A despeito de já ter participado da minissérie “Lara Com Z”, de Aguinaldo Silva, e que foi ao ar pela Rede Globo em abril de 2011, podemos considerar “Amor à Vida”, novela das 21h da mesma emissora, escrita por Walcyr Carrasco, como a legítima e popular estreia de Maria Casadevall na televisão, em que interpreta com enormes empatia e elegância a funcionária administrativa do Hospital San Magno, Patrícia. Engana-se quem imagina que Maria começou a se familiarizar com as câmeras por agora. Já na adolescência, fez sua primeira campanha publicitária, fato que a despertou para a possibilidade de seguir a carreira artística. Mais adiante, não pensou duas vezes, e procurou o diretor Fernando Leal, que lhe passou os ensinamentos precípuos de atuação tanto na TV quanto no cinema. Casadevall não parou por aí. Recorreu a cursos ministrados na Escola de Atores Wolf Maya. E em momento algum “fugiu dos ruídos de seus passos nos palcos”, dizendo os textos de Bernard-Marie Koltès (“Roberto Zucco”, a última peça do autor), Ivam Cabral e Rodolfo García Vazquez (“Hipóteses para o Amor e a Verdade”), além da criação coletiva “A Nossa Gata Preta e Branca”. Os dois últimos espetáculos foram encenados pela renomada Cia. Os Satyros. No que concerne ao folhetim de Walcyr, se antes Patrícia, com seu corte Chanel com franjas bem cortadas, atendia aos ditames convencionais da sociedade ao se casar com o investidor que aposta em ações erradas, Guto (Márcio Garcia), e que vê sua lua de mel transformada em “lua de fel” ao se perceber traída por loira “turbinada”, no presente a fiel e conselheira amiga de Pê/Perséfone (Fabiana Karla) adota postura “avant-garde”, moderna, independente, descompromissada e desprovida de vãs preocupações com o que a coletividade irá deduzir ao seu respeito. Houve mudança consistente na vida pessoal ao conhecer o endocrinologista Dr. Michel (Caio Castro), um atraente mancebo que aprecia Laurentino Gomes e seu best-seller “1889”. A princípio, fica-nos árido definir que tipo de relação é mantida pela dupla: pode ser irrefreável paixão; uma espécie de “body heat”, sem William Hurt e Kathleen Turner; ou quem sabe um “fragmentos de um discurso amoroso” posto em prática com muitas faíscas. Não existia consideração de ambas as partes acerca de local apropriado para toques suaves ou abruptos de lábios úmidos e consumação de desejos proibitivos para os puritanos a postos. Se para Alain Delon, o “sol já foi testemunha”, a sala de repouso dos médicos, a sala do próprio Michel, provadores de lojas e elevadores cujos únicos botões cabíveis eram o “stop” também ocuparam esta função “voyeur”. A química entre Maria Casadevall e Caio Castro superou todas as expectativas, e o público “embarcou” junto. Porém, como nada é perfeito para um par romântico de novela, obedecendo às regras da teledramaturgia e não às exceções, surgiram imponentes obstáculos. Michel é casado com a dedicada e respeitável advogada Dra. Silvia (Carol Castro). E Guto, o “ex” com a autoestima sempre elevada e que não dispensa de seu vocabulário o vocativo “Gata”, está de volta, aboletando-se na casa de Pat. Um improvável quarteto se forma. Vale lembrar que a jovem que decora seu apartamento com pôster de “Jules et Jim”, de Truffaut, mostrou-se sensível e solidária com a companheira de seu amado, que se viu na iminência de ter símbolo vital para o ser feminino sofrer adulteração devido à enfermidade. Patrícia é nobre ser humano. Abre mão de Michel. Após a recuperação da causídica (um relevante serviço social prestado pelo autor Walcyr Carrasco), o jogo muda. E peças de tabuleiro são trocadas literalmente. O médico que estima fazer visitas surpresas com buquê de flores defronte à região “objeto de estudo de Freud” não logra conter seus impulsos, tampouco quem procura, Patrícia. A “fila anda”, e o “homem da Bolsa” se envolve com a “mulher dos Códigos”. Perséfone e Daniel (Rodrigo Andrade) se tornam álibis involuntários para os “encontros às escuras” que se sucedem. Desculpas, mentiras e invencionices se incorporam aos colóquios dos quatro. Tardes e noites “apimentadas” no mesmo motel (!) são rotina em esquema de revezamento de “suíte master luxo” e champanhe francês para os casais em questão. Parece-me que Walcyr quis dar tom de “comédia de erros” à situação. Provável que o “flagra” geral que se espera tangenciará os drama e humor. Verdade é que Maria Casadevall se firma como atriz com potencial explícito para se manter no veículo, levando-se em conta a maneira carismática com que vem conduzindo o seu papel, irrepreensível domínio de cena, voz e acento sedutores, incontestes beleza e simpatia, e propensão adequada de absorver com coerência e entendimento o papel que lhe foi ofertado. Patrícia ou Pat continuará bela, descolada, antenada e inteligente. Agora, se quisermos encontrá-la na Liberdade comprando quimonos ou jogando sinuca, não tem jeito, é só dar uma passadinha por lá.
Categoria: TV
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Foto: Divulgação TV Globo/Alex CarvalhoUma das personagens que desde o início da trama das 21h da Rede Globo, escrita por Walcyr Carrasco, “Amor à Vida”, tem despertado uma atenção especial do público pelas importantes questões nas quais está inserida (virgindade, ditadura da beleza, obesidade, dietas radicais sem orientação médica e “bullying”) é Perséfone, interpretada com doçura ímpar, emoção, talento e dosagens calculadas de humor e drama que os tornam equânimes, pela recifense que se iniciou na profissão artística na adolescência, Fabiana Karla. Um time seleto de atrizes é como Fabiana, que detém plena dominação sobre aqueles dois gêneros teledramatúrgicos, o que inevitavelmente a faz imprimir à enfermeira do Hospital San Magno credibilidade, provocando-nos comoção. Perséfone, cujo nome se origina na mitologia grega, e significa deusa das ervas, flores, frutos e perfumes, passou por “poucas e boas” até perder a virgindade com “dignidade”, como ela insistia que o fosse. Sua busca ensandecida de não mais ser virgem em uma noite de amor, causou-lhe série de infortúnios envolvendo um colega de trabalho sadomasoquista, o auxiliar de enfermagem Ivan (Adriano Toloza), um entregador de pizza afoito e explorador, assaltantes (dentre eles, o ator Paulo Lessa) que fizeram a “limpa” em seu “apê”, e um garoto de programa contratado pelos “amigos de plantão” Michel e Patrícia (Caio Castro e Maria Casadevall, respectivamente). Todavia, a “ajuda” acaba sendo um “tiro n’água”. Muitos não escaparam de seu aflito assédio: o psicólogo Dr. Renan (Álamo Facó), o funcionário da lanchonete do hospital Valentin (Marcelo Schmidt), o fisioterapeuta Daniel (Rodrigo Andrade) e o Dr. Vanderlei (Marcelo Argenta), especialista em reprodução assistida. E no meio de todo esse processo, sofreu e ainda sofre um dos mais cruéis “bullying” da atualidade, ou seja, o que se baseia na dubitável e perigosa ditadura da beleza. O seu sobrepeso (fato que não diminui de modo algum a graça, o charme e o poder de sedução de um ser feminino com face bonita) serviu de motivação para piadas e chistes desprovidos de quaisquer resquícios de graça. Inclusive um de seus costumeiros “algozes” foi um endocrinologista, o já citado Dr. Michel. Absurdo. Os apelidos e chacotas que lhe foram lançados só reafirmam o que já sabíamos de antemão: o homem se apraz em exibir sem vergonha sua porção má, que vem num “pacote de preconceitos”. Daniel, cansado das “peguetes”, começa a enxergar Perséfone com outros olhos. Ignora sua forma física, dando o real valor aos caráter e capacidade de amar. Decide então “engatar” um romance que acaba em casamento com a mulher que gosta de se referir aos rapazes formosos de “boy magia”. Entretanto, com a reprovação injustificada da família e companheiros de serviço, o irmão solidário de Linda (Bruna Linzmeyer) não se mostra solidário consigo mesmo nem tampouco com Perséfone. A tibieza de Daniel é evidenciada nas sucessivas cobranças de que sua cônjuge emagreça não por razões de saúde e sim para agradar à sociedade “perfeita”, e se adaptar aos seus padrões “carrascos” (sem trocadilhos). A meiga morena que emprestou seu apartamento para noitadas “calientes” da amiga confidente Patrícia, e que definiu sua lua de mel como “lua de pimenta”, devido ao prazer sexual nunca sentido, percebe-se triste e frustrada, e se entrega sem lógica a dietas estrambóticas. Seu belo sorriso está se fechando aos poucos, com os lábios ainda lambuzados das melancias que degustara. Uma Magali de Maurício de Sousa vestida de rosa claro. A autoestima “despenca”. A saúde cambaleia. Precisa ouvir urgente de outrem: – Perséfone, você é bonita. Com o gradativo afastamento e indiferença do marido que reabilita pacientes, mas não “reabilita” seus princípios, parece-nos que amor legítimo “surgiu no jaleco alvo” do Dr. Vanderlei, que também diz ser vítima de “bullying”, graças à sua avantajada estatura. Um exemplo é que o alcunham de “coqueirão”. Vanderlei oferece afeto, compreensão e clareza dos acontecimentos à mente aturdida e confusa da jovem. A Perséfone de Fabiana Karla, que estreou na TV como Célia, no folhetim de Manoel Carlos, “Mulheres Apaixonadas”, finalmente nos indica ter encontrado o seu verdadeiro “boy magia”. No que alude à trajetória da artista, possui bem-sucedida carreira tanto na televisão quanto no teatro e cinema. Além das participações nos seriados “A Grande Família” e “Linha Direta”, na emissora carioca, pertence ao elenco fixo do humorístico “Zorra Total” desde 2004, no qual destacamos Dilmaquinista e Luzicreide. O retorno aos folhetins veio de quem justo lhe deu Perséfone, Walcyr Carrasco. O autor a presenteou com a divertida Olga Bastos do “remake” de “Gabriela”. O cinema não lhe deu as costas, e Karla frequentou estúdios e locações de filmagem nos longas “Trair E Coçar É Só Começar”, de Moacyr Góes, “A Máquina”, de João Falcão, “Xuxa Gêmeas”, de Jorge Fernando, “O Palhaço”, de Selton Mello e “Casa da Mãe Joana 2”, de Hugo Carvana. Nos palcos, depois de infantis, conquistou a crítica com o espetáculo de Neil Labute, “Gorda”. Não deixou a música de lado, e colocou a voz numa das faixas de um álbum da dupla Kleiton e Kledir, e parodiou a cantora americana Katy Perry, como Adiposa Perry, no vídeo criado pelo grupo de humor Galo Frito, cuja canção foi o êxito comercial “California Gurls”. Com o final de “Amor à Vida” chegando, levantamos convictos bandeiras de torcida para que as magias se encontrem. A magia do “boy” e a magia da “girl”, e se forme um “casal magia”. E só para terminar, eu gostaria de lhe dizer algo, Perséfone: – Você é bonita.
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O autor Walcyr Carrasco tem se empenhado no combate ao preconceito, nas mais variadas esferas, em sua novela, exibida às 21h na Rede Globo, “Amor à Vida”. Homossexualismo, adoção de uma criança crescida e afrodescendente por um casal gay masculino bem-sucedido economicamente, “bullying” contra mulheres acima do peso, amor e sexo na outrora chamada “terceira idade” (também denominada “a melhor idade”) e o autismo (transtorno cujos sintomas são a deficiência intelectual e dificuldades de linguagem e comportamento, segundo estudiosos). No Brasil, há cerca de 1,1 milhão de autistas, o que corresponde em média a 1% da população. Na Região Sudeste, são quase 500 mil. Há déficit de instituições especializadas no tratamento desta “condição especial” estimado em 40 mil. Há pouco mais de uma semana, foi revelado pela comunidade científica que quanto mais cedo o distúrbio for diagnosticado (antes dos 3 anos de idade seria o ideal; hoje, costuma-se fazê-lo por volta dos 5), as chances de diminuição dos sintomas chegariam próximo aos 80%. Uma excelente notícia para pais, amigos e familiares que convivem com esta realidade. E a personagem Linda, interpretada com delicadeza e verdade pela catarinense de apenas 21 anos, Bruna Linzmeyer, que começou a carreira bastante cedo como modelo, tem comovido assaz o público. A beleza arrebatadora de Bruna, associada ao seu talento, olhos azuis entorpecentes, voz doce e maviosa, corpo e rosto de menina contribuem sobremaneira para que prestemos maior atenção na situação “diferente” da moça. A atriz, que estreou na televisão no seriado de Luiz Fernando Carvalho, “Afinal, O Que Querem as Mulheres?” (foi indicada ao Prêmio Contigo! de “Melhor Revelação da TV”), emendando com o folhetim de Gilberto Braga e Ricardo Linhares, “Insensato Coração”, como Leila, angaria a seu favor uma direção sensível capitaneada por Mauro Mendonça Filho, um afinado elenco do seu núcleo, o caprichado texto de Walcyr, é claro, e uma belíssima canção, ” The Perfect Life”, de Moby e Wayne Coyne a embalar seus momentos. Porém, a história de Linda ganhou contornos mais emocionantes com a chegada do personagem do brasiliense Rainer Cadete, como o sério e dedicado advogado Dr. Rafael. Rainer exibe atuação firme, convincente, cativante e carregada de sensibilidade. Formado pela CAL (Casa das Artes de Laranjeiras), no Rio de Janeiro, o ator detém larga experiência teatral (peças como “Os Campeões” de Lygia Fagundes Telles e “Doroteia”, de Nelson Rodrigues, e o musical infantil “Zé Vagão da Roda Fina e sua Mãe Leopoldina”, de Silvia Orthof, constam de seu currículo) e um sem número de participações em distintas emissoras, como TV Futura (“Escola Prevenia”), Multishow (“De Cabelo em Pé”) e Rede Globo (“Caras & Bocas” – indicação ao Prêmio Contigo! como Ator Revelação; “Cama de Gato” e “Os Caras de Pau”). Está em cartaz com o filme de Halder Gomes, “Cine Holliúdy” (além disso, neste ano, esteve por trás do projeto, realizado no Distrito Federal, “Centenário de Vinicius de Morais”, em que foram convidadas Maria Gadú e Ellen Oléria). Voltando então a “Amor à Vida”, se Linda possui ao seu redor a mãe com superproteção deletéria, Neide (Sandra Corveloni), os pai Amadeu e irmão Daniel (Genézio de Barros e Rodrigo Andrade, respectivamente) com suas preocupação, paciência e solidariedade, a maldade deliberada e inacreditável da irmã Leila (Fernanda Machado), passou a se ver num repente agraciada com a presença constante do amor honesto sem discriminações do causídico de sorriso carismático, que veste elegantes terno e gravata, Rafael. As mãos de um e de outro parecem se conhecer há tempos. Suas palmas se juntam numa só. Seus dedos puros se cruzam, entrelaçam-se. Toques suaves em faces mútuas. Uma descoberta atrás da outra. Linda sente os pelos da barba semicerrada do rapaz e não se incomoda. Os dois comem pétalas de rosa vermelha. O sabor da flor. Uma gigante bola azul os une ainda mais. O “pilates” do amor imaculado. Olhos que se “enfrentam”, e um carinho sem medidas é trocado. Poucas palavras são ditas, contudo muito se diz. As tintas servem para dar cor ao “P&B” de vidas nossas. Rostos harmoniosos viram telas de pintura. Rosa “tatuada” no papel. Balas coloridas adoçam as existências. Um besouro, uma joaninha “torcem” por eles. A ideia de Walcyr Carrasco de aproximar a dupla foi brilhante e empática, demovendo qualquer possibilidade de reprovação de outrem. Um mérito para os intérpretes. Finalizando com Bruna, a artista repetiu a parceria com Michel Melamed, iniciada com “Afinal, O Que Querem as Mulheres?”, em dois espetáculos da autoria daquele, “Seewatchlook” e “Adeus à Carne”. Foi uma das “brasileiras” no episódio “A Vidente de Diamantina”, além da Anabela do “remake” de “Gabriela”, do mesmo Walcyr. Bruna Linzmeyer e Rainer Cadete impingem razão e sensibilidade a “Amor à Vida”. Sim, razão, por que não? A razão de transformar a visão, por vezes deturpada dos telespectadores do que seja o autismo, iniciando um processo sadio de reavaliação. Os autistas devem ser amados e compreendidos incondicionalmente. Dr. Rafael já sabe. E alguns outros. Vamos tentar? Linda gosta…
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Um novo caminho teledramatúrgico se confirma com a estreia de “Além do Horizonte”, novela das 19h, de Carlos Gregório e Marcos Bernstein, com direção geral de Gustavo Fernandez, na Rede Globo. Um caminho já adotado por sua antecessora “Sangue Bom”, ou seja, o de se apostar sem medo na escalação de jovens e talentosos atores como protagonistas de suas tramas. No entanto, Carlos e Marcos, assumindo pela primeira vez a posição de autores titulares de um folhetim, dão valorizado enfoque ao gênero aventura, algo que não se testemunha com frequência na TV brasileira neste segmento. Os mesmos afirmaram em entrevistas recentes que se inspiraram nos filmes de Indiana Jones estrelados por Harrison Ford e no célebre longa-metragem de Frank Capra, “Horizonte Perdido”. Após as chamadas, muitos já se lembraram de outras produções, como a série “Lost” e a obra de M. Night Shyamalan, “A Vila”. O que na verdade nos importa é que algo de diferente poderá ser visto, e acompanhado com entusiasmo pelo público, sempre ávido por elementos e linguagens ousadas e inovadoras. Porém, não só de aventura se sustentará “Além do Horizonte”. Já no capítulo inicial, vislumbramos aspectos românticos, associados a bastantes suspense e mistério. Notamos também que o mote “a busca pela felicidade” será condição “sine qua non” para o desenvolvimento da sinopse. O vocábulo “felicidade” foi dito e redito pelos personagens. Não uma felicidade abstrata, fantasiosa amparada nos dinheiro e poder, mas sim concreta, real. Conhecemos Lili (Juliana Paiva), uma moça determinada e de índole firme, no dia de seu rico noivado com Marcelo (Igor Angelkorte), rapaz hábil no polo e em situação de paixão, que demonstra não estar satisfeita com o enlace. Lili acredita, como diversas mulheres, no utópico “príncipe encantado”. Um robusto sapo lhe apareceu talvez para lhe provar o contrário. Surge uma carta misteriosa para lhe atormentar, deixada por seu pai Luís Carlos (Antonio Calloni), há tempos desaparecido, e que pela lei já é considerado morto. Sua mãe é Heloísa (Flávia Alessandra), e seus futuros sogros são Thomaz (Alexandre Borges) e Inês (Maria Luisa Mendonça). Ao ler a missiva, teve dupla surpresa: o progenitor está vivo (saiu em busca da felicidade) e possuía uma amante chamada Teresa. O adultério a aproxima inevitavelmente de William (Thiago Rodrigues), homem forte no gênio, estudante de História, sobrinho da concubina, que para arrumar alguns trocados, e levar notas de dinheiro para dentro de casa, realiza trabalhos e monografias para seus colegas estudantes indolentes. William é órfão, criado junto com seu irmão Marlon (Rodrigo Simas), com ideia fixa de se aventurar mundo afora na procura pertinaz do possível bem-estar, pela tia Sandra (Karen Coelho). William adota postura protetora com relação a Marlon, que foge com Paulinha (Christiana Ubach), o que a faz terminar o seu namoro com o DJ Rafa (Vinícius Tardio). Paula o acusa de que não mostra atitude, coragem de enfrentar a vida. Rafa crê na sua arte de remixar músicas, e em meio a festa, arrasado, olha para o horizonte, perdido, provavelmente nem escutando o som de suas “pick-ups”. O seu “set list” está triste. Já em localidade remota, Tapiré (impressionante trabalho cenográfico no qual se veem casebres vários e contíguos de madeira com direito a ponte e rio), desde logo um sujeito envolvido em ilicitude é assassinado e jogado em água. Fato que remete ao vilão Kléber (Marcello Novaes), comandante de negócios escusos rentáveis, temido pelos moradores, cuja companheira é Sheila (Sheron Menezzes). Um menino se destacou em suas aparições, Nilson (todos trocam o seu nome), interpretado por JP Rufino. A população é simples e supersticiosa, apegando-se à ideia de haver monstro sinistro que deixa marca no rosto humano. Com cenas gravadas na Amazônia, Chapada Diamantina (BA) e Casemiro de Abreu, RJ, (o que corrobora que a emissora não poupou investimentos no folhetim em questão), a ação foi e está garantida para os próximos meses. Com montagem ágil, editada com primor e angulações inventivas, perceberam-se ares notórios de um “thriller”, o que não é comum para a faixa escolhida na grade da Rede Globo. O enredo se fez acompanhar por quase toda a hora por músicas joviais e trilha incidental apropriada. A abertura é vívida, alegre, colorida, com a ótima canção composta por Roberto Carlos na voz de seu parceiro Erasmo Carlos. A câmera “passeia”, “viaja” por inúmeros lugares, com edição “picotada”, ela “vai” e “volta”, “aproxima-se” e se “distancia” flagrando um Vinícius Tardio com a mochila, uma Juliana Paiva na mansão e Thiago Rodrigues com a infalível “bike”. A cidade grande, a selva e árvores exóticas, espelhos d’água, vastos campos verdes com crianças brincando, uma natureza exuberante dão um saboroso aperitivo aos telespectadores do que vão encontrar ao assistir à novela. Há uma proposta no ar, e que deve ser cumprida, de que ânimos desejosos por boa teledramaturgia serão “atendidos” a contento. Preparem-se para o suspense, para a emoção, para o romance, para a aventura e para a juventude com espírito audaz. Tudo isso está bem perto de você, logo ali, “Além do Horizonte”, e poderá inclusive iniciar a sua própria busca pela felicidade.
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Não foram raros os momentos teledramatúrgicos em que a vingança como recurso de identificação e desenvolvimento de uma personagem foi ricamente explorada por um autor de novelas. Exemplos não nos faltam: a Márcia de Malu Mader em “O Dono do Mundo”, a Flora de Patrícia Pillar em “A Favorita” e a Norma de Gloria Pires em “Insensato Coração”. A vingativa da vez é interpretada com primor pela fluminense Vanessa Giácomo, naquela que pode ser considerada como uma de suas melhores atuações. Vanessa, uma atriz “rodriguiana” (sim, fez o monólogo “Valsa N° 6”, de Nelson Rodrigues no teatro) que começou a trabalhar cedo, não preterindo o balé dos seus estudos, “comprou” a espinhosa missão de dar credibilidade a uma jovem de passado obscuro que possui como meta destruir de modo pleno a família Khoury da trama das 21h da Rede Globo, escrita por Walcyr Carrasco, “Amor à Vida”. E o alvo principal é o médico César (Antonio Fagundes). O que se sabe até então é que Aline Noronha é sobrinha de Mariah (Lúcia Veríssimo), suposta mãe de Paloma (Paolla Oliveira), que sofreu grave revés cometido pelo outrora presidente do Hospital San Magno. Giácomo, que coleciona muitos “remakes” na carreira, como “Sinhá Moça”, “Paraíso” e “Gabriela”, tendo estreado na TV já como protagonista na segunda versão de “Cabocla”, como Zuca, disputando o papel com várias candidatas, e que lhe rendeu importantes prêmios, decidiu se utilizar das natas e inquestionáveis beleza e sedução para pôr em prática o plano maquiavélico de sua Aline atual. Com jeito dulcíssimo, a artista que integrou o elenco de outras obras de Walcyr, como “Caras & Bocas” e “Morde & Assopra”, “anestesia” o público com os ardis e artimanhas engendrados. Verdade que a ex-secretária (uma figura onipresente nas produções televisivas brasileiras abordada sob diferentes prismas) não enganou de imediato a todos. Félix (Mateus Solano), Pilar (Susana Vieira) e Lutero (Ary Fontoura) sempre desconfiaram dos decotes mal-intencionados à mostra. Bernarda (Nathalia Timberg) fora conquistada à base de cupcakes. A moça que não “perdoa nem corretores de imóveis” (acredita-se que alicia Bruno, Malvino Salvador, com deliberado intuito de atingir Paloma), é hoje mãe de Júnior, suposto filho de Cesar (provável que em breve seja desmascarada quanto à questão do rebento não ser descendente do marido). Aline, “uma secretária de futuro” incerto que nos ensinou a “como eliminar seu chefe” despertou-nos para a sua desmedida ausência de escrúpulos e desrespeito com os semelhantes, lançando contra estes “petardos” como “bicha” ou algo similar, “velho ou velha” e “acabada”. É notório que também foi aviltada, ao ser chamada de “vadia” e “piranha”. Os objetivos de desforra da meiga e maliciosa mulher que gosta de comprar imóveis e colocá-los no próprio nome a fim de garantir a segurança de seu bebê dará a Vanessa posteriormente bastante possibilidades para demonstrar o talento que lhe é sobejo. A mesma Vanessa que recebeu de Gloria Perez a chance de vivenciar a esposa do seringueiro Chico Mendes na minissérie “Amazônia, De Galvez a Chico Mendes”, Ilzamar Mendes. A intérprete ademais “embrenhou-se” na temática espírita de Elizabeth Jhin em “Escrito nas Estrelas”, e na seara popular e carnavalesca de Aguinaldo Silva, em “Duas Caras”. Nos cinemas, “peregrinou” por universos inspirados em fatos reais (“Jean Charles”), rurais (“O Menino da Porteira”), fictícios (“Novela das 8”), e neste ano frequentara os “sets” de “Solidões”. Vanessa Giácomo, que acumula a função de ativista dos Direitos Humanos, deixa marca indelével no folhetim de Walcyr Carrasco como a bela e fatal Aline. Temos por lição o convencimento de que é correto quando se diz que “a vingança é um prato que se come frio”. E talvez seja até pior quando o prato em questão é um cupcake, e ainda por cima preparado por Aline Noronha.
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Há alguns personagens em “Amor à Vida”, novela das 21h da Rede Globo, de Walcyr Carrasco, cujos perfis são contextualizados no drama e na comédia, como são os casos de Márcia (Elizabeth Savalla) e Valdirene (Tatá Werneck). Carlito, o personagem do campineiro formado em Artes Cênicas pela Faculdade Paulista de Artes, Anderson Di Rizzi, não foge a esta sedutora regra. Não foram poucas as vezes em que nos deixamos comover pela sensibilidade à flor da pele do “DJ’s”, evidenciada nas profusas lágrimas que brotaram de seus vívidos olhos sem vergonha da condenação machista alheia, e nos divertimos também com o seu peculiar jeito de ser. Chamado de “Palhaço” por “Valdirene’s”, o que a princípio poderia soar como pejorativo, tornou-se um epíteto carinhoso quando o ouvimos vindo da jovem não tão mais “piradinha” assim. O rapaz romântico que em noite bonita no terraço com a sua amada usa meio queijo para representar a lua, veste-se de modo estiloso e brilhante, ostentando seus bíceps “inflados” sempre que pode para a vizinhança e para os frequentadores dançantes de suas festas. Carlos José dos Santos Araújo “abraça” convictamente o gerúndio no linguajar, e vibra de maneira alucinada com autênticas coreografias defronte as “pick-ups”. Vê-se objeto de pilhérias, chistes e gracejos impiedosos, sejam eles proferidos pela avó de sua rebenta, Mary Jane, a “palhacinha”, sejam eles ditos pelo próprio pai, o “empresário”, o “dono do estabelecimento” Denizard (Fulvio Stefanini), que não se inibe em defini-lo como “corno” e “burro”. O filho de Ordália (Eliane Giardini) é uma “montanha de músculos” frágil como flor de caule fino, e ingênuo como uma criação dos Irmãos Grimm. Porém, ingenuidade que desperta ao notar direito legítimo ser ameaçado, quando lépido registrou a sua filha, antevendo uma infração à lei. Afinal, como ele mesmo diz: “Eu quero ‘estar vendo’ a minha ‘palhacinha’.” O intérprete passou a conquistar os afeto e simpatia do público justo pelas mãos de Walcyr Carrasco, autor que lhe deu a primeira grande oportunidade na teledramaturgia, oferecendo-lhe o engraçado Sargento Xavier de “Morde & Assopra”. A seguir, emendou com o “remake” de “Gabriela”, na faixa das 23h, personificando o professor Josué. Consolida-se em definitivo a bem-sucedida parceria com Walcyr. No tocante a “Amor à Vida”, Anderson buscou consciente ou inconscientemente inspiração em tipos clássicos como o “chapliniano” Carlitos (o que explica a escolha do nome do seu personagem), e quem sabe talvez no adorável arquétipo imortalizado por Renato Aragão nas superproduções cinematográficas que arrastavam multidões de variadas gerações para as salas escuras nas décadas de 70 e 80, em sua maioria dirigidas por J.B.Tanko. Carlito, sem sombra de dúvida, provoca a nossa torcida empedernida, pois se diferencia na trama em meio a tantas “personas” movidas a ódio, ambição, vingança, ciúme, imoralidade e amoralidade, perfídia e dilacerantes preconceitos. Anderson, desde já, deve se orgulhar do legado deixado no folhetim. O ator, que participou da microssérie “Dercy de Verdade”, açambarca em seu currículo nos palcos dramaturgos de respeitabilidade universal como Sófocles (“Antígona”), Frank Wedekind (“O Despertar da Primavera”) e Shakespeare (“Júlio César”), além de exibir sua face com sorriso cativante na comédia “O Concurso”, longa-metragem de Pedro Vasconcelos. Anderson Di Rizzi, que antes do sucesso obtido na emissora carioca, atuou em campanhas publicitárias e produções latinas, merece carreira longa. Provara-nos de que é capaz de transitar com excelência por gêneros distintos, colocando-se num patamar de versatilidade desejada. Carlito é um adorável “clown”. Um formidável “bufão” no “picadeiro” da ficção. Valdirene, para ele, é uma “delícia”. E para os telespectadores a atuação de Anderson Di Rizzi é “deliciosa”.
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Elizabeth Savalla é uma atriz de muitas personagens marcantes na TV, sem no entanto preterir o cinema tampouco o teatro. No ar, às 21h, pela Rede Globo, numa novela de Walcyr Carrasco, “Amor à Vida”, a intérprete que estudou na Escola de Artes Dramáticas de São Paulo, é a ex-chacrete Márcia do Espírito Santo, ou Tetê Parachoque ou Paralama, seu outrora nome artístico, uma mulher sofrida, trabalhadora, mãe solteira, porém assaz divertida. Não é a primeira vez que Elizabeth atua com brilho ao defender um tipo popular. A taxista Lili de “O Astro”, de Janete Clair, em 1977, com seus cabelos curtos encaracolados foi de certa forma uma transgressão aos ditames sexistas da época. A despeito da Revolução Feminista da década de 70 e dos sutiãs queimados em asfalto público sob os olhares atônitos dos conservadores, colocar uma moça simples, no auge da juventude, conduzindo um táxi (profissão dominada por homens até hoje) em pleno regime de exceção fora ousadia da teledramaturga, e uma prova de confiança da emissora em Janete. E se estamos falando em simplicidade nos é obrigatório mencionar o oposto: a recente Minerva de “Morde & Assopra” (também de Walcyr, o autor com quem mais trabalhou, sempre com êxito). Savalla, que esbanja beleza desde os tempos da rebelde Malvina de “Gabriela” (1975), de Walter George Durst, produção baseada no romance de Jorge Amado, “Gabriela, Cravo e Canela”, agora como a progenitora de Valdirene (Tatá Werneck), “inteligência pura”, faz-nos invariavelmente rir e nos comove com suas sequenciais agruras. A vendedora de “hot dogs” mais querida da 25 de Março não dispensa exuberantes flores de plástico coloridas presas às madeixas que combinam com as roupas que usa (em geral blusas largas com um ombro à mostra e calças “fuseau”), e de modo heroico logra tirar graça da própria tragédia particular. Se um dia foi famosa com seus rebolados e caras e bocas amparada pelo “Velho Guerreiro”, no presente o anonimato “cumprimenta” o desamparo. Falta-lhe comida no prato. Sobram-lhe salsichas. Uma “mortandela” dada por caridade é um ágape. Atílio/Gentil (Luis Melo), o “administrador financeiro sem-teto” seria ou será o bote salva-vidas de que necessita para não se “afogar”. Deposita na descendente (como várias mães o fazem) a realização de seus sonhos. Os telespectadores podem avaliar Márcia como ambiciosa, interesseira. Não, ela é apenas uma sobrevivente, agindo em “estado de necessidade”, buscando atalhos, caminhos alternativos, que dirimam a miséria pessoal que a assombra, sem quaisquer apegos a falsos moralismos. A vizinhança da “dona da van” a trata cruelmente e a humilha sem dó nem piedade, chamando-a de “periguetona”, e Valdirene de “periguete”, além de brega pela atual sogra de sua filha, Eudóxia, vivida por Ângela Rabello (breguice são “pecadores atacando pedras em pecadores”). Deve-se ter o mínimo de respeito à cidadã que cuidou sozinha de rebenta, praticou o “strip-tease” para alimentar menina faminta (talvez até tenha se prostituído, e daí?; o que mais se vê no Brasil são modos outros de “prostituição”), nunca furtou ou roubou (sim, não paga impostos, é verdade; os poderosos pagam?), é obrigada a fugir do “RAPA” em meio a potes de ketchup, mostarda e maionese e o que de mais edificante cometeu: foi parteira em banheiro fétido de boteco insalubre cheirando a cachaça, “dando à luz” Paulinha (Klara Castanho). A avó da “palhacinha” Mary Jane lembra-me uma Cabíria de Fellini nas “Noites de Márcia”, que somente procura dignidade e afeto perdidos. Uma Giuletta Masina no horário nobre. Elizabeth Savalla estreou na TV Cultura em episódio de teleteatro dirigido por Antunes Filho, “A Casa Fechada”, de Roberto Gomes. Sua permanência no veículo de massas se consolidou após a bem-sucedida Malvina já citada, e que lhe rendeu merecidos prêmios. Importantes folhetins sobrevieram: “O Grito”, “Estúpido Cupido” (irmã Angélica), “O Astro” (dito acima), “Pai Herói” (a lindíssima bailarina Carina), “Plumas e Paetês” (Marcela, que se vê obrigada a trocar de identidade em virtude das circunstâncias em trama de Cassiano Gabus Mendes), “O Homem Proibido” (a “rodriguiana” Sônia), “Pão, Pão, Beijo, Beijo” (uma irmã que disputa com outra irmã, Maria Cláudia, o amor de mesmo homem, Cláudio Marzo), “Quatro por Quatro” (uma das quatro mulheres que se voltam contra o sexo oposto em história de Carlos Lombardi), “Chocolate com Pimenta” (a excentricidade foi o norte da Jezebel que personificara), e demais folhetins, seriados e minisséries (“Meu Marido” e “Sex Appeal”). Nunca se afastou dos palcos, associando-se inclusive a Camilo Áttila na fundação de uma produtora, a ESCA (Elizabeth Savalla & Camilo Áttila), que originou espetáculos como “Ações Ordinárias”, de Jerry Sterner, “Mimi, Uma Adorável Doidivanas”, de Camilo Áttila, “É…”, de Millôr Fernandes e para comemorar os seus 30 anos de carreira o monólogo “Frizileia – Uma Esposa à Beira de um Ataque de Nervos”, também de Camilo Áttila, em 2004. Antes, encenou “Pigmaleoa”, de Millôr Fernandes e “Lua Nua”, de Leilah Assumpção. Exerceu um cargo social como Coordenadora de Eventos Teatrais para a Zona Oeste do Rio de Janeiro. Sua relevância como artista fez com que o Festival Nacional de Teatro de Juiz de Fora, Minas Gerais, desse o seu nome a um troféu. No cinema, junto a Reginaldo Faria, novamente no período da ditadura militar, colaborou com o diretor Roberto Farias na exploração de tema árido e doído munido de torturas e paus de arara, em “Pra Frente Brasil”. Tivemos e temos Elizabeth Savalla em nossas vidas enriquecendo a cultura nacional. Não foram horas, dias, e sim, anos. Como Márcia de “Amor à Vida”, já se passaram meses. Minutos multiplicados em meses. Antigamente era “um minuto de comercial”. Hoje é um pouco mais. É justo então que exijamos muitos minutos para Elizabeth Savalla.
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Com tintas cinematográficas, a nova novela das 18h da Rede Globo, “Joia Rara”, de Duca Rachid e Thelma Guedes, com a direção invariavelmente segura de Amora Mautner (direção de núcleo de Ricardo Waddington), já nos evidenciou em seu primeiro capítulo a inevitável bifurcação que se escancara à nossa frente no ciclo da vida: um caminho, uma vereda que aponta para a ambição, a sede de poder e riqueza, a vingança, a soberba e o autoritarismo; e o outro que açambarca a eterna busca pelo amor pleno, a justiça, a evolução espiritual, a iluminação, o progresso sadio do ser humano em sua existência terrena. Franz, um Bruno Gagliasso a cada dia mais ciente de sua capacidade interpretativa, experimentando o posto de protagonista com mérito, representa o segundo caminho: o jovem empresário aventureiro, acólito da retidão, vítima já da traição iníqua do meio-irmão Manfred, interpretado por Carmo Dalla Vecchia (o que dá um ar “shakesperiano” à trama) em meio às neves das Montanhas do Himalaia. Deixando rastro vermelho em terras geladas brancas do Oriente, é socorrido por monge budista, Sonan (Caio Blat). Franz, ateu ou agnóstico, é levado a conhecer o universo fascinante do Príncipe Siddhartha Gautama, o Buda, a sua doutrina, os seus ensinamentos e lições proferidos na voz mansa e pausada de Ananda (Nelson Xavier), líder do templo Padma Ling. Os acontecimentos transcorrem em meados de 1934, com produção de arte, figurino, cenário, montagem, trilha sonora e abertura caprichados. Familiarizamo-nos com o todo poderoso dono da joalheria e fundição Hauser, Ernest (José de Abreu), pai de Franz e Manfred. Preveem-se que serão debatidas as relações desiguais entre patrões e empregados (que datam da Revolução Industrial no Século XVIII), e correlatos, como capital X trabalho, a exploração do homem pelo homem, a mais-valia, enfim, razões que levaram pensadores como Marx e Engels a elaborarem seus postulados teóricos. Bianca Bin com firmeza e convicção é Amélia, uma indignada operária defensora ferrenha dos direitos da coletividade, uma pré-Norma Rae (personagem real celebrizada no cinema no filme homônimo de Martin Ritt por Sally Field), e que já despertou os sentimentos do moço bonito de olhos azuis que gosta de tocar o céu atingindo o cume das cordilheiras. Tomamos ainda intimidade com o ambiente mágico dos cabarés de outrora, onde pôde se assistir a Letícia Spiller ostentando sua habilidade de dançarina, como a vedete Lola que não se esquiva de admitir que o seu oficio é comparado à prostituição. O elenco está afinado, e saiu-se bem: Nicette Bruno, Rosi Campos, Marcos Caruso, Ana Lúcia Torre, Ângelo Antônio, Domingos Montagner, Thiago Lacerda, Sacha Bali, Michel Gomes, Luiza Valdetaro, Rafael Cardoso, Pedro Neschling, Fábio Yoshihara, Jorge Maya, Cacau Protásio e Adélio Lima, dentre outros. O que se pode esperar de “Joia Rara”, uma obra com impressionante tratamento de imagem, é um amplo panorama em formato folhetinesco no qual vislumbraremos uma gama de aspectos e conflitos inerentes ao comportamento do indivíduo, do ser social. Uma bem-vinda discussão sobre a fé, a religiosidade (por meio do budismo), crenças na reencarnação, na progressão dos espíritos e no reencontro de almas. O amor ocupará o seu lugar, e como de costume pugnará suas quase intransponíveis barreiras, como o ódio, o ciúme, a inveja, o preconceito, a diferença de classes, as intrigas, os conluios e os ajustes nefandos que parecem ter nascidos junto com a Criação humana. O telespectador, a princípio, terá a chance única de se embrenhar num campo pouco esclarecido com oportunidade de formar opinião própria acerca do destino, do livre arbítrio ou simplesmente do curso natural da vida. Não serão somente os personagens da história de Duca Rachid e Thelma Guedes que deverão optar por que caminho seguir. Se escolherão cascalhos ou joias. Tanto pode ser na década de 30 como nos dias atuais, a Humanidade parece desejar prioritariamente os cascalhos. Joias são muitas, e estão espalhadas por todo o canto. Difícil é encontrar a que seja rara. “Joia Rara” pode nos dar uma dica.
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É princípio básico na constituição teledramatúrgica de uma novela que se possua dois núcleos, o cômico e o dramático. O primeiro tem por intento “suavizar” o enredo em meio às situações que tangenciam o drama. Nas produções das 19h precipuamente o humor ocupa posição de destaque na maioria das vezes. O que já não decorre de modo costumeiro nas obras da faixa do horário nobre (há exceções como “Rainha da Sucata” e “Roque Santeiro”). No caso de “Amor à Vida”, de Walcyr Carrasco, atual folhetim das 21h da Rede Globo, há sim os dois núcleos supracitados, por sinal muito bem inseridos, entretanto o que se vê é um amálgama forte entre ambos, ou seja, onde há comédia há tragédia. As nossas vidas são tragicômicas, e não seria diferente em uma história contada por Walcyr. Valdirene, personagem da carioca, a publicitária formada pela PUC/RJ, Tatá Werneck, é um exemplo ímpar disso. Nossa imediata impressão, haja vista o seu passado de inegável êxito como comediante, é a de que o seu papel trilharia somente o caminho do engraçado, do divertido, ou até mesmo de um suposto ridículo. Enganamo-nos. O autor foi esperto, capcioso ao “construir” Valdirene. E a escolha de Tatá não poderia ter sido mais adequada. A atriz sabe que lhe cabe a missão de provocar o riso, mas sua função também é nos causar sentimento de compaixão ao testemunharmos seus reveses. É fato que nos é jocoso, passível de gargalhadas o jeito desengonçado com que a filha de Márcia (Elizabeth Savalla) se movimenta, com suas pernas arqueadas sob a pressão de calças “fuseau” e sapatos que parecem ser de número inferior ao que necessita; a gula desmedida acima de qualquer razoável compreensão (a cena das ostras foi antológica); o Português particular, em que fora criada uma “coesão textual” que só é inteligível para ela, com uma saraivada de vocábulos frutos de raciocínio munido de múltiplas informações e opiniões inusitadas; suas tentativas sempre frustradas em “fisgar” um marido rico, “milho” (milionário): já foram suas “vítimas” os atletas Neymar, Gustavo Borges, Vitor Belfort, Alexandre Pato, e os cantores Gusttavo Lima e Xand Avião dos Aviões do Forró (!). A jovem passou então a preterir a condição de famoso e se ater “apenas” à condição financeira dos “eleitos”. Sofreu sequência de humilhações, sendo abandonada em motéis sozinha, sendo confundida como prostituta, “usada e abusada”. Não estou aqui querendo dizer que Valdirene seja um baluarte dos “bons costumes” de uma mulher (se assim falasse soaria até como machismo ou chauvinismo), mas ao meu ver a vendedora de “hot dogs” age em nome de seu “estado de necessidade”. Talvez, e bastante provável, que se espelhe na mãe, e não deseja repetir os feitos de sua progenitora, que em época de gravidez, desprovida de recursos, viu-se obrigada a ostentar posturas atentatórias à sua vontade, como a prática de “strip-tease”. A sua fragilidade não está somente no olhar e compleição física. Está em seu interior. Valdirene sofre por dentro. Sofre por ela e pela mãe. Sofre de forma intermitente “bullying” dos vizinhos. Tem aspecto suportável ser chamada de “periguete” o tempo inteiro, e ainda por cima de “burra” pela própria mãe ex-chacrete, a “mãezoca”? Os seus coração e austoestima estão covardemente dilacerados, e desta forma permanecem a cada instante que ouve os impropérios. Não, Valdirene não é “difícil, dificílima”. Somos “difíceis, dificílimos” ou fingimos que o somos? É fácil estender a mão à hipocrisia, e jogar os “pecadores” na fogueira. Talita Werneck com sua beleza adolescente, olhos amendoados, que indicam “pedir ajuda”, lábios delicados que esboçam sorriso ora doce ora malicioso (mordiscando inclusive o lábio inferior nos atos de sedução), cabelos de menina com “inteligência pura” que somente quem a ama de verdade, o “palhaço” Carlito (Anderson di Rizzi), legitimamente faz “Valdirenes” verter lágrimas em rosto delgado. O “DJs” é capaz de abrir os seus olhos para a felicidade sem que haja conta bancária entre eles. Nem Ignácio (Carlos Machado) a amava, só queria alguém que aceitasse a sua esterilidade. A personagem, valorizada pela canção de Gabriel Valim, “Piradinha”, garante um dos melhores momentos da atração que nos promete “amor à vida”. Werneck, que graduou-se em Artes Cênicas na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) apaixonou-se pelo teatro desde cedo, e começou a mostrar o seu talento na série “Os Buchas” (Multishow). Após ter pisado no tablado de um palco com “Improvável”, despertou a atenção, e lhe sobreveio convite para integrar o grupo DEZImprovisa. O trampolim para que o Brasil tomasse ciência de seu nato potencial artístico finalmente apareceu: a MTV. Tudo se iniciou com “Quinta Categoria”. Ao lado de uma nova geração de atores atrelados à comicidade como Marcelo Adnet, Dani Calabresa, Bento Ribeiro, Rafael Queiroga e outros, esbaldou-se no “Comédia MTV” (que mais tarde veio a se tornar “ao vivo”). Pronto. Público e crítica se renderam a ela, e como prova do que lhes falo internautas do site UOL a consideraram “a humorista mais engraçada do Brasil”. Quem há de duvidar da voz do povo? Como talento puxa outro, firmou dupla com Fabio Porchat em dois longas “Teste de Elenco” e “Podia Ser Pior” (com Fernando Caruso e Gregório Duvivier). Ambos dirigidos por Ian SBF (responsável pelo fenômeno do YouTube “Porta dos Fundos”). Com Ingrid Guimarães, experimentou o “sabor” de um “blockbuster” “De Pernas Pro Ar 2”, de Roberto Santucci. Ainda na MTV, acumulou o ofício de apresentadora do “Trolalá”. No verão, “esquentou” os telespectadores com “Tá Quente”. Arriscou-se no já estabelecido mundo digital como importante mídia (em associação com uma cervejaria) na websérie “Imagina a Festa, Imagina o Carnaval”. Há um projeto engatilhado para estrear em outubro próximo e ser exibido no Multishow, chamado “Sem Análise”, no qual fará vários tipos. E na mesma emissora paga, contracenou com Mônica Martelli em “Dilemas de Irene”. Com relação a Valdirene, há curiosidade: a moça que gosta de “palhacinhos de enfeite” pôde ser assistida na websérie “Brigas de Família”, no episódio “Mãe Quer Ficar Rica”, na TV Rio. Recebeu três prêmios por sua participação em “Avacalhados” (grupo de humor de improvisação), e angaria um sem número de indicações por demais trabalhos. Se há um substantivo que possa definir este texto, Tatá Werneck, Valdirene e a carreira da intérprete é a pureza. Escrevi este texto com pureza. Tatá Werneck é “interpretação pura”. Valdirene não é “periguete” e sim alguém em busca de um amor puro. E a carreira de Tatá é pura no sentido de que não há inverdades nos sucesso e ascensão. Torçamos para que Walcyr Carrasco se apiede de Valdirene e lhe dê uma “felicidade pura”.
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Sempre que o nome Maria Maya surge em ocasional conversa, inevitavelmente associamos a atriz carioca de belos sorriso e cabelos às suas personagens românticas na televisão, por vezes até rebelde, ou outra com determinado desvio de conduta, porém nada se compara ao papel que lhe foi presenteado por Walcyr Carrasco para a trama das 21h da Rede Globo, “Amor à Vida”. A boliviana Alejandra ocupa lugar de destaque na vasta galeria de tipos condenáveis do folhetim que não têm amor à vida. De algum modo, estou sendo até injusto com a irmã de Valentin (Marcelo Schmidt), pois à sua maneira sente um “amor estranho amor” pelo aventureiro Ninho (Juliano Cazarré), e muito, mas muito amor pelo dinheiro fácil. A moça dotada de melenas da cor da graúna e que se acoberta com ponchos multicoloridos mostrou-nos no introito da história que pareceria apenas ser uma jovem apegada aos costumes milenares peruanos, e que detinha um misticismo, uma aptidão sensitiva ou mediúnica que a fez levar Paloma (Paolla Oliveira) a um xamã, que previu uma “sombra” no caminho da ainda não pediatra ao gerar criança, mas que venceria os obstáculos que lhe sobreviriam. O que desconhecíamos era que Alejandra seria um desses obstáculos antevistos. Seu perfil assim começou a ser claramente definido ao tomarmos ciência de seu envolvimento com o tráfico internacional de substâncias ilícitas. E este mesmo “negócio” levou o seu amado até então com “dreads” a ver o Sol da Bolívia sob diferente prisma. Houve um interregno estratégico nas aparições de Maria no enredo, uma intérprete que venceu o “peso” de pertencer à família de competentíssimos profissionais. O curioso, entretanto, é que nunca se cobrou dela de forma pública acerca do fato, haja vista que Maya sempre respondeu a possíveis elucubrações com o seu talento e acertadas escolhas de trabalho, chegando inclusive a se afastar do veículo televisivo, uma mídia que ultrapassa os limites racionais da exposição. Há pouco tempo, na novela de Walcyr, Alejandra assustou o Brasil com os altos graus de frieza e crueldade ao mancomunar-se com “o destruidor de skates que odeia ratinhas” Félix (Mateus Solano), com o espúrio intuito de sequestrar Paulinha (Klara Castanho), a menina com dois pais e uma mãe. Sem contar as infindáveis situações que tentou aliciar o rapaz de barba espessa que “promete as estrelas” a quem ama a transgredir a lei, a fim de que “se desse bem”. Alejandra Reys Moreno “rasgou” o Estatuto da Criança e do Adolescente e jogou o Código Penal no primeiro “bueiro” que avistou ao cometer sequência de delitos capazes de fazer qualquer criminalista experiente franzir a testa: sequestro, cárcere privado, maus tratos, formação de quadrilha, tortura, falsidade ideológica, homicídio doloso, tentativa de homicídio e denunciação caluniosa. Ela foi o “bicho papão” de Paloma, de Bruno (Malvino Salvador), da família de ambos, de Paulinha, de Ciça (Neusa Maria Faro) e de nós, o público. “O bicho papão do horário nobre”. Após o malogrado sequestro, engendrou vingança sórdida (há vingança que não o seja?) ao “plantar” drogas na bolsa andina da filha de César (Antonio Fagundes). Hoje a doutora é “paciente” das barbaridades cometidas numa cela de prisão brasileira. E uma “clínica” psiquiátrica com métodos “tradicionais” (uma vergonha a ser banida do país) a aguarda. Tudo planejado (exceto a internação) entre uma baforada e outra de cigarro. Maria Maya certificou-nos uma vez mais sobre suas inquestionáveis potencialidades dramáticas já mostradas em outros folhetins, peças e filmes. A estreia na TV ocorreu em obra de Antonio Calmon, “Cara e Coroa”, contudo passou a ser reconhecida nacionalmente quando personificou a sonhadora e ingênua Kelly Bola de “Salsa e Merengue”, escrita por Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa. Depois de incursões em minisséries como “Hilda Furacão” e “A Muralha” e o seriado “Brava Gente”, retorna às telenovelas numa produção de época das 18h, “Chocolate com Pimenta”. Exibiu sensualidade e molejo como a sambista Regininha de “Senhora do Destino”. Sua voz serviu de instrumento para os inspirados diálogos de João Emanuel Carneiro em “Cobras & Lagartos”. E com Gloria Perez, foi hábil a ponto de nos comover, como Inês, com a sua rebeldia associada à solidariedade e equilíbrio com relação ao irmão esquizofrênico Tarso (Bruno Gagliasso), quando os seus pais não sabiam lidar com a questão, em “Caminho das Índias”. “Esbarrou” novamente com Falabella em “Aquele Beijo”. Em meio a tudo isso, em nenhum momento, desligou-se do teatro, sempre buscando textos que escapassem do lugar comum e tangenciassem o polêmico, o tabu: “Play”, baseado no “cult” de Steven Soderbergh “Sexo, Mentiras e Videotape”; “A Loba de Ray-Ban”; “Não Existem Níveis Seguros Para Consumo Destas Substâncias”, de Daniela Pereira de Carvalho; e por último, “Obituário Ideal”, tendo sido dirigida por Ivan Sugahara em dois deles (“Play” e “Obituário Ideal”). O cinema não ficou de fora, ao ser vista na “sequel” de “Se Eu Fosse Você” e no longa adaptado do sucesso dos palcos de Bosco Brasil “Tempos de Paz”. Com a atual Alejandra, Maria Maya assinou termo de compromisso de qualidade artística com os telespectadores. Com a sua touca e seu inseparável poncho o fato é que provável os incas, Cusco, Machu Picchu, Bolívia, São Paulo e o Rio de Janeiro nunca esperavam a “visita” de uma “santa” como Alejandra. Tampouco nós.








