresentador do “The Voice Brasil” dá início ao “Big dos Bigs”, com cem dias de duração. Seus desafios seriam possivelmente maiores face aos acontecimentos intensos da Casa. Com a saída do ator Lucas Penteado, não compreendido por parte dos participantes, Tiago lhes disse que faltou “fair play”. Em outro episódio envolvendo dois confinados em que um comentário levantou questões raciais, o apresentador, sem texto pronto, não fez um discurso tradicional, mas conversou de forma impactante sobre a simbologia do “black power” para a comunidade preta, num momento histórico da produção. No dia da final do “BBB21”, um dia de festa, falece há pouco mais de uma hora antes de iniciar o programa o ator e humorista Paulo Gustavo, deixando o Brasil consternado. Além de comunicar aos finalistas Juliette, Camilla e Fiuk o ocorrido no intervalo da edição, o apresentador teve que dar andamento à atração com o país ainda em choque. Tarefa para grandes profissionais. Durante o show do rapper Projota com a participação de Lucas Penteado, Tiago deixou as formalidades de lado, saltou do tablado onde estava, e se juntou aos finalistas para cantar e vibrar com emoção explosiva. Minutos depois, a câmera o flagrou em um momento de distinta humanidade, com seus olhos mais azulados com o choro, ao agradecer em silêncio solitário a difícil missão cumprida. Essa grande e complexa orquestra chamada televisão precisa cada vez mais de maestros sensíveis e profissionais como Tiago Leifert. Tiago Leifert é o verdadeiro “Big dos Bigs”.
Letícia Colin, como a dependente química Amanda, em uma das cenas mais dramáticas da série “Onde Está Meu Coração”/Foto: Fábio Rocha/Globo
O imbatível quarteto George Moura e Sergio Goldenberg, roteiristas, e José Luiz Villamarim e Luisa Lima, supervisor e diretora artísticos respectivamente, reúnem suas notórias potencialidades profissionais para contar ao público a trajetória dolorosa de uma médica de classe média alta vítima dos estragos causados pela dependência química em crack
O tema da dependência química não raro atinge a sensibilidade do público pelo grau de sofrimento em sua vítima e naqueles que a cercam, sejam eles familiares, amigos ou colegas de trabalho. E é sobre este assunto espinhoso, muitas vezes evitado pela sociedade, que a afinada dupla de roteiristas George Moura e Sergio Goldenberg (“O Rebu”, “Onde Nascem Os Fortes”) resolveu se debruçar dessa vez na série original do Globoplay, com exibição na última segunda-feira de seu primeiro episódio na Rede Globo, “Onde Está Meu Coração” (a produção foi mostrada com sucesso no Berlin Series Market & Conference do 70º Festival Internacional de Berlim, Berlinale, do ano passado). Tendo outra dupla notável por trás, a diretora artística Luisa Lima e o supervisor artístico José Luiz Villamarim, a história se concentra na dolorosa trajetória de Amanda (Letícia Colin), uma jovem médica filha de um casal de classe média alta, o também médico David (Fábio Assunção) e a executiva do setor de portos Sofia (Mariana Lima), que vê a sua vida ser seriamente comprometida pelo vício em crack. Casada com o bem-sucedido e apaixonado arquiteto Miguel (Daniel de Oliveira), um usuário casual da droga, Amanda, já sofrendo com os efeitos devastadores da adicção, não evita que os mesmos interfiram no relacionamento sexual de ambos e na eficiência de seu ofício, a despeito de ser uma boa médica. Seus pais, que já possuem um passado com as drogas (a dependência e internação de David e a morte ainda não explicada de outro filho), são alertados pela filha Julia (Manu Morelli) sobre o vício da irmã. Entre a rotina pesada do hospital e recaídas na dependência, a atormentada moça se percebe cada vez mais acuada, fugindo do fantasma da internação que a leva a repensar a própria existência.
Luisa Lima merece atenção pela sua direção elegante na qual é realçada a rica arquitetura urbana de São Paulo com o respaldo das belas locações das casas dos personagens, valendo ainda ressaltar a brilhante trilha sonora de Daniel Roland que conta com Elvis Presley e Nick Cave
A elegante direção de Luisa Lima se apoia na exploração inteligente da bela paisagem urbana de São Paulo (uma ode à arquitetura), incluindo lindas locações das casas dos personagens. A diretora apostou nos grandes planos, imagens desfocadas, closes bem fechados, além da valorização dos corredores, que podem ser brancos e amplos, ou escuros e claustrofóbicos. Letícia Colin assume o protagonismo com delirante intensidade. Fábio Assunção e Mariana Lima transmitem com excelência a nítida sensação de dor e impotência dos pais. Daniel de Oliveira reflete com a mesma qualidade este sentimento. Manu Morelli revelou-se promissora em suas cenas e Rodrigo García se destacou como o traficante Edu. O elenco é completo por talentos como Camila Márdila (como Vivian, uma cliente sedutora e abastada que se interessa por Miguel), Ana Flávia Cavalcanti (Inês, enfermeira do hospital), Magali Biff (uma das pacientes de Amanda) e Démick Lopes (o motorista do carro que conduz a médica). Embalada pela brilhante e diversa trilha sonora de Dany Roland (Elvis Presley com “My Way”, Nick Cave com “Into My Arms” e Depeche Mode com “Enjoy The Silence”), a nova série do Globoplay propõe uma discussão séria sobre o flagelo do crack em nossa realidade, que dilacera pessoas inclementemente, fazendo-as perder a dignidade e a identidade, tratado com políticas equivocadas do Estado. “Onde Está Meu Coração” nos ajuda a encontrar os corações perdidos dos reféns das pedras que ardem.